Para que os negócios estejam sempre alinhados a princípios éticos e legais, um fator é fundamental: transparência. Os diferentes stakeholders devem estar plenamente cientes das ações e circunstâncias de uma empresa, para que se construa uma relação de confiança entre os envolvidos e haja lisura nas atividades empresariais. O desafio de muitos executivos, no entanto, é entender quais são os limites entre o que deve ser exposto e o que deve ser mantido em sigilo.
Uranio Bonoldi, especialista em carreira e negócios e autor do livro “Decisões de alto impacto – Como decidir com mais consciência e segurança na carreira e nos negócios”, destaca que a transparência deve ser obrigação dos executivos. “Muitas empresas tratam esse tema como valor, como diferencial, o que não é necessariamente errado, mas considero que seja algo a ser perseguido por todos os gestores”, diz. Empresas transparentes, que deixam clientes, colaboradores, fornecedores e demais parceiros cientes de seus planos e ações, asseguram sua credibilidade no mercado. “É dessa forma que as empresas evitam riscos desnecessários, bem como impedem que sua reputação seja manchada”, explica.
Transparência, contudo, não significa divulgar assuntos estratégicos. “É necessário uma análise profunda e honesta sobre o tema. Determinadas informações não devem percolar todos os níveis da instituição caso sejam segredos de P&D (pesquisa e desenvolvimento), por exemplo”. Ainda assim, o esclarecimento de que tais informações são sigilosas por decisões estratégicas é, por si só, um ato de transparência. “O que não pode ocorrer é a desonestidade de utilizar esse discurso das ‘decisões estratégicas’ para esconder atos que não visam nortear os princípios da boa convivência entre as partes relacionadas. A transparência parte, primeiro, da postura ética dos gestores”, ressalta o escritor.
O valor da informação na empresa
Os executivos das empresas devem garantir, além das informações que são obrigatórias por lei ou normas regulatórias, que os dados de interesse de seus stakeholders sejam transmitidos de forma clara e objetiva, a fim de proporcionar um negócio saudável e perene para todas as partes. “O objetivo é que todos os agentes envolvidos saibam o que esperar da organização e desempenhem bem seus papéis”, diz Bonoldi. E é importante frisar que a empresa tenha um canal de comunicação aberto entre ela e todos os parceiros e que os mantenha atualizado diariamente. “O que importa é a informação chegar aos interessados de forma correta, em linguagem acessível e o mais rápido possível”, pontua Bonoldi.
Exemplo: se uma empresa não informa aos seus fornecedores de eventuais situações, como a perda de um pedido relevante ou um aumento significativo de demanda, pode ser que os parceiros não tenham tempo hábil necessário para tomar as devidas providências, colocando em risco sua produção; do mesmo modo, se a empresa não informa o cliente de algum fator externo, como perda de recursos ou questões contratuais mal resolvidas, dificulta que a organização e o cliente encontrem um caminho paliativo para contornar o problema. “Por isso a transparência deve ser vista como um exercício de fundamental importância para o bom relacionamento entre as partes relacionadas, sob pena de a própria empresa perder sua reputação e se enfraquecer nos negócios”, finaliza o especialista.
Uranio Bonoldi é professor do Executive MBA da Fundação Dom Cabral, onde leciona sobre “Poder e Tomada de Decisão”.