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Fusão Nuclear: Um verdadeiro marco no futuro da produção de energia ? – Por Beatriz Canamary

Em Dezembro de 2022 cientistas norte-americanos relataram um avanço na investigação de fusão nuclear quando uma reação resultou num ganho de energia líquida. A fusão nuclear acontece quando dois ou mais átomos são fundidos em um maior – um processo que gera uma enorme quantidade de energia limpa que não polui a atmosfera e não produz material radioativo.

Em um ambiente de crises energéticas, escassez de combustível, catástrofes climáticas e apagões em todo o mundo, a possibilidade de abastecer o planeta com fusão nuclear é aparentemente positiva. Entretanto, especialistas têm advertido que há ainda um longo caminho a ser percorrido para tornar a fusão nuclear uma fonte de energia viável e limpa, enfatizando que as recentes notícias talvez não sejam exatamente a “descoberta” que esperavam.

A energia nuclear fornece atualmente cerca de 10% da eletricidade mundial a partir de cerca de 440 reatores de energia localizados em 32 países. No entanto, este método gera eletricidade dividindo átomos (também conhecidos como fissão nuclear).

Em vez disso, a fusão nuclear é um conceito relativamente novo, confinado em grande parte entre a comunidade científica, uma vez que ainda está por se tornar um método comercializado de produção de energia. Em resumo, a fusão nuclear é exatamente o oposto da fissão nuclear; em vez de se separarem, vários núcleos menores e mais leves, como o hidrogênio, são combinados para formar um núcleo mais pesado, como o hélio, que produz energia significativa durante o processo. Em outras palavras, a fusão nuclear gera energia combinando núcleos, e não, dividindo-os.

Os cientistas afirmaram que a reação poderia fornecer uma ampla energia limpa, que é vital para o futuro do planeta, e algumas das maiores economias desenvolvidas e emergentes do mundo, incluindo a UE, os EUA, a China, a Índia, o Japão, a Coreia e a Rússia, estão apoiando os esforços para expandir a fusão nuclear.

Em dezembro do ano passado, relatos de que uma reação de fusão nuclear bem sucedida alcançou um ganho líquido de energia nos EUA gerou grande entusiasmo entre a comunidade científica. O projeto – descrito como tendo “o poder do sol” – desencadeou discussões sobre a realidade de alimentar o mundo com fusão nuclear.

O National Ignition Facility (NIF) do Lawrence Livermore National Laboratory, na Califórnia, informou que os lasers transmitiram 2,05 milhões de joules (MJ) de energia, resultando numa libertação de 3,15 MJ de energia, gerando 54% mais energia do que a necessária para produzir a reação (processo conhecido como ‘ganho líquido de energia’).

A investigação sobre o processo de fusão nuclear ocorre desde o início da década de 1950, mas esta foi a primeira vez que o laboratório produziu mais energia do que consumiu. Inicialmente, a notícia foi aclamada como um “marco para o futuro da energia limpa”, mas os críticos salientaram as razões pelas quais este pode não ser um feito tão grande como parecia inicialmente, e fornecem explicações para o facto de a fusão nuclear não estar disponível em breve.

Em primeiro lugar, muitos salientaram que o projeto NIF está atrasado há vários anos e que inicialmente se destinava a alcançar a ignição até 2012; no entanto, os atrasos e a superação dos custos afetaram o alcance de um projeto bem sucedido.

Uma das principais explicações para isso é que o NIF não foi originalmente concebido com a eficiência necessária para a comercialização da energia de fusão nuclear, mas sim, para ser o maior laser construído capaz de fornecer os dados necessários para o programa de pesquisa nuclear.

No passado, esse projeto NIF foi atrasado por diversas vezes. Em 1997 a construção do NIF foi iniciada, mas quando entrou em funcionamento em 2009 quase nenhuma fusão foi atingida. Em 2014, foi anunciado o primeiro projeto bem sucedido, no entanto, a energia produzida foi quase insignificante.

Embora as notícias sejam positivas, este marco atingido ainda está muito longe do ganho energético real necessário para tornar a fusão nuclear uma fonte de energia viável e limpa.

Custou cerca de US$ 3,5 bilhões para construir a instalação e o custo para administrá-la é de cerca de US$ 350 milhões por ano. Era um projeto de ponta e de alto risco quando foi iniciado. Sete das 10 tecnologias críticas não existiam, tendo que ser criadas ao longo do caminho, através de investimentos do setor público.

Para avançar com a solução energética através de fusão nuclear, um ecossistema deve ser criado onde qualquer player do setor privado que queira comercializar a tecnologia possa contribuir. Parcerias público-privadas poderão ser um bom caminho. As empresas privadas de fusão nuclear têm necessidade de adquirir habilidades específicas que seriam proibitivas em termos de custo para se desenvolver por meio de uma estrutura de startup. Em parceria com os laboratórios elas podem adquirir tal capacidade e especialização.

O que é fato é que a fusão nuclear não se tornará um importante player do setor energético até 2060 ou 2070. Há etapas fundamentais necessárias antes que uma planta comercial possa iniciar sua operação de maneira eficaz. Os cientistas precisam aprender como replicar seu sucesso de forma consistente para gerar energia suficiente para uso em massa. E ainda precisam descobrir como aproveitar e transferir a energia criada pela fusão nuclear para as redes de distribuição existentes.

No final do dia, a fusão nuclear necessita de tempo e financiamento para atingir seu objetivo final.

*Artigo de Opinião – Por Beatriz Canamary, Mestre em Engenharia Civil (UFC), especializada em Fusões e Aquisições (Harvard Business School), doutoranda em Administração de Negócios (Rollins College, EUA), Membro do World Economic Forum e da Academy of International Business.

O conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião do ENB.

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