A imagem de uma imensa montanha de milho exposta ao tempo, capturada na Cooperativa Agropecuária Terra Viva, em Sorriso, Mato Grosso, ilustra um dos muitos desafios enfrentados pelo setor agrícola brasileiro: os gargalos de logística. Enquanto o país colhe a maior safra de grãos de sua história, problemas como a falta de silos de armazenagem e o congestionamento no transporte impedem um crescimento ainda maior do agronegócio.
As toneladas de milho expostas às condições climáticas adversas, como altas temperaturas, riscos de chuvas e ataques de pragas e roedores, refletem a escassez de estruturas adequadas para o armazenamento de grãos no país. Embora seja um problema recorrente, a situação se agravou este ano devido à supersafra de grãos e à queda nos preços das commodities, o que leva os produtores a segurarem as exportações à espera de uma recuperação dos preços.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deve produzir 128 milhões de toneladas de milho, considerando as três safras do ciclo 2022/2023, representando um crescimento de 13% em relação ao ciclo anterior, que já havia sido recorde. A safra total de grãos para o período 2022/2023 está projetada em 316 milhões de toneladas.
A Câmara Setorial de Armazenagem de Grãos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (CSEAG-Abimaq) destaca que o déficit de armazenagem de grãos no Brasil aumentou de 83 milhões de toneladas em 2022 para 118 milhões de toneladas este ano, também um recorde.
Enquanto a capacidade de armazenagem no país era de 75% a 80% da produção em 2021, nos Estados Unidos esse índice chega a 150%.
Os problemas logísticos também afetam o transporte. Com o aumento na colheita, há uma maior demanda por caminhões, resultando em aumento nos custos de frete e longas filas para embarque e desembarque de produtos. O impacto financeiro é sentido tanto pelos produtores quanto pelos consumidores.
A gigantesca safra tem contribuído para a redução da inflação no país, tornando a ração animal e o custo de produção de carnes mais acessíveis. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os preços das carnes já acumulam queda de quase 6% neste ano.
Além disso, a safra recorde impulsiona o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) além das expectativas e gera superávits recordes na balança comercial brasileira, colocando o país no caminho de se tornar o maior exportador mundial de milho, superando os Estados Unidos.