Após as inundações que afetaram a economia do Rio Grande do Sul, a abertura de microempreendedores individuais cresceu 4% em 2024, segundo dados divulgados pela Junta Comercial, Industrial e Serviços do RS (JucisRS).
Esse aumento reflete um total de 135.810 novos MEIs registrados entre janeiro e agosto, um número superior ao registrado no mesmo período de 2023, quando 130.529 negócios foram formalizados. Esse montante é o maior observado desde 2021, marcando uma importante fase de recuperação econômica no Estado.
O programa MEI RS Calamidades, criado como resposta às cheias, impulsiona diretamente esse movimento. Ele permite que pequenos empreendedores se formalizem e acessem uma série de benefícios e linhas de crédito oferecidas para ajudar na recuperação dos negócios. “Esse aumento demonstra a força do empreendedorismo gaúcho e a capacidade de adaptação frente às adversidades”, destaca Lauren Momback Mazzardo, presidente da JucisRS.
Recuperação econômica e busca por formalização de MEIs
O crescimento na abertura de MEIs reflete a necessidade de formalização por parte dos empreendedores, que buscam alternativas para retomar suas atividades. Vanessa Batisti, professora da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos, explica que cerca de 30 mil postos de trabalho formais foram fechados no Estado entre abril e junho de 2024. Muitos desses trabalhadores, forçados a encontrar novas fontes de renda, viram na formalização como MEI uma oportunidade.
“A modalidade MEI é menos burocrática e mais acessível para quem deseja se reinserir rapidamente no mercado”, afirma Vanessa.
Linhas de crédito e incentivos financeiros
A necessidade de formalização, aliada ao acesso a linhas de crédito com juros reduzidos e condições facilitadas oferecidas por programas de apoio, incentiva o aumento nos registros de MEIs. Segundo Giulia Mattos, especialista em MEIs do Sebrae-RS, essas medidas são fundamentais para garantir a sobrevivência dos pequenos negócios impactados pelas cheias.
“O apoio financeiro através de crédito diferenciado estimula a formalização de negócios que antes operavam de forma informal. Esses empreendedores buscam não apenas a legalização de suas atividades, mas também o acesso a recursos que permitam a recuperação de suas operações”, explica Giulia.
Impacto dos MEIs no consumo e na economia local
Mesmo assim, o aumento no número de MEIs também levanta preocupações em relação ao consumo e à economia local. Além disso, Vanessa Batisti ressalta que, embora muitos empreendedores tenham conseguido se formalizar, nem todos possuem a mesma estabilidade financeira que tinham quando estavam empregados formalmente. Consequentemente, isso pode impactar o consumo de bens não essenciais, assim reduzindo a movimentação de certos setores da economia.
Apesar desse cenário, o saldo de novos negócios segue positivo. Em 2024, foram extintos 75.799 MEIs, representando um aumento de 11,6% em relação ao ano anterior. Mesmo com esse crescimento nas extinções, o número de aberturas ainda supera o de fechamentos, garantindo um balanço positivo para o ano.
Perspectivas para os próximos meses
O ambiente de criação de MEIs no Rio Grande do Sul deve seguir aquecido nos próximos meses, segundo especialistas. Giulia Mattos, do Sebrae-RS, destaca que a aproximação das datas festivas pode impulsionar ainda mais o setor.
“A recuperação econômica e a criação de novos MEIs devem continuar, mas a estabilização dos padrões deve ocorrer apenas no segundo semestre de 2025”, avalia Giulia. Para ela, a busca por especialização e orientação através de órgãos como o Sebrae será fundamental para os novos empreendedores garantirem a sustentabilidade de seus negócios no longo prazo.