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Como contratos forjados causaram a crise financeira nas Americanas

Relatório revela fraude na Americanas, que forjava contratos para manipular resultados financeiros e adiar obrigações com fornecedores e credores.
Americanas - Miguel G Urgente: Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas é preso na Espanha - Polícia Federal - Conselho de administração - Americanas - crise financeira Americanas
(Imagem: divulgação/Americanas)

Um relatório recente divulgado pelo comitê independente que investigou a fraude e a crise financeira na Americanas revelou práticas fraudulentas usadas pela empresa para manipular seus resultados financeiros. A empresa teria forjado contratos com fornecedores e operação de operações de risco sacado para adiar suas obrigações financeiras, escondendo assim sua real situação contábil.

Em janeiro de 2023, a Americanas trouxe ao público um esquema de fraude que teria ocultado um rombo de R$ 25,3 bilhões em seu balanço, causando uma crise financeira. Desde então, uma extensa equipe de investigação revisou 74 terabytes de dados, 1,2 milhão de documentos e entrevistou aproximadamente 250 pessoas, incluindo funcionários, ex-funcionários e terceiros para apurar os fatos

Na época, a Americanas citou “inconsistências em lançamentos contábeis redutores de contas fornecedores realizados em exercícios anteriores”. Em outras palavras, a empresa estaria relacionando a entrada de dinheiro que, na realidade, nunca existiu.

VPCs forjados e manipulação de resultados

O relatório da investigação revelou que a empresa utilizou contratos de palavra de propaganda cooperativa (VPC) forjados para melhorar seus resultados financeiros. Um varejista e seus fornecedores firmam os VPCs para promover produtos nas lojas e reduzir parte do custo de compra.

No entanto, uma comissão independente constatou que a empresa não pagou ou abateu muitos desses contratos dos valores negociados. De acordo com o relatório, faltavam provas documentais para sustentar os lançamentos contábeis. A investigação aponta que a empresa não pagou contratos celebrados desde 2016.

A KPMG, consultoria de varejistas à época, informou não ter encontrado evidências de acordos válidos com fornecedores, tampouco registros de abatimentos de valores.

Como a Americanas manipulou os resultados?

Os VPCs geravam saldos na conta de fornecedores da Americanas. A varejista inicialmente compilou seu fechamento financeiro sem considerar os VPCs forjados. Posteriormente, esses foram ajustados de acordo com os resultados esperados pelo mercado. Em um e-mail divulgado no relatório, um funcionário afirmou:

 “Registramos um VPC para alcançar nossas margens. Como ainda não temos todas as cartas do VPC, mostramos todas as cartas. O que não temos, tiro das contas a receber e coloco no fornecedor”.

A empresa rotulava os contratos que sabia que não seriam pagos como VPC B, VPC extra, carta falsa ou carta ruim. Como resultado, ela superfaturava seus relatórios, subestimando custos e despesas, enquanto reduzia as contas de fornecedores.

Risco sacado e postergação de pagamentos

Além de maquiar os resultados, a Americanas buscava formas de adiar o pagamento de suas obrigações para diminuir o consumo de caixa e ocultar a manipulação de suas contas. Para isso, a empresa corrige operações de risco sacado, um método que envolve a antecipação de recebíveis e a participação de instituições financeiras para postergar os pagamentos.

A investigação mostrou que, entre 2008 e 2022, a Americanas realizou 36 operações de risco sacado, com 32 aditivos contratuais, junto a 15 instituições financeiras e dois fundos de investimento. Um varejista negociava frequentemente o alongamento dos prazos dessas operações, inclusive utilizando títulos já vencidos como garantia, acumulando despesas com os reembolsos aos fornecedores.

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