O Banco Central do Brasil (BC) informou nesta terça-feira (4) que as expectativas de inflação aumentaram de maneira expressiva nos últimos meses. Esse aumento se estende a horizontes de curto, médio e longo prazo. A análise foi divulgada na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, quando a taxa Selic subiu de 12,25% para 13,25% ao ano, marcando a quarta alta consecutiva.
A ata do Copom destacou que esses números são calculados a partir de diferentes instrumentos e refletem a avaliação de diversos agentes financeiros. Além disso, o documento aponta que o aumento nos preços dos alimentos foi importante, impulsionado por fatores como a estiagem prolongada ao longo do ano e o aumento no preço das carnes, afetado pelo ciclo do boi.
“Esse aumento tende a se estender para o médio prazo devido à presença de mecanismos inerciais na economia brasileira”, destacou a ata do Copom.
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Ata do Copom: Selic deve seguir em alta nos próximos meses?
O BC também observou que a recente valorização do dólar está pressionando os preços e as margens de lucro, o que pode resultar em novos aumentos nos preços dos produtos industrializados nos próximos meses. A expectativa do mercado é que a Selic ultrapasse 15% ao ano até meados de 2025, atingindo o maior patamar em quase duas décadas.
Esta foi a primeira reunião do Copom sob a liderança de Gabriel Galípolo, novo presidente do Banco Central do Brasil, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também foi o primeiro encontro em que os diretores indicados por Lula formaram maioria no colegiado, influenciando diretamente a decisão de aumentar os juros.
Meta de inflação pode ser descumprida
A ata do Copom alertou que, caso as projeções atuais se concretizem, a inflação acumulada em 12 meses deverá ultrapassar o limite superior da meta por seis meses consecutivos. A partir de 2025, será implementado o novo sistema de meta contínua de inflação. O objetivo será manter o índice em 3%, com uma faixa de tolerância entre 1,5% e 4,5%.
Caso a inflação permaneça fora desse intervalo por mais de seis meses, o Banco Central do Brasil terá que enviar uma carta pública ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando as razões do descumprimento da meta. O documento deve detalhar as causas do desvio, as medidas para correção e o prazo esperado para que a inflação volte aos níveis estipulados.
A ata do Copom apontou críticas à política fiscal do governo
O Copom também manifestou preocupações com a condução da política fiscal. Criticou o impacto das decisões dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento sobre o equilíbrio das contas públicas. De acordo com o BC, a percepção negativa sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida pública tem influenciado os preços dos ativos, como juros futuros e dólar.
O Comitê destacou que a diminuição do ritmo das reformas estruturais, o aumento do crédito direcionado e as incertezas em relação à estabilização da dívida pública podem elevar a taxa de juros neutra da economia. Isso compromete a eficácia da política monetária e eleva o custo do controle da inflação.
Qual o impacto das decisões do BC para o futuro?
A Selic é a principal ferramenta do Banco Central do Brasil para conter a inflação. Quando as projeções inflacionárias superam a meta estabelecida, a instituição tende a manter ou elevar os juros. Desde 2025, o novo sistema de meta contínua determina que a inflação deve oscilar entre 1,5% e 4,5% para ser considerada sob controle.
O BC já sinalizou que planeja uma nova alta na taxa básica de juros, para 14,25% ao ano, na próxima reunião prevista para março. A magnitude dos aumentos futuros dependerá da evolução da inflação e do compromisso da autoridade monetária com o cumprimento da meta.
As projeções para os próximos anos também são motivo de preocupação. Para 2025, o mercado espera uma inflação de 5,51%, superando o teto da meta. Nos anos seguintes, as projeções são de 4,28% para 2026, 3,90% para 2027 e 3,74% para 2028, todas acima do centro da meta de 3% definido pelo BC.
Fatores externos e câmbio influenciam o cenário inflacionário
O BC, na ata do Copom, também ressaltou que o ambiente internacional continua incerto, com desafios econômicos e geopolíticos relevantes. O Comitê prevê uma desaceleração gradual da economia dos Estados Unidos. No entanto, alertou para novos riscos, como políticas fiscais expansionistas, restrições na oferta de trabalho e possíveis tarifas sobre importações.
No mercado interno, a taxa de câmbio tem reagido a notícias sobre a política fiscal brasileira e os desdobramentos da economia norte-americana. O BC destacou que decisões políticas nos Estados Unidos podem pressionar os preços dos ativos domésticos, o que pode agravar ainda mais o quadro inflacionário.
Diante desse cenário, o Banco Central do Brasil, através da ata do Copom, reforça a necessidade de uma política monetária rigorosa para garantir a estabilidade econômica e o controle da inflação nos próximos anos.