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Paz nos números, caos nos negócios: Governo do Ceará perde o controle para facções

O Governo do Ceará celebra a redução da criminalidade, mas a realidade nas comunidades para os empreendedores é diferente. Bairros como Pirambu e Bom Jardim estão sob o domínio de facções, com medo que silencia moradores. Enquanto as estatísticas mostram queda nos crimes, o cotidiano enfrenta fechamento de comércios e "taxas de segurança", colapsando a economia local e ocultando o controle do crime.
Mapa do Ceará com a distribuição territorial do domínio das facções no Ceará, incluindo PCC, CV e GDE em diferentes regiões do estado.
O Ceará enfrenta uma nova ameaça — discreta, organizada e muitas vezes encoberta pela aparência de legalidade. (Imagem: Reprodução WEB)

O Governo do Ceará comemora quedas percentuais na criminalidade como se fossem vitórias da segurança pública. Contudo, ao percorrer bairros como Pirambu, Vila Velha, Barroso, Sapiranga, Edson Queiroz, Bom Jardim e outros, fica evidente: enquanto os números silenciam, o medo grita. Na prática, o domínio das facções no Ceará impõe suas próprias regras, intimida o comércio local e sufoca o desenvolvimento — afetando desde micro e pequenos negócios até empresas de médio e grande porte. Mesmo assim, os relatórios oficiais continuam destacando redução da violência — um retrato tecnicamente positivo, mas que está longe de refletir a dura realidade das periferias.

O domínio das facções no Ceará silencia estatísticas, mas sufoca os bairros

Entre janeiro e maio de 2025, o Ceará registrou “oficialmente” uma queda de 18,3% nos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI), em comparação ao mesmo período de 2024. Em abril, o recuo divulgado foi ainda mais expressivo: o número de mortes caiu de 320 para 202, representando uma retração de 36,9%.

A Secretaria da Segurança Pública também apontou redução de 25,5% nos Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVP). No entanto, comerciantes e moradores afirmam que esses números não refletem a realidade nas comunidades. Para eles, a sensação de insegurança permanece — e, em muitos casos, aumenta — diante do avanço silencioso das facções nos bairros.

“Aqui ninguém registra BO. Porque se registrar, a facção descobre”, relatou um comerciante da zona oeste de Fortaleza, sob anonimato.

A lógica é clara: quanto mais absoluto o domínio territorial, menor o número de conflitos visíveis. E menos dados aparecem nas planilhas oficiais.

O Ceará não para. Quem não para é o crime organizado

No discurso institucional, “o Ceará não para, não para. Mas, nas comunidades, o que realmente não para é o avanço do controle exercido pelas facções que prejudica o surgimento ou crescimento dos negócios.

Comerciantes são obrigados a pagar “taxas de segurança”. Empresas de internet foram atacadas por não cederem. Restaurantes evitam funcionar após o anoitecer. O transporte público circula com receio. E motoristas de aplicativo recusam corridas para certas regiões.

E quem tem coragem de ir fazer negócios nos bairros de Fortaleza?

“Queria ver se o deputado que disse, esses dias, que o Ceará é um estado seguro tem coragem de andar às 19h no Pirambu?”, provoca um comerciante local do Pirambu.

O medo impõe o fechamento. O crime impõe o controle. E a economia local entra em colapso.

Prisões recordes? Só nos números, não nas estruturas

De janeiro a maio de 2025, o estado prendeu 1.144 pessoas por homicídio, aumento de 24,9%. Também autuou 721 indivíduos por participação em facções criminosas — alta de 44,8%. Porém, nenhuma organização foi desarticulada, nenhuma célula logística urbana foi desmantelada, e nenhum estoque urbano relevante foi apreendido em Fortaleza.

As apreensões feitas foram dispersas e pontuais:

  • 60 kg de cocaína + 38 kg de maconha em abril
  • 20 kg de maconha no litoral oeste (Trairi e Paraipaba, maio)
  • 6 kg em Iguatu (30 de maio)
  • 145 kg de cocaína em Crateús (junho) — escondidos em fundo falso de caminhão

Para uma capital como Fortaleza, os volumes são irrisórios diante do tamanho do tráfico operante. O que se apreende é o que escapou. Não o que foi interrompido.

Porto do Pecém: exceção que confirma o fluxo ativo

No início de fevereiro, a Receita Federal apreendeu 133,5 kg de cocaína em um contêiner com destino à Europa, no Porto do Pecém. A droga estava escondida em polpa de manga. Foi a única apreensão portuária de grande volume no semestre.

Não houve mudanças estruturais ou reforço de segurança visível. Para analistas, a operação reforça a tese de que o fluxo logístico do tráfico no Ceará segue praticamente intacto.

Facções dividem territórios — e o governo assiste

Fortaleza é loteada. GDE, PCC e Comando Vermelho atuam em áreas distintas:

  • A GDE domina bairros do litoral oeste e interior norte, com histórico de expulsão de famílias e comerciantes.
  • O Comando Vermelho avança sobre bairros da zona sul, com disputas pontuais e domínio em formação.
  • O PCC atua com perfil empresarial, estruturando operações financeiras.

Nenhuma dessas facções foi desarticulada em 2025. Assim, as zonas de domínio seguem operando com estabilidade operacional e silêncio público.

Mesmo com prisões no Rio, o domínio das facções no Ceará continua operando

Em março, uma megaoperação policial revelou que 29 integrantes do Comando Vermelho, oriundos do Ceará, estavam refugiados na Rocinha, no Rio de Janeiro. Durante a ação, as autoridades apreenderam fuzis, munições e mais de 200 kg de drogas. No entanto, apesar do aparente sucesso da operação, apenas um dos foragidos foi preso — o que reforça a percepção de continuidade das operações criminosas, mesmo diante de ações pontuais da polícia.

“Foi para dar satisfação. A estrutura não caiu”, destacou um policial militar sob anonimato. A facção continua operando. Do Ceará, para o Rio. Do Rio, para o Brasil.

Confira no vídeo sobre a operação contra facções do Ceará na Rocinha, no RJ:

Fintechs, galpões e o novo disfarce de legalidade

A reportagem do Economic News Brasil, intitulada “Dinheiro do PCC”, expõe uma realidade cada vez mais presente: o dinheiro das facções agora circula por vias formais. Esse movimento evidencia uma mudança na estratégia do crime, que agora está operando com estrutura empresarial. Como consequência, o Ceará enfrenta um novo tipo de ameaça — mais silenciosa, sofisticada e, muitas vezes, blindada por aparências de legalidade.

Empresas legalizadas, fintechs próprias, investimentos em imóveis, como mansões no municípios do Euzebio, galpões comerciais e fundos de investimentos servem para lavar dinheiro com aparência lícita.

“Antes, o crime dominava os bairros com medo. Agora, chega à Aldeota com ostentação”, diz um empresário.

No mundo corporativo, empresas e grupos empresariais preocupados já começaram a exigir cláusulas de compliance em contratos com fornecedores. Imobiliárias já investigam a origem de clientes que chegam dispostos a investir alto — sem histórico, sem referência.

Além disso, outro ponto que merece atenção é o domínio das facções no Ceará durante os períodos eleitorais — especialmente nas eleições municipais mais recentes, onde a influência foi evidente em diversos municípios. Ao mesmo tempo, o financiamento de campanhas políticas por esses grupos já é alvo de investigações há vários anos. Em muitos casos, esse apoio está vinculado ao controle de licitações públicas, funcionando como uma espécie de “cashback” para o crime organizado.

Os dados que não viram manchete no Ceará

  • Em 2024, foram apreendidas 10,67 toneladas de drogas no Ceará — recorde histórico.
  • Em 2025 (jan–maio), só foram apreendidos:
    – 303 kg de cocaína
    – 64 kg de crack
    – 1.379 kg de maconha e haxixe
  • O estado realizou apenas uma queima de drogas neste ano — 4,2 toneladas incineradas no início de 2025 (resquício de apreensões antigas).

Apesar dos números, a proporção entre apreensão e circulação aponta que 95% a 99% das drogas continuam chegando ao destino. Ou seja: a operação não foi bloqueada — apenas picotada.

Como o domínio das facções no Ceará afeta o pequeno empreendedor

O domínio das facções no Ceará não é apenas uma questão de segurança pública. É uma ameaça direta à economia. Os reflexos são claros:

  • Fechamento precoce de comércios nos bairros
  • Medo da clientela em circular
  • Ausência de fluxo noturno em áreas comerciais
  • Investidores e empresários com receio de parcerias contaminadas
  • Recuo da livre iniciativa nos bairros dominados

Cai número de tiroteios e cresce o domínio total

Enquanto isso, o governo prefere comemorar quedas percentuais, mesmo com bairros inteiros sob controle informal de grupos armados. Paralelamente, a economia informal do crime avança. Como efeito colateral, o setor produtivo sente diariamente os impactos de uma realidade que não aparece nos relatórios da SSPDS.

Em outras palavras, o que efetivamente caiu foi o número de tiroteios — porém, o que cresceu foi o domínio das facções no Ceará.

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