A tarifa de Trump contra o Brasil, anunciada em 50% sobre as importações a partir de 1º de agosto, expôs não apenas uma tensão diplomática, mas, segundo o economista Sérgio Melo, da SM Consultoria, um erro estratégico grave. Em entrevista exclusiva ao Economic News Brasil, o presidente da Academia Cearense de Economia foi direto: “Trump misturou política com economia e errou feio com o Brasil”.
Tarifa de Trump contra o Brasil ignora equilíbrio comercial
A crítica veio após a divulgação da carta enviada por Trump ao governo brasileiro, onde o mandatário norte-americano justificava a nova tarifa de 50% com base em sua insatisfação política com decisões do STF, além de críticas ao processo judicial contra Jair Bolsonaro.
“Tarifa é questão de macroeconomia. Política é outra coisa. Ele misturou as duas e descredibilizou a medida econômica ao transformar em ataque ideológico”, disse Melo.
A motivação original da tarifa de Trump contra o Brasil, segundo ele, está ligada ao risco real de colapso fiscal dos Estados Unidos.
“O déficit anual já se aproxima de US$ 2 trilhões, e a dívida pública acumulada pode ultrapassar US$ 13 trilhões adicionais na próxima década se nada for feito”, explica.
Para Melo, o governo Trump busca reduzir o desequilíbrio incentivando produção interna e desencorajando importações.
“É como um médico que diz: ou corta o braço, ou morre. Ele precisa de medidas drásticas. Mas isso não justifica jogar política no meio. A carta foi um erro crasso”, analisa o economista.
O economista destaca ainda que os EUA exportam mais para o Brasil do que o contrário. “Eles têm superávit de US$ 300 milhões. A balança comercial está a favor deles. Então por que nos taxar?”, questionou Melo sobre a real justificativa econômica da tarifa de Trump contra o Brasil.
Impactos da tarifa de Trump contra o Brasil nas exportações brasileiras
No centro do debate estão os efeitos concretos da medida. Segundo dados da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), entre janeiro e maio de 2025, 79% das exportações brasileiras para os EUA foram compostas por bens industriais — incluindo aeronaves, combustíveis, alimentos processados, químicos e máquinas.
“Muitos desses itens continuarão sendo exportados, mesmo com a tarifa. O café, a laranja, são produtos que eles não deixam de importar. Alguns produtos são inelásticos. Eles vão pagar mais caro, mas vão continuar comprando”, explicou Melo.
No entanto, ele alerta: há setores vulneráveis. “Aqueles que vendem por causa de preço, como o pescado, vão sofrer. Em 2006, eu exportava camarão pela SM Trading. Quando os EUA aplicaram antidumping, perdi margem e parei. Fui vender para a Europa. É a lógica do mercado.”
Setor de pescados é o mais impactado pela tarifa de Trump contra o Brasil
A afirmação é reforçada pelos dados da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca). Segundo a entidade, o mercado americano responde por 80% das exportações brasileiras do setor, com uma receita de US$ 244 milhões. Os produtos mais exportados incluem lagosta do Ceará, tilápia do Sul e Sudeste, pargo do Pará, corvina e atum. As indústrias já começaram a cancelar contratos e embarques.
“Os contêineres levam 20 a 40 dias para chegar lá. Se não der tempo antes de 1º de agosto, será prejuízo certo. Para peixes frescos, o comércio será interrompido nas próximas semanas”, apontou a Abipesca.
No agronegócio, os mais afetados devem ser carne bovina, suco de frutas e café. Esses produtos lideraram o crescimento das exportações para os EUA entre janeiro e maio: carne com alta de 196%, sucos com 96,2% e café com 42,1%. Ainda assim, Melo pondera que “parte dessas vendas é redirecionável. Dá trabalho, mas o mundo não acaba nos EUA”.
Mistura de política com economia afeta empregos e renda no Brasil
O impacto mais sensível, segundo ele, está no emprego. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que, em 2024, cada R$ 1 bilhão exportado aos EUA gerou 24,3 mil empregos no Brasil, R$ 531,8 milhões em massa salarial e R$ 3,2 bilhões em produção. “É isso que está em jogo.”
Sérgio Melo também critica a ideia de reciprocidade. “Aplicar tarifa de 50% nos produtos americanos seria um tiro no pé. Afeta importações essenciais, aumenta o custo de produção e empurra a inflação para cima. Seria castigar o povo brasileiro.”
Reação do Brasil: reciprocidade pode elevar inflação
Do ponto de vista inflacionário, o economista foi é taxativo: “Se for só a tarifa americana, o efeito macroeconômico é pequeno. Mas se o Brasil revidar, aí sim vira um problema. Há insumos que vêm dos EUA que são base para nossa produção. Subir tarifa neles encarece tudo”.
A entrevista também abordou soluções alternativas. Melo defende a busca de novos mercados e o uso de triangulações via países vizinhos.
“Já exportei pescado para o Uruguai que reembalava e mandava pros EUA. Isso é feito. Mas exige logística e custo.”
Alternativas: triangulação e novos mercados
A entrevista também abordou soluções alternativas. Melo defende a busca de novos mercados e o uso de triangulações via países vizinhos.
“Já exportei pescado para o Uruguai que reembalava e mandava pros EUA. Isso é feito. Mas exige logística e custo.”
Sérgio Melo sugere que parte das exportações afetadas pode ser redirecionada para parceiros do Mercosul ou outros grandes compradores, como China e União Europeia. “Tem produto que precisa de certificação de origem, mas tem jeito. É só não ficar parado.”
Elon Musk critica projeto de Trump e alerta para risco fiscal
Além disso, há o debate político interno nos EUA. No último mês de junho, após deixar o governo, Elon Musk criticou duramente o projeto de lei orçamentária de Trump.
“É repugnante, escandaloso e eleitoreiro”, disse o bilionário, alertando que a proposta aumentará o déficit americano em US$ 2,5 trilhões.
“Isso sobrecarregará os americanos com uma dívida esmagadoramente insustentável”, afirmou Musk, que chegou a acusar Trump e o Congresso de estarem “levando os Estados Unidos à falência”.
Tarifa de Trump contra o Brasil exige resposta diplomática estratégica
Mesmo diante do impacto, Melo aposta na reversão diplomática: “Se a diplomacia brasileira atuar bem, sem bravata, a tarifa pode cair. Mas tem que ser com inteligência, não com enfrentamento.”
Para ele, a medida não inviabiliza as exportações brasileiras, mas exige reação coordenada: “Essa medida foi ruim, foi. Mas não inviabiliza o Brasil. Temos mercado, temos produto. O que falta é estratégia”, destacou Sérgio Melo sobre as tarifa de Trump contra o Brasil.
Entrevista com Sérgio Melo será destaque no Diálogo Empreendedor
O economista Sérgio Melo será o entrevistado do programa Diálogo Empreendedor do próximo domingo (13/07), às 9h da manhã, com reprise às 19h, pela TV União, em sinal aberto para Fortaleza, Brasília, Rio Branco e também na Claro TV. Além disso, o conteúdo completo estará disponível no canal do Economic News Brasil no YouTube, onde Sérgio abordará não apenas sua trajetória empresarial, mas também os desafios da conjuntura econômica nacional e global, sua visão sobre o futuro dos mercados.
Para assistir e acompanhar os episódios anteriores e os próximos, acesse e inscreva-se gratuitamente em canal: https://www.youtube.com/@economicnewsbrasil