O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (30/07) manter a taxa Selic em 15% ao ano, o maior patamar desde julho de 2006, quando estava em 15,25%. A decisão foi unânime entre os membros do colegiado e marca o encerramento do ciclo de sete altas consecutivas iniciado em setembro de 2024. No comunicado, o Banco Central evita qualquer sinalização de corte, indicando que os juros permanecerão elevados “por tempo suficiente para ancorar expectativas e consolidar o processo desinflacionário”.
Selic alta encarece o crédito e atrai capital estrangeiro
Com a taxa Selic em 15%, o Brasil mantém uma das maiores remunerações reais do mundo, o que favorece a renda fixa e mantém pressão sobre a bolsa de valores. Para o investidor estrangeiro, o cenário é ainda mais atrativo: juros altos aumentam o retorno em reais e podem estimular a entrada de dólares, ajudando a conter a volatilidade cambial. Por outro lado, o efeito colateral é claro: empréstimos e financiamentos continuam caros, freando o consumo e os investimentos produtivos.
Segundo o comunicado oficial, a decisão considera o cenário ainda incerto para a inflação, o câmbio pressionado e os efeitos do tarifaço anunciado pelos Estados Unidos, que impõe 50% de imposto sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
Economic News Brasil ouviu com exclusividade dois especialistas sobre a decisão do Copom
O Economic News Brasil ouviu com exclusividade dois especialistas sobre os impactos da manutenção da Selic. Pedro Brandão, empresário e especialista em finanças, e Geldo Machado, presidente do Sinfac (CE, PI e MA e RN), analisaram a decisão do Banco Central e os reflexos diretos sobre o crédito, o câmbio e a atividade econômica.
Pedro Brandão: “Taxa é dura, mas necessária para não perder o controle”
Para o empresário Pedro Brandão, especialista em finanças e CEO da CredÁgil, a decisão era inevitável.
“O Banco Central age com responsabilidade. A inflação segue pressionada, o câmbio instável e o tarifaço dos EUA pode piorar o quadro. Cortar agora seria perder o controle de tudo”, afirmou.
Ele lembra que o IPCA acumulado em 12 meses está em 5,35%, acima do teto da meta. “A Selic em 15% segura a escalada inflacionária, protege o real e transmite credibilidade. É uma taxa dura, mas necessária neste momento”, completa Brandão.
Geldo Machado: “Juros altos penalizam, mas são necessários neste momento”
Já para o ex-banqueiro Geldo Machado, presidente do Sinfac, a decisão é amarga, mas inevitável.
“O setor produtivo sofre com o crédito caro. Mas o pior seria desorganizar ainda mais as expectativas. O mercado precisa de previsibilidade. A manutenção da Selic garante isso por enquanto“.
Segundo Machado, o tarifaço de 50% imposto pelos EUA sobre produtos brasileiros — com início em 1º de agosto — representa um novo vetor de incerteza. “Se a Selic caísse agora, o real se desvalorizaria ainda mais. Isso encareceria insumos, aumentaria a inflação e colocaria o setor produtivo em risco”, alerta.
Fed também manteve juros; corte da Selic só em 2026
Coincidentemente, no mesmo dia, o Federal Reserve — banco central dos Estados Unidos — também manteve os juros entre 4,25% e 4,5%, frustrando os pedidos do presidente Donald Trump por cortes agressivos. O movimento coordenado das autoridades monetárias reforça o clima de prudência global frente à inflação e à instabilidade dos fluxos internacionais.
Projeções da Selic: cortes só no final de 2026
No Brasil, as expectativas agora se voltam para 2026. O Boletim Focus projeta Selic em 12,5% no fim do próximo ano. “Não há espaço para cortes antes de o IPCA cair com consistência e as expectativas se reancorarem”, reforça Pedro Brandão.
Conclusão técnica
A manutenção da Selic em 15%, com decisão unânime, mostra que o Banco Central prioriza a estabilidade em um ambiente de múltiplas pressões — inflação resistente, tarifaço americano, desconfiança fiscal e câmbio oscilante. Para Pedro Brandão e Geldo Machado, a medida evita erros que poderiam custar caro ao país. A política monetária, por ora, continua restritiva. O corte nos juros pode vir — mas só quando o Brasil recuperar a confiança nos fundamentos.