A entrada em vigor das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, marcada para 06 de agosto, acendeu um alerta na indústria nacional — especialmente no Ceará. Com 51,9% de suas exportações destinadas ao mercado americano, o estado é o mais exposto à medida. Diante desse cenário, a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) liderou uma comitiva de empresários em Brasília, nesta terça-feira (29/07), para uma reunião com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin.
A pauta foi clara: alinhar estratégias para reduzir os impactos da medida sobre o setor produtivo do Ceará e proteger os empregos gerados pelas exportações industriais. Participaram também representantes da FAEC, da ArcelorMittal Pecém e de cadeias como pesca, calçados e castanha de caju — segmentos diretamente afetados pela nova política tarifária americana.
Grupo de trabalho vai propor soluções a partir de 1º de agosto
Como resultado do encontro, foi criado um grupo de trabalho conjunto entre o Governo Federal, entidades empresariais e técnicos do MDIC. A missão é articular uma reação coordenada com base em dados estratégicos para defender as exportações brasileiras e preservar a competitividade das empresas do Ceará.
Segundo a FIEC, as novas tarifas devem provocar um impacto potencial elevado. Ele afeta não apenas o volume exportado, mas também toda a cadeia industrial ligada ao comércio com os EUA. A preocupação se intensifica pela concentração de exportações em produtos semiacabados e alimentícios, que podem perder competitividade com a nova tarifa.
FIEC reforça papel da indústria na economia cearense
O presidente do Sistema FIEC, industrial Ricardo Cavalcante, destacou a importância de uma resposta unificada. “Temos mais de 378 mil empregos com carteira assinada só na indústria do Ceará, o que representa 30,2% dos postos formais no estado. É uma responsabilidade enorme. Por isso, FIEC, FAEC e empresários estão de mãos dadas para lidar com esse desafio com clareza, dados e ação coordenada”, afirmou.
Ele alertou que exportar não é simplesmente mudar de destino. “Exige regulamentações sanitárias, ambientais e estruturais. Não se muda da noite para o dia”, pontuou. Segundo Cavalcante, os setores de pesca e calçados, que concentram cerca de 150 mil empregos diretos, são os mais vulneráveis à ruptura com o mercado americano.
Observatório da Indústria, da FIEC, vai monitorar efeitos em tempo real
A FIEC utilizará o Observatório da Indústria do Ceará, em parceria com o Centro Internacional de Negócios (CIN), para monitorar os impactos da medida em tempo real e identificar oportunidades de diversificação de mercados.
“Isso nos dá base para discutir com profundidade, propor medidas técnicas e agir com responsabilidade”, explicou Cavalcante.
Além disso, o observatório já iniciou o mapeamento de rotas alternativas de exportação e setores que possam absorver o excedente da produção cearense em caso de retração nas compras pelos EUA.
Diálogo com os EUA ainda é prioridade
Mesmo com a proximidade da vigência da tarifa, o diálogo com os Estados Unidos permanece aberto. Cavalcante acredita que ainda é possível construir soluções por meio da diplomacia comercial.
“O vice-presidente tem trabalhado intensamente, e nós também. No Ceará, acompanhamos de perto os efeitos sobre os maiores exportadores, em busca de alternativas técnicas e políticas”, destacou Ricardo Cavalcante.
O Sistema FIEC espera que, mesmo com a vigência das tarifas, os dois países negociem ajustes com base em interesses mútuos. Da mesma forma, setores empresariais americanos também demonstraram preocupação com os efeitos da medida sobre suas cadeias de suprimento, o que pode influenciar futuras decisões.