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Dinheiro do PCC passou por 8 fintechs que movimentaram R$ 28 bilhões

O uso de fintechs por organizações criminosas, como o PCC e o Comando Vermelho, movimentou R$ 28,2 bilhões em seis anos. Essas instituições digitais facilitaram a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas, criando um sistema que escapa da regulação. Com a falta de verificações rigorosas, o crime organizado se adapta rapidamente, apresentando um cenário alarmante. Descubra como a tecnologia financeira se tornou aliada do crime e os riscos para o sistema financeiro brasileiro.
Dinheiro do PCC movimentado por fintechs com cédulas de reais e criptomoedas
Dinheiro do PCC foi movimentado por fintechs com uso de cédulas em espécie, aplicativos bancários e criptomoedas, segundo investigações. (Imagem: Ilustrativa)

O uso de tecnologia financeira por organizações criminosas atingiu um novo patamar. Por isso, investigações da Polícia Federal e dos Ministérios Públicos de São Paulo e do Rio de Janeiro revelam o envolvimento de oito fintechs brasileiras. Conforme os dados, o dinheiro do PCC e do Comando Vermelho passou por essas plataformas em um esquema que movimentou R$ 28,2 bilhões em seis anos. Além disso, essas instituições digitais teriam facilitado a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas por meio de operações forjadas, contas laranja, criptomoedas e do uso de inteligência artificial.

Segundo investigação publicada pelo O Globo, as fintechs atuavam como intermediárias no sistema bancário paralelo. Elas simularam transações comerciais e forjaram empréstimos para ocultar a origem dos recursos. Em seguida, converteram parte significativa do capital ilegal em bitcoins e outras moedas digitais, o que dificultou o rastreamento pelas autoridades.

Dinheiro do PCC circula com laranjas e criptomoedas

O modelo adotado por essas empresas financeiras digitais favorece o crime organizado pela facilidade de abertura de contas com pouca ou nenhuma verificação. Em diversos casos, foram usados nomes de pessoas falecidas ou documentos falsificados, criando uma rede de contas digitais de fachada. Esses perfis serviam como base para aplicar o dinheiro do tráfico em operações aparentemente legítimas, que iam desde empréstimos pessoais até investimentos em criptoativos.

Com a conversão dos valores em criptomoedas, o dinheiro do PCC escapava do sistema tradicional. Na sequência, era transferido para corretoras internacionais. Esses recursos ingressavam em mercados descentralizados, conhecidos por dificultar o rastreio de ativos. Segundo as autoridades, essa movimentação representou uma “lavagem em tempo real”, com camadas sucessivas de anonimização digital.

Dinheiro do PCC encontra paraísos fiscais digitais nas fintechs

A estratégia criminosa revelou o surgimento de um novo conceito: os paraísos fiscais digitais. Essas fintechs operam fora do alcance dos controles tradicionais de compliance e know your customer (KYC). Isso cria brechas que o crime organizado aproveita para lavar grandes volumes com agilidade.

Para o promotor Lincoln Gakyia, que há duas décadas investiga o Primeiro Comando da Capital, o cenário é alarmante. “Fintechs estão substituindo doleiros. São paraísos fiscais modernos, com vantagem: não há malote, fronteira ou risco de assalto”, disse.

Já o promotor Fábio Bechara, responsável por denúncias contra fintechs associadas ao PCC, explica: “É altamente vantajoso. Melhor que ‘lavar’ dinheiro com um doleiro é comprar criptomoeda e movimentar em tempo real”. O mesmo padrão foi identificado em fintechs com uso de inteligência artificial para burlar verificações.

Dinheiro do PCC escapa da regulação do sistema financeiro

Segundo as investigações, as oito fintechs investigadas realizaram milhares de transações com recursos ilícitos, muitas vezes simulando empréstimos ou pagamentos a empresas fictícias. Em um dos casos, um mesmo CNPJ de fachada recebeu mais de R$ 150 milhões de diversas contas em apenas um semestre, sem qualquer alarme automático das plataformas.

A ausência de um sistema de rastreamento robusto favorece esse tipo de estrutura. Diferente dos bancos tradicionais, que cumprem normativas rígidas do Banco Central e do Coaf, muitas fintechs se aproveitam de lacunas regulatórias ou operam com registros limitados.

O alerta das autoridades é claro: sem o reforço nos mecanismos de fiscalização, o sistema pode se tornar refém de um modelo que favorece fraudes estruturadas.

“A capacidade do crime organizado de adaptar-se à inovação é maior do que a nossa de combatê-lo”, afirmou um investigador.

Como o crime organizado se aproveita da tecnologia bancária

A simulação de transferências, a triangulação com empresas de fachada, a compra de criptoativos e o uso de contas digitais vinculadas a laranjas criam um circuito fechado. Com o uso de aplicativos de bancos digitais e APIs de automação, essas operações ocorrem em escala industrial, muitas vezes em horários fora do expediente tradicional, escapando do radar dos sistemas convencionais de monitoramento.

A ausência de verificação facial em tempo real e a facilidade de registrar múltiplas contas com documentos digitalizados aumentam a vulnerabilidade. Dessa forma, o dinheiro do PCC circula com fluidez, passando de mãos em mãos em segundos, até alcançar corretoras internacionais sediadas em zonas cinzentas, como Caribe, Leste Europeu ou Sudeste Asiático.

Um sistema sob risco e sem fronteiras

A escalada da “fintechização do crime” evidencia o desequilíbrio entre inovação e segurança financeira. Se por um lado as fintechs democratizaram o acesso bancário, por outro abriram flancos que vêm sendo explorados em larga escala por facções criminosas de atuação transnacional.

A estimativa de R$ 28,2 bilhões lavados em apenas oito plataformas revela a escala do problema. E acende o alerta para o futuro: a regulação precisa acompanhar a sofisticação do crime digital. Caso contrário, o sistema financeiro brasileiro poderá ver sua credibilidade corroída por dentro.

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