A prisão de Bolsonaro, decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na noite da segunda-feira (04/08), impôs um novo obstáculo às tratativas do governo Lula para reduzir o impacto da tarifa de 50% imposta por Donald Trump contra produtos brasileiros. A medida repercute negativamente nos esforços de reaproximação entre os países e ameaça comprometer a negociação das tarifas com os EUA — justamente em um momento de retomada do diálogo diplomático.
Prisão de Bolsonaro ameaça canal aberto por Mauro Vieira e Trump
A prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica, foi anunciada no dia seguinte a uma declaração pública de Trump. Nela, o presidente dos EUA afirmou que Lula “poderia ligar quando quisesse”. A fala ocorreu logo após o encontro entre o chanceler brasileiro Mauro Vieira e o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio, realizado na quarta-feira (30/07). Esse movimento representava o início de um possível realinhamento nas relações Brasil-EUA, após semanas de tensão.
No entanto, a decisão judicial do STF, já criticada por aliados de Trump, pode interromper a tentativa de mitigar a retaliação diplomática do governo norte-americano. Fontes do Itamaraty avaliam que a prisão de Bolsonaro enfraquece os avanços recentes e lança incertezas sobre a continuidade da negociação das tarifas com os EUA.
Conversas anteriores já mostravam clima hostil entre os governos
Mesmo antes da prisão, os sinais de desgaste eram evidentes. A NBC News revelou que a conversa entre o vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro da Indústria e Comércio, e o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, “não foi boa”. A tentativa de diálogo ocorreu dias antes da assinatura do tarifaço e fazia parte dos esforços para tentar reverter a medida. No entanto, segundo duas autoridades brasileiras, “a conversa não correu bem”.
Trump vincula prisão de Bolsonaro ao tarifaço de 50%
Em carta pública publicada em sua rede social Truth Social, no dia 09 de julho, Trump classificou as ações de Moraes como “uma vergonha internacional”. Segundo ele, a tarifa de 50% representava uma resposta à suposta “caça às bruxas” contra um “líder respeitado”. O presidente norte-americano afirmou:
“Devido em parte aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos, a partir de 1º de agosto de 2025 cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos os produtos enviados aos Estados Unidos.”
Além disso, Trump mencionou a suspensão da plataforma Rumble, usada pela Truth Social, após Moraes proibir sua atuação no Brasil em fevereiro. O ministro justificou a medida com base no não pagamento de multas, no descumprimento de decisões judiciais e na ausência de representante legal da empresa no país.
O que está em jogo nas tarifas de Trump contra o Brasil?
As tarifas de 50% impostas por Donald Trump afetam setores estratégicos da economia brasileira, com impacto direto sobre exportações, empregos e competitividade internacional. Veja os principais pontos:
- Café brasileiro: representa quase 1/3 do consumo diário dos norte-americanos e não foi excluído da tarifa.
- Carne bovina: um dos produtos mais visados no comércio bilateral, também sem exceção na ordem executiva.
- Ferro e aço: fundamentais para a balança comercial, com alto valor agregado e relevância para a indústria.
- Aeronaves: setor altamente técnico, em que o Brasil é competitivo, agora sob risco de retração.
- Custo logístico e margem exportadora: a tarifa reduz drasticamente a rentabilidade das empresas que atuam nos EUA.
Segundo o governo brasileiro, os efeitos colaterais das tarifas já começaram a ser sentidos, principalmente nas exportações do agronegócio e da indústria de transformação.
Impasse jurídico e político encurrala o Brasil
Enquanto isso, Trump usa a narrativa de perseguição política contra a prisão de Bolsonaro para sustentar medidas protecionistas contra o Brasil. Em paralelo, o governo brasileiro busca preservar a estabilidade institucional e proteger seus interesses no comércio exterior
Na prática, a negociação das tarifas com os EUA enfrenta um duplo desafio: técnico, no campo das exportações; e político, na gestão das consequências da prisão do ex-presidente.