Em meio às discussões diplomáticas para reverter as tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, a balança comercial em julho confirmou o enfraquecimento do setor externo. Pois, o superávit do mês ficou em US$ 7,075 bilhões, o menor patamar para julho desde 2022. O dado foi registrado antes da entrada em vigor da tarifa de 50%, válida desde ontem (06/08). Em comparação, a balança comercial em junho também já havia sinalizado essa tendência, com superávit de US$ 5,889 bilhões, o mais baixo para o mês em seis anos.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), o superávit da balança comercial em julho caiu 6,3% em relação ao mesmo mês de 2024. Em junho, a queda havia sido de 6,9%. A combinação entre queda nas commodities, crescimento das importações e aumento no volume comprado comprometeu o saldo.
Acumulado reforça queda da balança comercial em julho
No acumulado até julho, a balança comercial em julho consolidou um superávit de US$ 36,982 bilhões, o mais baixo para esse período desde 2020. Até junho, o total acumulado era de US$ 30,092 bilhões. As quedas de 27,6% até junho e 24,7% até julho, em comparação com os mesmos períodos de 2024, mostram uma curva descendente clara. Além disso, o desempenho fraco também resulta do déficit de US$ 471,6 milhões registrado em fevereiro, causado pela importação de uma plataforma de petróleo.
O Mdic prevê um superávit de US$ 50,4 bilhões para 2025. Esse valor pode mudar por causa dos efeitos das novas tarifas a partir de agosto. Já o mercado financeiro tem uma visão mais positiva. Segundo o Boletim Focus do Banco Central, a expectativa é de um superávit maior, de US$ 65,25 bilhões.
Estrutura da balança comercial em julho: crescimento desigual
Em julho, o Brasil exportou US$ 32,310 bilhões (+4,8%) e importou US$ 25,236 bilhões (+8,4%). Em junho, os números haviam sido de US$ 29,147 bilhões em exportações (+1,4%) e US$ 23,257 bilhões em importações (+3,8%).
Desempenho por setor (julho):
- 🌾 Agropecuária:
- Volume exportado caiu 2%
- Valor exportado cresceu 0,3%
- 🏭 Indústria de transformação:
- Volume cresceu 10,3%
- Valor subiu 8,4%
- ⛏️ Indústria extrativa (minérios e petróleo):
- Volume avançou 13,1%
- Valor cresceu apenas 3%
Produtos que mais influenciaram a balança comercial em julho
Destaques por produto (julho):
- ☕ Café:
- Valor exportado cresceu 25,4%
- Volume exportado caiu 20,4%
- Produto não isento da tarifa dos EUA
- 🌱 Soja:
- Valor exportado cresceu 1,2%
- Volume exportado subiu 9%
- 🌽 Milho:
- Valor exportado caiu 27,2%
- Volume exportado recuou 31,5%
- 🛢️ Petróleo:
- Valor exportado cresceu 8,1%
- Volume exportado subiu 17,6%
- Produto isento da tarifa dos EUA
- ⛏️ Minério de ferro:
- Valor exportado caiu 8,8%
- Volume exportado subiu 4,7%
Nas importações, os motores e máquinas não elétricos puxaram a alta, com crescimento de 43,9% no valor comprado.
Perspectiva das exportações em agosto após novas tarifas
A balança comercial em julho, mesmo antes da aplicação das novas tarifas, já vinha dando sinais claros de enfraquecimento. Com a entrada em vigor da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos como café, carne bovina, pescado, água de coco, cera de carnaúba e castanha.
O governo brasileiro busca negociar a ampliação da lista de isenção com os Estados Unidos e, o mesmo tempo, trabalha para abrir novos mercados. Um exemplo recente é o credenciamento de 183 empresas chinesas para importar café brasileiro, o que amplia as alternativas fora do eixo EUA-Europa.
Agosto x Diplomacia
Nesse contexto, agosto deve testar a capacidade de reação da diplomacia comercial brasileira. Pois, se os EUA mantiverem as tarifas e o Brasil não conseguir diversificar rapidamente seus destinos, o superávit pode ser o menor do ano. Por outro lado, se houver avanços nas negociações e nas novas rotas de exportação, o impacto tende a diminuir. Até agora, a pressão sobre os resultados de agosto tende a se intensificar.
Na última quarta-feira (07/08), a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) apresentou um estudo do Observatório da Indústria com os impactos das tarifas na economia estadual. Segundo a análise, o Ceará deverá ser proporcionalmente o estado mais afetado. Assim, durante o evento, o industrial Ricardo Cavalcante, líder da indústria cearense, apresentou propostas de ações que serão encaminhadas ao Governo Federal. O objetivo é minimizar os efeitos da medida e evitar quebras na cadeia de produção.