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Dívida do agro no Banco do Brasil expõe caixa-preta das recuperações judiciais

A dívida do agro no Banco do Brasil atingiu níveis alarmantes, com uma inadimplência recorde de R$ 12,73 bilhões e um impacto devastador no lucro, que caiu 60% no segundo trimestre de 2025. Este cenário expõe a fragilidade das recuperações judiciais, que, em vez de proteger, podem estar sendo usadas como uma estratégia de alongamento artificial de passivos. Com 808 clientes em recuperação e R$ 5,4 bilhões monitorados, a situação exige uma reavaliação urgente das políticas de crédito. Descubra como essa crise pode afetar a sustentabilidade do agronegócio brasileiro e o futuro do Banco do Brasil.
Fachada do banco com rachadura simbólica representando a dívida do agro no Banco do Brasil.
Em jogo não está só o balanço do Banco do Brasil, mas também a sustentabilidade do agronegócio e o excesso de recuperações judiciais. (Imagem: Ilustrativa)

O colapso silencioso do crédito rural ganhou contornos dramáticos no segundo trimestre de 2025. Levantamento exclusivo do Economic News Brasil revela que a dívida do agro no Banco do Brasil não apenas derrubou em 60% o lucro, mas também abriu a caixa-preta das recuperações judiciais — um mecanismo que, em muitos casos, parece estar sendo distorcido. Mais do que um balanço ruim, os números mostram uma engrenagem que ameaça a credibilidade do setor agrícola e coloca em xeque o maior financiador do agronegócio brasileiro.

Dívida recorde do agro pressiona o Banco do Brasil

A alta inadimplência do agronegócio atingiu R$ 12,73 bilhões em atrasos acima de 90 dias no 2T25, o maior nível de inadimplência já visto no crédito agrícola do país. Mais da metade desse montante (52%) está concentrada em produtores do Sul e do Centro-Oeste. A gravidade não se resume ao valor absoluto: a deterioração foi acelerada. Em junho de 2024, a inadimplência do agro estava em 1,32%. No 1T25, saltou para 3,04%. Agora, alcançou 3,49% no último semestre, estabelecendo um recorde histórico.

Números-chave da inadimplência no agro (90+ dias):

  • 2T24: 1,32%
  • 1T25: 3,04%
  • 2T25: 3,49%

Essa escalada explica parte da queda do lucro líquido ajustado para R$ 3,8 bilhões, contra R$ 9,5 bilhões no 2T24 e R$ 7,4 bilhões no 1T25. Analiticamente, trata-se de um choque de qualidade de crédito: em menos de um ano, o risco rural multiplicou-se quase por três, abalando a principal frente de negócios do banco.

Caixa-preta da recuperação judicial e dívida do agro no Banco do Brasil

Do total de atrasos, R$ 2,27 bilhões já estão vinculados a empresas do agro em recuperação judicial, representando 17,8% da inadimplência do setor. O Banco do Brasil monitora hoje 808 clientes em recuperação, somando R$ 5,4 bilhões em dívidas — parte ainda não vencida, mas com alto potencial de entrar nos próximos balanços.

Entre as condições exigidas por algumas companhias estão:

  • Desconto de 20% da dívida;
  • Carência de 2 anos para retomar pagamentos;
  • Prazo de 10 anos para quitação total.

Esse padrão, segundo especialistas, revela a fragilidade do instrumento. Embora a recuperação judicial seja legítima para evitar falências, ela passou a ser utilizada como estratégia de alongamento artificial de passivos. O risco é óbvio: o banco fica exposto a um ciclo de postergação que corrói capital e trava novos financiamentos.

Evolução da recuperação judicial no agronegócio

Os dados da Serasa Experian mostram a dimensão do problema:

  • 2021: 193 pedidos;
  • 2022: 232 pedidos;
  • 2023: 482 pedidos;
  • 2024: 876 pedidos;
  • 2025: 1.272 pedidos (estimativa para o ano).

Crescimento acumulado: +559% em quatro anos.
Alta no 1S25: +45% em relação ao mesmo período de 2024.

O salto indica não apenas dificuldade financeira real, mas também a possível transformação da recuperação judicial em uma “indústria paralela” do crédito rural. Como analista, é inevitável observar que esse mecanismo, ao ser banalizado, ameaça punir mais os credores do que proteger a continuidade das atividades produtivas.

Comparativo de resultados recentes do Banco do Brasil

A deterioração dos números é visível trimestre a trimestre:

  • 2T24: lucro líquido ajustado de R$ 9,5 bilhões; ROE em 21,6%; inadimplência agro em 1,32%.
  • 1T25: lucro de R$ 7,4 bilhões; ROE recuou para 15,8%; inadimplência agro em 3,04%.
  • 2T25: lucro de R$ 3,8 bilhões; ROE caiu para 8,4%; inadimplência agro chegou a 3,49%.

Evolução em 12 meses: queda de 60% no lucro, retração de 13 pontos percentuais no ROE e triplicação da inadimplência do agro.

Do ponto de vista contábil, o alerta não poderia ser mais claro: o Banco do Brasil deixou de ser uma referência de estabilidade para se tornar um termômetro da crise rural.

Impactos contábeis e a Resolução 4.966

Além da inadimplência, outro fator pesou: a Resolução 4.966, que alterou a forma de provisionar perdas e reconhecer receitas. Essa mudança forçou o Banco do Brasil a elevar provisões para devedores duvidosos (PDD) e reduziu a margem financeira bruta em cerca de R$ 1 bilhão.

O custo de crédito disparou. No 1T25, foi de R$ 10,2 bilhões. No 2T25, alcançou R$ 15,9 bilhões, quase o dobro do registrado um ano antes. A contabilidade mostra que, sem ajustes regulatórios, o impacto teria sido menor, mas a nova regra evidenciou a fragilidade do crédito rural.

A engrenagem da recuperação judicial forçada

O levantamento também aponta que muitos processos têm sido alvo de suspeita. A chamada recuperação judicial forçada ocorre quando empresas que ainda possuem fôlego financeiro usam o instrumento apenas para ganhar vantagem, alongando prazos e reduzindo valores de forma artificial.

Essa prática gera três efeitos imediatos:

  1. Fragiliza credores, como o Banco do Brasil;
  2. Reduz a credibilidade do setor;
  3. Penaliza produtores sérios que realmente precisam do mecanismo.

O crescimento de 808 clientes em RJ, com R$ 5,4 bilhões monitorados, indica que parte do problema ainda nem chegou ao balanço. É provável que o 3T25 traga novo choque negativo.

Perspectivas para o Banco do Brasil e para o agro

A dívida do agro no Banco do Brasil não é apenas um dado contábil. É um reflexo de um modelo de crédito que entrou em desequilíbrio. O Banco do Brasil precisa agora rever sua política de concessão, fortalecer garantias e diferenciar clientes em dificuldade genuína de casos oportunistas.

Para os próximos dois semestres, três pontos se destacam:

  • 3T25 tende a trazer impacto adicional de parte dos R$ 5,4 bi ainda não contabilizados.
  • Colheitas mais favoráveis podem aliviar parte da pressão, mas não resolverão o problema estrutural.
  • Credibilidade da recuperação judicial será decisiva: se continuar banalizada, pode se tornar um risco sistêmico para o crédito rural.

Conclusão analítica

É o sintoma mais visível de uma crise mais profunda: a dívida do agro no Banco do Brasil, que provocou a queda de 60% no lucro no 2T25 e a explosão das recuperações judiciais, expõe uma fragilidade estrutural no crédito rural brasileiro.

Contabilmente, o banco ainda mantém lucro, mas a deterioração da qualidade dos ativos é incontornável. A perspectiva é de que os próximos trimestres tragam novos impactos, exigindo disciplina na gestão de riscos e maior rigor na avaliação de processos de recuperação judicial.

“O que vemos é um sinal de alerta. A dívida do agro no Banco do Brasil expõe um risco que vai além de um trimestre: trata-se de um problema estrutural, que pressiona o crédito, amplia as recuperações judiciais e coloca em xeque a sustentabilidade do setor”, avaliou Pedro Brandão, especialista em finanças e CEO da CredÁgil.

No fim, o que está em jogo não é apenas o balanço do Banco do Brasil, mas a sustentabilidade financeira do agronegócio como setor estratégico da economia.

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