Enquanto milhões de brasileiros enfrentam filas em hospitais e cortes em serviços básicos, parte do Judiciário e do Legislativo segue desfrutando de regalias pagas pelo contribuinte. O desperdício de dinheiro público se tornou rotina em Brasília, onde salas VIP, diárias milionárias e carros de luxo integram um cardápio de privilégios mantido por órgãos que deveriam dar o exemplo.
Desperdício de dinheiro público nas viagens do STF
O caso mais simbólico é o do Supremo Tribunal Federal (STF), que está há 16 meses sem divulgar informações sobre gastos com diárias e passagens aéreas. Até meados de 2024, esses dados eram acessíveis no site da própria Corte. Desde então, silêncio absoluto. Sumiram.
Não se trata de pouca coisa. Em 2024, as despesas chegaram a R$ 5,61 milhões. Neste ano, até 1º de agosto, o valor já alcançava R$ 6,55 milhões, uma alta de 16,7%. Dividido igualmente, seriam quase R$ 600 mil por ministro e sua equipe. E tudo isso sem detalhes públicos, sem transparência e sem qualquer justificativa clara. Para um tribunal que cobra ética e legalidade do país, a contradição é difícil de ignorar.
Desperdício de dinheiro público com frota Lexus do TST
Se no Supremo a transparência desapareceu, no Tribunal Superior do Trabalho (TST) o problema foi outro: a ostentação. A Corte comprou 30 veículos Lexus ES 300h, ao custo de R$ 10,39 milhões. Detalhe: o TST tem 27 ministros. Os três carros a mais foram comprados “para reserva”. Talvez para o caso de um pneu furado, ou quem sabe para garantir que nenhum ministro precise esperar pelo reboque.
Cada unidade custou R$ 346,5 mil. Havia opções mais acessíveis: o Honda Accord (R$ 332,4 mil), o BYD Seal elétrico (R$ 310,7 mil) e o Toyota Camry (R$ 344,1 mil). Todas atenderiam às necessidades da Corte. Mas prevaleceu a escolha pelo modelo que entrega status. O argumento técnico do tribunal se ampara em uma norma do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que considera “antieconômicos” veículos oficiais com mais de sete anos de uso. Para a maioria dos brasileiros, sete anos é a idade em que um carro ainda está “novo”. Para o TST, é hora da troca.
Desperdício de dinheiro público em salas VIP
A lista de regalias não para por aí. Conforme levantamento publicado pelo G1, órgãos públicos gastam pelo menos R$ 3,7 milhões por ano em salas VIP no Aeroporto de Brasília.
- O Senado Federal paga R$ 379,6 mil anuais por um espaço de apenas 20 m².
- A Câmara dos Deputados gasta R$ 278,4 mil por ano numa sala pouco utilizada, sem luxo, mas com custo de aluguel digno de um escritório comercial em área nobre. A ironia é inevitável: parlamentares, que se dizem representantes do povo, optam por se esconder em um espaço restrito ao invés de circular livremente entre os cidadãos.
- O STF desembolsa R$ 420 mil anuais, com direito a veículo próprio para embarque.
- O STJ soma R$ 818,9 mil por ano em contratos de sala e transporte de ministros.
- O Itamaraty destina R$ 1,17 milhão por ano para quatro salas exclusivas, usadas por chefes de Estado e chanceleres estrangeiros.
E o TST não ficou para trás. Além da frota Lexus, desembolsou R$ 1,5 milhão para construir uma sala VIP própria, com custo adicional de R$ 711,9 mil por ano em manutenção e serviços de receptivo.
O padrão de privilégios institucionais
Os exemplos mostram que não se trata de casos isolados, mas de uma engrenagem institucional. O desperdício de dinheiro público se repete com a mesma naturalidade com que se aprovam discursos de austeridade. O Supremo gasta mais em viagens, mas não mostra a conta. O TST multiplica regalias entre carros e salas. O Congresso mantém espaços milionários no aeroporto, mesmo que pouco utilizados.
No fim, o que se revela é um abismo entre a realidade dos cidadãos e o mundo das autoridades. Enquanto o brasileiro comum enfrenta orçamento apertado e transporte precário, altos cargos públicos circulam em Lexus híbridos e aguardam voos em salas exclusivas, blindados do contato com o povo.
A conta que sobra para o contribuinte
O retrato é claro: há uma cultura de privilégios que atravessa instituições. Os exemplos recentes do STF e do TST reforçam como o desperdício de dinheiro público não é exceção, mas parte de um sistema que naturaliza regalias milionárias. A conta, inevitavelmente, recai sobre os contribuintes.
Consultados pela Economic News Brasil, especialistas em transparência pública avaliam que a falta de critérios claros e de prestação de contas sistemática amplia a percepção de distanciamento entre autoridades e cidadãos, corroendo a confiança social.









