Os Estados Unidos, defensores históricos do livre mercado americano, exigiram que a Intel ceda 10% de seu capital em troca de subsídios para semicondutores. O intervencionismo dos EUA na Intel soa contraditório: em vez de confiar apenas na lógica de mercado, Washington adota práticas associadas ao capitalismo de Estado, modelo que costuma criticar na China.
Guerra tecnológica EUA-China acelera política industrial dos EUA
O intervencionismo dos EUA na Intel é reflexo direto da guerra tecnológica EUA-China, na qual os chips se tornaram insumos vitais. A dependência de Taiwan na produção de chips passou a ser vista como risco geopolítico. Para enfrentar essa vulnerabilidade, a Casa Branca aposta em investimentos públicos em tecnologia e busca recuperar a competitividade tecnológica perdida nas últimas décadas.
Cadeia global de chips e segurança nacional dos EUA com a Intel
A Intel já havia recebido bilhões em aportes do CHIPS Act, mas a conversão em participação acionária amplia a influência governamental. Para Washington, a produção de semicondutores deixou de ser apenas negócio: tornou-se questão de segurança nacional dos EUA. Essa presença direta do Estado pode oferecer estabilidade, mas também gera dúvidas sobre a intervenção estatal no mercado e seus efeitos para acionistas.
Setores estratégicos e os limites do livre mercado
Analistas destacam que, em setores críticos como produção de semicondutores nos EUA, energia e defesa, a linha entre mercado e Estado se torna tênue. O intervencionismo dos EUA na Intel evidencia uma nova fase da estratégia industrial americana, na qual Washington adota práticas antes atribuídas ao rival asiático. Setores estratégicos da economia passam, assim, a contar com forte peso político.
Antes do acordo, Donald Trump chegou a solicitar a saída do CEO da Intel.
📌 Quem é a Intel
- Fundação: 1968, por Robert Noyce e Gordon Moore, pioneiros do Vale do Silício.
- Origem do nome: acrônimo de Integrated Electronics.
- Sede: Santa Clara, Califórnia (Vale do Silício).
- Posição global: segunda maior fabricante de semicondutores do mundo em receita, atrás apenas da Samsung.
- Inovação: inventora da arquitetura x86, base dos processadores usados na maioria dos PCs.
- Principais clientes: Apple, Lenovo, HP, Dell e outros grandes fabricantes de sistemas.
- Produtos: microprocessadores, chipsets, controladores de rede, memória flash, chips gráficos e soluções embarcadas.
- Presença global: fábricas e centros em países como Brasil, Israel, Irlanda, China e Costa Rica.
- Empregados nos EUA: mais de 45 mil em estados como Oregon, Arizona, Texas e Califórnia.
Intervencionismo dos EUA na Intel e o futuro do capitalismo americano
O caso da Intel pode marcar uma mudança de paradigma. A ideia de que os EUA seriam sempre o palco do livre mercado enfrenta, agora, o teste da realidade. Ao repetir práticas de política industrial dos norte-americano semelhantes às chinesas, Washington sinaliza a criação de um modelo de capitalismo híbrido. Nesse contexto, o intervencionismo dos EUA na Intel mostra que a lógica privada já convive com a intervenção direta do Estado para garantir soberania tecnológica.