Na manhã desta quarta-feira (17/09), o Banco Pine divulgou em seu relatório PINE NEWS | WEEKLY a projeção de que o corte de juros nos EUA seria de 25 pontos-base — cenário confirmado horas depois pelo Federal Reserve. O documento destacou que, embora o mercado já precificasse a redução, persistiam dúvidas sobre a intensidade do ajuste e o grau de consenso dentro do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC). A análise sublinhou que esse corte representa apenas o início de um processo que ainda envolve incertezas relevantes.
Fatores adicionais destacados pelo Banco Pine
O relatório do Banco Pine também chamou atenção para outros elementos que ajudam a explicar o cenário atual do Fed e seus dilemas:
- Inflação acima da meta: o índice de preços PCE, referência oficial do Federal Reserve, permanece acima de 2%, mantendo a preocupação da ala mais conservadora do FOMC.
- Mercado de trabalho em perda de fôlego: a desaceleração das contratações e o aumento do desemprego em alguns setores reforçam o argumento dos dirigentes favoráveis a estímulos adicionais.
- Histórico de volatilidade: episódios anteriores de dissenso no FOMC já provocaram fortes oscilações em câmbio, bolsas e curva de juros, com reflexos também em emergentes.
- Pressões externas: fatores como a depreciação do dólar global, as restrições migratórias e o déficit fiscal elevado permanecem como vetores de pressão inflacionária.
Dissenso no FOMC e pressões políticas para o corte de juros nos EUA
Segundo o relatório do Banco Pine, existe risco real de um dissenso triplo no FOMC. De um lado, dirigentes hawkish, ou seja, aqueles de perfil mais conservador e focados no combate à inflação, defendem cautela e até a manutenção dos juros diante dos preços ainda elevados. Em posição oposta, estão os dirigentes dovish, que adotam postura mais favorável a estímulos e defendem cortes mais robustos para apoiar o mercado de trabalho.
O banco acrescenta que um terceiro fator é a pressão política do governo Trump, que pode explorar divergências internas no Fed como argumento para questionar a credibilidade da instituição e ampliar a pressão por novos ajustes após o corte de juros nos EUA. Para o Banco Pine, essa politização da política monetária corrói a percepção de independência do Federal Reserve e cria um precedente perigoso, no qual decisões futuras passam a ser vistas menos como técnicas e mais como respostas a demandas de curto prazo do Executivo.
O dilema do mandato duplo do Fed
A análise também relembra que o Federal Reserve atua sob o chamado “mandato duplo”, que busca equilibrar o pleno emprego sustentável e a estabilidade de preços. No curto prazo, esses objetivos podem entrar em conflito. Juros mais baixos estimulam a atividade, mas pressionam a inflação. Juros mais altos ajudam a conter preços, mas reduzem a criação de empregos. Segundo o Banco Pine, essa dualidade explica a dificuldade do Fed em sinalizar um caminho único, sobretudo diante da desaceleração do mercado de trabalho e da inflação acima da meta de 2% ao ano, medida pelo PCE.
Fatores que alimentam a divisão interna
O Banco Pine identificou três fatores centrais que reforçam a chance de dissenso no FOMC. O primeiro é a fragilidade relativa do mercado de trabalho, que sustenta posições dovish. O segundo é a inflação corrente e as expectativas ainda acima da meta, que alimentam a ala hawkish. O terceiro fator é a pressão política externa, que influencia o debate interno. A instituição lembra que dissensos anteriores já geraram forte volatilidade nos mercados financeiros. Esses episódios desancoraram expectativas e afetaram preços de ativos de risco, câmbio e curva de juros.
Próximos passos do corte de juros nos EUA
Na conclusão do relatório, o Banco Pine avaliou que a maioria do Comitê deveria optar pelo corte de juros nos EUA de 25 pontos-base nesta reunião. A instituição também sinalizou a possibilidade de outro movimento de mesma magnitude ainda em 2025. Esse cenário acomoda parte das pressões políticas e de mercado, mas tende a implicar custos. Entre eles, inflação mais persistente e redução do crescimento potencial do PIB americano no médio prazo. Além disso, o banco destacou que fatores externos, como a depreciação do dólar global, restrições migratórias e déficit fiscal elevado, permanecem como vetores adicionais de pressão inflacionária.