Lula e Trump na ONU devem chamar a atenção nesta terça-feira (23/09), na abertura da 80ª Assembleia Geral, em Nova York. O fórum reúne quase 200 países e continua sendo o palco multilateral mais relevante da diplomacia internacional. Desde 1947, o Brasil tem a tradição de abrir a sessão plenária, reforçando seu peso simbólico no cenário global.
Neste ano, porém, o protagonismo está dividido. Além dos debates sobre a guerra na Ucrânia, os conflitos no Oriente Médio e o financiamento climático para países em desenvolvimento, cresce a expectativa em torno dos discursos de Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. A participação conjunta ocorre em momento de tensões entre Brasil e EUA. Uma crise marcada por tarifas de 50% impostas por Washington e sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal.
Brasil-EUA chega ao palco da ONU. Desentendimentos de Lula e Trump chamam atenção
A tensão começou em julho, quando Trump classificou o julgamento de Jair Bolsonaro como “caça às bruxas” e, dias depois, anunciou as tarifas. Lula reagiu de imediato, chamando a medida de “chantagem inaceitável” e regulamentando a Lei de Reciprocidade, que prevê retaliações a sanções externas.
O embate se aprofundou em setembro, após a condenação de Bolsonaro a 27 anos por plano de golpe. Nesse momento, Trump voltou a atacar o STF e restringiu vistos a ministros. Lula, por sua vez, publicou artigo no New York Times, defendendo a democracia e chamando as tarifas de “ilógicas”.
À BBC News Brasil, o presidente brasileiro reafirmou estar aberto ao diálogo, mas acrescentou uma ressalva: “O que não tem negociação é a questão da soberania nacional.”
Impactos econômicos e políticos da disputa bilateral
O possível encontro de Lula e Trump na ONU, ainda que informal, tem peso simbólico. No campo econômico, as tarifas afetam setores como aço e alimentos e, além disso, aumentam o risco de guerra comercial. Politicamente, as sanções contra familiares de ministros elevaram a tensão a um nível inédito.
Lula deve reforçar soberania e democracia em seu discurso. Trump, por outro lado, tende a falar à sua base doméstica, atacando o que chama de “radicalismo da esquerda”. Nesse sentido, especialistas avaliam que ambos buscam consolidar narrativas, mais do que avançar em negociações reais.
Enquanto isso, Lula lidera o fórum “Em Defesa da Democracia e Contra o Extremismo”, organizado com Chile, Espanha e Colômbia. A espera é que mais de 30 países confirmem presença. Para a cientista política Maria Ribeiro (UFMG), em entrevista a BBC, a exclusão dos EUA “mostra um realinhamento liderado pelo Brasil”. Já o diplomata aposentado Carlos Pires alerta que, sem diálogo, empresas brasileiras deverão redirecionar exportações para União Europeia e China.
Cenários para Lula e Trump na ONU
- Aproximação simbólica: se houver um aperto de mão, será apenas um gesto protocolar. Ainda assim, pode representar civilidade e reduzir tensões momentâneas.
- Impasse retórico: caso não haja contato, os discursos servirão apenas para marcar posições. Lula deve insistir na defesa da democracia, enquanto Trump atacará o julgamento de Bolsonaro. Esse é, portanto, o cenário mais provável.
- Agravamento: se Washington anunciar novas sanções, o impacto comercial será imediato. Nesse caso, o Brasil poderá intensificar laços com União Europeia e China, ampliando a dimensão global da disputa.
Próximos passos e impacto global
Enquanto os discursos dominam os holofotes, Lula aposta no fórum que será articulado por ele, marcado para esta quarta-feira (24/09). O encontro busca projetar o Brasil como articulador internacional em defesa da democracia, mesmo que isso aprofunde o distanciamento de Washington.
Esse gesto, além disso, pode influenciar a postura brasileira em fóruns futuros como o G20 e a COP30, em novembro desse ano. Assim, mais do que um gesto protocolar, o que estará em jogo é o rumo de uma das relações bilaterais mais delicadas da diplomacia recente.