O decreto assinado por Donald Trump que estabelece uma taxa de US$ 100 mil (cerca de R$ 534 mil) para cada solicitação de visto H-1B vai muito além de um ajuste burocrático. A decisão apresenta um cálculo político: reforçar o discurso de defesa do emprego doméstico, mesmo à custa de encarecer drasticamente o acesso de empresas a talentos estrangeiros. O gesto é apresentado como proteção ao trabalhador americano, mas pode minar a competitividade dos Estados Unidos justamente em setores que dependem de mão de obra altamente qualificada para sustentar inovação e crescimento econômico.
Proteção ao trabalhador americano e solicitação de visto H-1B
Sem apresentar evidências de dados oficiais, Trump justifica a medida como forma de conter “abusos” e reduzir a substituição de americanos por estrangeiros mais baratos. Essa narrativa se conecta diretamente ao eleitorado industrial e de classe média, onde o discurso de defesa do emprego local tem maior apelo.
O secretário de Comércio, Howard Lutnick, chegou a dizer que companhias precisam decidir se um estrangeiro vale tanto a ponto de pagar US$ 100 mil ou se é melhor contratar um cidadão americano.
Pressão sobre empresas dependentes da solicitação
A medida, contudo, atinge em cheio empresas de tecnologia como Amazon, Microsoft, Meta e Google, que historicamente lideram as contratações via H-1B. Esses setores dependem de engenheiros e especialistas vindos principalmente da Índia e da China, países que concentram mais de 80% das aprovações. A incerteza levou empresas a recomendar que funcionários evitassem viagens até que houvesse clareza regulatória. Para muitas delas, o dilema agora é calcular se o custo adicional compensa a manutenção de talentos estrangeiros em projetos estratégicos de inovação.
Confira no vídeo do SBT o que disse Donald Trump sobre a nova taxa para a solicitação do visto americano H-1B:
Impacto global e brasileiro das solicitações de visto H-1B
Do ponto de vista internacional, a decisão pode abrir espaço para que outros países atraiam os profissionais rejeitados pelos EUA. Canadá e Reino Unido, por exemplo, já oferecem programas mais flexíveis de imigração qualificada. Para o Brasil, o impacto pode ser direto: em 2024, 1.947 brasileiros receberam vistos H-1B, um recorde histórico. Com a taxa extra, esse fluxo pode se reduzir, afetando tanto carreiras individuais quanto a integração de talentos brasileiros em multinacionais de tecnologia.
Mais que uma barreira financeira, a nova taxa sobre a solicitação de visto H-1B simboliza a estratégia de Trump de reforçar sua pauta eleitoral: proteger empregos, endurecer a imigração e testar até onde as empresas estão dispostas a pagar pela diversidade de talentos. O resultado imediato é incerteza — para companhias globais que dependem de inovação e para milhares de profissionais qualificados que veem nos EUA a principal porta de entrada para ascensão internacional.