A inteligência artificial na indústria brasileira mais que dobrou em dois anos e já está presente em 41,9% das empresas, contra 16,9% em 2022, segundo a Pesquisa de Inovação Semestral (Pintec), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira (24/09). O número de empresas que utilizam a tecnologia saltou de 1.619 para 4.261, reforçando que a digitalização passou a ser condição de permanência no mercado.
Inteligência artificial na indústria: concentração em grandes empresas
O uso é mais intenso nas empresas de maior porte. Entre aquelas com mais de 500 empregados, 57,5% já incorporam inteligência artificial na indústria. O índice cai para 42,5% em empresas com 250 a 499 funcionários e para 36,1% nas que possuem entre 100 e 249 trabalhadores.
Segundo o gerente de pesquisas temáticas do IBGE, Flávio José Marques Peixoto, a popularização das IAs generativas, como o ChatGPT lançado em novembro de 2022, foi decisiva para o avanço.
“Aquelas que criam conteúdos, texto, imagens. Eu diria que está relacionado com esse aumento maior, dessa disponibilidade. Quando se tem a própria demanda dos fornecedores e dos clientes para migrar, principalmente na logística e no processo de suprimento dessa cadeia, ou a empresa faz esse movimento ou vai ser excluída, não vai fazer parte mais dessa cadeia.”
Benefícios e obstáculos para a inteligência artificial na indústria
As áreas e setores que mais utilizam a inteligência artificial na indústria foram detalhados pelo IBGE, assim como os principais benefícios relatados:
- Áreas líderes de aplicação: administração (87,9%) e comercialização (75,2%).
- Setores industriais mais avançados: equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos (72,3%), máquinas e materiais elétricos (59,3%) e produtos químicos (58%).
- Principais benefícios: aumento da eficiência (90,3%), maior flexibilidade em processos (89,5%) e melhoria no relacionamento com clientes e fornecedores (85,6%).
Por outro lado, 78,6% citaram custos elevados como barreira e 54,2% apontaram falta de profissionais qualificados. Apenas 9,1% conseguiram acessar programas públicos de incentivo. Peixoto ainda destacou que uma das aplicações mais relevantes é a manutenção preditiva, que envolve uso de IA no sistema de produção, movimentação de máquinas e tomada de decisões de forma autônoma.
Outras tecnologias digitais e impacto no trabalho
Além da inteligência artificial na indústria, 89,1% das companhias utilizam alguma tecnologia digital. Os principais recursos mapeados pelo IBGE foram:
- Computação em nuvem: 77,2%
- Internet das coisas (IoT): 50,3%
- Robótica: 30,5%
- Big data: 27,8%
- Impressão 3D: 20,3%
Apesar dessa expansão digital, o teletrabalho recuou no setor industrial: caiu de 47,8% em 2022 para 42,9% em 2024.
O que vem pela frente
O levantamento do IBGE mostra que a inteligência artificial na indústria deixou de ser apenas um diferencial competitivo e passou a ser condição para manter espaço em cadeias globais de produção. O desafio imediato é superar custos e a escassez de mão de obra qualificada. Caso essas barreiras sejam enfrentadas, a expansão atual pode se consolidar como vantagem estrutural para o setor industrial brasileiro.