A conta de luz mais cara não pesou apenas no bolso das famílias: também empurrou a inflação de setembro de 2025 acima da meta definida pelo governo. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) subiu 0,48% após deflação em agosto e acumulou 5,32% em 12 meses, superando o teto de 4,5%. O dado, divulgado nesta quinta-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pressiona a política monetária e limita cortes mais agressivos da Selic.
Inflação de setembro: energia elétrica e habitação
O grupo Habitação subiu 3,31% e adicionou 0,50 ponto percentual ao índice. A energia elétrica residencial disparou 12,17% e sozinha respondeu por 0,47 p.p. da inflação de setembro. Esse choque refletiu três fatores:
- Fim do Bônus Itaipu, que havia beneficiado 80,8 milhões de consumidores em agosto.
- Entrada da bandeira tarifária vermelha patamar 2, que acrescentou R$ 7,87 a cada 100 kWh.
- Reajustes regionais, como em Belém (+11,38%) e Salvador (+4,97%).
Além da energia, outros grupos registraram altas:
- Vestuário: +0,97% (roupas femininas +1,19%; calçados +1,02%)
- Saúde e cuidados pessoais: +0,36% (planos de saúde +0,50%)
- Despesas pessoais: +0,20%
- Educação: +0,03%
Quatro grupos recuaram:
- Alimentação e bebidas: -0,35%
- Transportes: -0,25%
- Artigos de residência: -0,16%
- Comunicação: -0,08%
Alimentos e transportes — Impacto na inflação de setembro
A alimentação apresentou queda de 0,35%, a quarta consecutiva, ajudando a conter a pressão geral.
- Alimentação no domicílio: -0,63%
- Tomate: -17,49%
- Cebola: -8,65%
- Arroz: -2,91%
- Café moído: -1,81%
- Frutas: +1,03%
- Alimentação fora do domicílio: +0,36%
- Refeições: +0,20%
- Lanches: +0,70%
Nos transportes, o recuo de 0,25% refletiu:
- Seguro de veículo: -5,95%
- Passagens aéreas: -2,61%
- Gasolina: -0,13%
- Gás veicular: -1,55%
- Diesel: +0,38%
- Etanol: +0,15%
- Táxi: +4,44% (Belém +21,53%; São Paulo +10,55%)
- Tarifas urbanas: gratuidades em Brasília (-9,85%) e Belém (-6,27%); ônibus em Curitiba (-2,86%)
Apesar desse alívio, os recuos em alimentos e transportes não conseguiram neutralizar o choque da energia elétrica no resultado da inflação de setembro.
Em relação às regiões, todas as 11 pesquisadas tiveram alta. Recife registrou a maior variação (0,80%), puxada pela energia (+10,69%) e gasolina (+4,78%). Goiânia ficou no extremo oposto, com 0,10%, beneficiada pela queda da gasolina (-2,78%) e do tomate (-24,39%).
Pressão inflacionária e futuro da inflação
Com 5,32% acumulados em 12 meses, a inflação de setembro rompeu a meta e reacendeu o debate sobre a Selic. A escalada da energia mostra que choques setoriais ainda podem comprometer o controle de preços, mesmo com alimentos em queda. Para o Banco Central, o dado limita cortes mais agressivos da taxa de juros e reforça a cautela com pressões em serviços e energia. Entre especialistas, a discussão agora é o que impactou a inflação de setembro e como esses fatores devem se refletir nos próximos meses.
O IPCA cheio de setembro de 2025 será divulgado em 9 de outubro, enquanto a próxima prévia, o IPCA-15 de outubro, sairá em 24 de outubro.