Quem entra em uma loja de vendas de roupas por quilo em São Paulo dificilmente sai sem sacolas. O formato, que já foi febre nos anos 1980, voltou ao centro do consumo urbano e atrai principalmente jovens em busca de peças baratas e variadas. Mais do que preços baixos, essa tendência carrega também uma proposta de moda circular, que ajuda a reduzir o excedente têxtil de uma das indústrias mais poluentes do planeta.
Vendas de roupas por quilo e a experiência do garimpo
Conforme matéria publicada pela Folha de São Paulo, no Bazar Hamuche, na rua 25 de Março, os clientes mergulham em pilhas de roupas para encontrar calças, blusas e vestidos por preços que vão de R$ 15 a R$ 95. A cena lembra um verdadeiro garimpo: consumidores explorando cabides e caixas em busca de oportunidades. Segundo Alexandre Hamuche, dono do espaço, o modelo nasceu da necessidade de dar vazão a estoques parados de sua marca.
“Tínhamos caixas e caixas de roupas, e transformamos isso em uma experiência que gera curiosidade e venda”, afirmou.
Para os clientes, o apelo vai além do preço. A sensação de caçar boas peças em meio a um grande volume traz adrenalina e a chance de montar looks únicos.
Moda circular como resposta ao excesso
O apelo econômico se conecta diretamente a uma pauta ambiental. Segundo a especialistas em moda sustentável, o setor têxtil produz em média 40% mais peças do que consegue vender. Esse excedente, muitas vezes incinerado ou descartado, encontra nas vendas de roupas por quilo uma nova rota de circulação.
“É um modelo que dá vida ao que já está produzido e ao mesmo tempo amplia o acesso da população a roupas mais baratas”, explica Adachi.
Na prática, o consumidor compra por peso e não por peça. Na ModaKilo, por exemplo, o quilo de roupas básicas custa entre R$ 160 e R$ 180, enquanto a linha premium pode chegar a R$ 350. Mesmo assim, os valores ficam abaixo de peças novas em lojas convencionais, especialmente quando o cliente garimpa roupas de qualidade em bom estado.
Confira no vídeo matéria sobre os estabelecimentos que comercializam roupa no quilo:
Brechós tradicionais em queda
Esse novo apelo tem reflexo direto nos brechós tradicionais. Durante anos, os brechós atraíram jovens interessados em roupas de segunda mão com preços baixos. Mas o cenário mudou: os valores subiram e a curadoria passou a afastar consumidores em busca de economia imediata. A experiência das vendas de roupas por quilo, por outro lado, se mostra mais dinâmica e democrática, com peças para diferentes estilos e bolsos.
Um modelo em expansão com roupas por quilo
O crescimento das vendas de roupas por quilo não se restringe a São Paulo. Outras capitais já veem iniciativas semelhantes, aproveitando o apelo de preço baixo e a narrativa da sustentabilidade. A expectativa é que esse formato avance para cidades médias, onde o consumidor busca equilíbrio entre economia e variedade.
Para lojistas, o modelo se apresenta como alternativa de giro rápido de estoque, sem depender apenas das liquidações tradicionais. Já para a indústria, representa uma oportunidade de aliviar a pressão do excesso de produção, canalizando peças que, de outra forma, poderiam ser descartadas.
O setor de revenda fatura bilhões de dólares nos EUA.
Futuro da moda acessível
A tendência das vendas de roupas por quilo revela que consumo e sustentabilidade podem caminhar juntos. O formato amplia o acesso a peças de baixo custo, ao mesmo tempo em que dá destino ao excesso da produção têxtil. Para os consumidores, é uma experiência de compra divertida e econômica. Para os lojistas, uma forma de dar fôlego ao estoque. Para a indústria, um caminho para reduzir impactos ambientais.
O avanço desse modelo também se conecta ao debate climático. Cada quilo de roupa reutilizada representa uma economia de até 25 quilos de CO₂, de acordo com pesquisa da Universidade Politécnica da Catalunha (UPC). O estudo, conduzido pelo Instituto de Investigação Têxtil e Cooperação Industrial de Terrassa (INTEXTER), analisou mais de 500 quilos de roupas e concluiu que 80% das fibras são recicláveis e 88% reutilizáveis. Esses dados reforçam o papel das vendas de roupas por quilo como ferramenta prática para ampliar a circularidade no setor têxtil.