A valorização do real frente à moeda americana redistribui vantagens e prejuízos na economia brasileira. Segundo relatórios do Banco Central (BCB), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e do Tesouro Nacional, é possível mensurar com precisão quem ganha e perde com a queda do dólar.
Para consumidores, há redução de custos em importados e maior facilidade em viagens internacionais. No entanto, exportadores e turismo receptivo perdem competitividade nos mercados globais.
Quem ganha e perde com a queda do dólar: consumidores
O impacto imediato sobre quem ganha e perde com dólar é primeiro percebido pelos consumidores. Sendo assim, produtos importados, como medicamentos, eletrônicos e automóveis, ficam mais baratos em reais.
Além disso, o BCB registrou que os gastos de brasileiros em viagens internacionais atingiram US$ 14,29 bilhões entre janeiro e agosto de 2025, valor superior ao observado em 2024.
As contas públicas também se beneficiam: segundo o Tesouro Nacional, a Dívida Pública Federal externa representava 3,88% do total em julho de 2025, o que corresponde a R$ 308 bilhões. Em um cenário de dólar baixo, no entanto, os custos dessa dívida caem em termos de moeda nacional.
Entre os ganhos diretos se destacam:
- Importados mais acessíveis, em especial itens de consumo e insumos produtivos;
- Viagens internacionais favorecidas, com maior gasto de brasileiros no exterior;
- Alívio fiscal, já que a dívida externa em reais pesa menos no orçamento.
Queda nas viagens nacionais
Lucas Dezordi, economista e assessor econômico da Fecomércio PR, em Curitiba, destaca que o dólar turismo e o comercial mostram forte desvalorização em relação ao real. Com isso, as viagens nacionais serão afetadas.
“É muito provável que vá aumentar a demanda de viagens do brasileiro ao exterior. Isso faz com que tenha uma redução gradual, mas ainda não significativa das viagens nacionais. É muito comum no Nordeste, Rio de Janeiro, que as viagens sejam marcadas.”
Exportadores e turismo enfrentam desafios com o real valorizado
A valorização do real, parte do debate sobre quem ganha e perde com a queda do dólar, impõe barreiras às exportações brasileiras. Dados do MDIC mostram que, até agosto de 2025, o Brasil exportou US$ 227,6 bilhões e importou US$ 184,8 bilhões, com superávit de US$ 42,8 bilhões. O saldo é positivo, contudo, é menor do que no mesmo período de 2024.
O agronegócio, a siderurgia e a indústria manufatureira sentem a pressão, pois os preços em dólares perdem competitividade. O turismo receptivo também perde força quando o real se valoriza. o BCB apurou que estrangeiros gastaram US$ 6,9 bilhões em 2024, valor que tende a se reduzir quando o Brasil se torna mais caro em moeda local.
As principais perdas concentram-se em:
- Agronegócio e indústrias exportadoras, que veem margens comprimidas;
- Turismo receptivo, encarecido para estrangeiros;
- Setores manufaturados, especialmente os que competem com países de câmbio mais desvalorizado.
Quem ganha e perde com a queda do dólar nas contas públicas
Os efeitos atingem não apenas o consumo, mas também o comércio. O Tesouro Nacional relatou que a Dívida Pública Federal chegou a R$ 7,939 trilhões em julho de 2025, crescimento de R$ 55,8 bilhões em relação ao mês anterior. Além disso, a componente externa diminuiu em peso relativo, o que reforça o efeito positivo de um dólar mais barato sobre a sustentabilidade fiscal.
Já o BCB, em seu Relatório de Inflação de setembro de 2025, destacou que a taxa de câmbio influencia tanto a atratividade de investimentos estrangeiros quanto a formação de preços domésticos. Isso significa que, apesar de aliviar o passivo externo, a valorização do real reduz a rentabilidade de quem aplica em ativos brasileiros.
Câmbio de equilíbrio e os próximos passos da economia brasileira
A análise de quem ganha e perde com a queda do dólar mostra que o câmbio redistribui forças entre setores. Consumidores e governo se beneficiam com preços menores e custos fiscais reduzidos, enquanto exportadores e turismo enfrentam dificuldades.
O Banco Central aponta que a busca por um câmbio de equilíbrio é essencial para conciliar inflação controlada e competitividade internacional. Contudo, a trajetória do real dependerá não apenas das condições externas, mas também da credibilidade das políticas fiscal e monetária adotadas pelo país.