As vendas do Dia das Crianças de 2025 devem alcançar R$ 9,96 bilhões até o próximo dia 12, o que representa alta de 1,1% em relação a 2024. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Mesmo com o avanço, a CNC observa que as vendas do Dia das Crianças poderiam ser mais expressivas se o cenário econômico fosse diferente. A taxa Selic permanece em 15% ao ano e a inflação acumulada até agosto chegou a 5,13%, acima do teto da meta de 4,5%. Esse quadro restringe o consumo, apesar de o mercado de trabalho seguir aquecido.
Setores que lideram as vendas do Dia das Crianças
O levantamento da CNC detalha quanto cada segmento deve faturar nas vendas do Dia das Crianças em 2025:
- Vestuário, calçados e acessórios: R$ 2,71 bilhões (27% do total)
- Eletroeletrônicos e brinquedos: R$ 2,66 bilhões
- Farmácias e cosméticos: R$ 2,15 bilhões
- Móveis e eletrodomésticos: R$ 1,29 bilhão
- Hipermercados e supermercados: R$ 690 milhões
Esses números reforçam que as vendas ocupam a terceira posição entre as datas mais relevantes do varejo, atrás apenas do Natal e do Dia das Mães.
Crédito caro limita as vendas do Dia das Crianças
Conforme publicado pela Agência Brasil, o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, explicou que “a inflação ainda não está onde a gente quer, e os juros […] estão em um patamar muito elevado”. Para ele, o crédito mais caro força escolhas difíceis: “Vai parcelar o brinquedo, vai pagar o cartão de crédito? Se os juros estiverem lá em cima, o sujeito tem que colocar o pé no freio”.
Além do juro médio ao consumidor de 57,65% ao ano em julho, o rotativo do cartão alcançou 451,5% ao ano em agosto, travando o consumo parcelado. O crédito livre também encareceu e o endividamento das famílias se aproxima de 50% da renda anual, cenário que reduz o poder de compra em uma data voltada ao gasto com presentes.
O impacto não ficou restrito às famílias. As empresas também enfrentaram encarecimento nas linhas de financiamento, com o capital de giro custando 38% ao ano, o que pressiona custos e margens. Em paralelo, a inadimplência atingiu 30,4% das famílias, mais alto nível da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), iniciada em 2010.
Inflação pressiona itens ligados às vendas do Dia das Crianças
A CNC apontou que a inflação média dos produtos típicos da data foi de 8,5% em relação a 2024, com destaque para:
- Chocolates: +24,7%
- Doces: +13,9%
- Lanches: +10,9%
- Cinema e teatro: +10,3%
- Brinquedos: +4,1%
- Roupas infantis: +3,3%
Enquanto alimentos e lazer pressionaram o orçamento das famílias, brinquedos e roupas infantis tiveram reajustes abaixo do índice oficial, ajudando a sustentar o apelo das vendas do Dia das Crianças em 2025.
Bentes lembra que o chocolate é um exemplo de como fatores externos pesam no bolso do consumidor: “O chocolate tem na produção uma commodity, o cacau. Sempre que temos algum choque no preço, há repercussão no mercado interno”.
Cenário futuro das vendas
As vendas do Dia das Crianças confirmam a força das datas comemorativas para o varejo, mas também expõem os limites impostos por juros altos, crédito caro e inadimplência em níveis recordes. Enquanto a Selic permanecer elevada e o financiamento das famílias estiver comprometido, o ritmo de expansão tende a ser contido. Para especialistas, só uma queda consistente nos juros poderá transformar o bom resultado de 2025 em um ciclo duradouro de crescimento do consumo no Brasil.