Na quinta-feira (02/10), a crise da Ambipar ganhou proporções históricas na Bolsa de Valores, marcada por uma das maiores perdas já registradas. O movimento começou após o rebaixamento da S&P Global Ratings para “D” (default), o que provocou sucessivas quedas em curto intervalo. Os números que traduzem o colapso são os seguintes:
- 61,48% de queda em um único pregão, na quinta-feira (02/10);
- Nova baixa de 45,82% na sexta-feira (03/10), às 13h36;
- Cotação em R$ 1,49;
- Acúmulo de 88% de desvalorização em apenas um mês;
- Declaração de R$ 4,7 bilhões em caixa, sendo R$ 2 bilhões líquidos;
- Risco de antecipação de dívidas superiores a R$ 10 bilhões devido a cláusulas de cross default.
Esse conjunto de eventos mostrou a gravidade da situação enfrentada pela companhia, que perdeu rapidamente a confiança dos investidores e passou a sofrer forte pressão de credores e do próprio mercado.
Crise da Ambipar levanta dúvidas sobre governança
Na quarta-feira (01/10), uma reportagem do Pipeline revelou indícios de irregularidades em um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) ligado à empresa. A suspeita era de que partes relacionadas atuassem nas duas pontas: cedendo direitos creditórios e, ao mesmo tempo, emprestando contra eles. O episódio ampliou a desconfiança dos investidores, agravada pela saída do diretor financeiro e pela troca de assessoria de reestruturação, quando a Seneca Evercore foi substituída pela BR Partners. Nesse contexto, a crise da Ambipar passou a ser vista também como reflexo de falhas de governança, já que credores contestaram a escolha da jurisdição no Rio de Janeiro, enquanto a sede da holding está em São Paulo.
Credores e mercado pressionam por solução
A reação dos credores foi imediata. O Banco Sumitomo questionou a tutela cautelar concedida no fim de setembro, que garantiu à empresa 30 dias de proteção contra credores, prorrogáveis por mais 30. Para diversas instituições, a medida parecia desnecessária diante do caixa informado. Bancos como ABC Brasil, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Itaú também demonstraram insatisfação e começaram a discutir alternativas conjuntas. Em paralelo, um grupo de bondholders iniciou negociações para atuar em bloco, ampliando ainda mais a pressão por um acordo e reforçando a percepção de que a crise da Ambipar exige soluções coordenadas.
Entre os pontos que mais preocupam o mercado estão:
- A possibilidade de antecipação de dívidas superiores a R$ 10 bilhões;
- O impacto imediato da perda de 88% do valor de mercado em apenas um mês;
- A instabilidade decorrente da troca frequente de assessoria e de executivos.
Diante desse cenário, a confiança dos investidores se deteriora, tornando cada vez mais provável a busca por medidas coletivas.
Agências de rating e analistas ampliam alerta
O rebaixamento da S&P Global Ratings para “D” colocou a companhia no centro das atenções internacionais. A Fitch Ratings alertou que, caso uma reestruturação formal seja anunciada, os ratings devem cair para “RD” (inadimplência restrita) ou “D” (default). Além disso, analistas aumentaram a cautela. “A recuperação judicial é iminente. As dívidas cresceram nos últimos anos e os indicadores só pioraram. Sem aporte grande de capital, dificilmente escapam da RJ” (entrevista à imprensa), Max Mustrangi, CEO da Excellance. Já a XP Investimentos recomendou máxima cautela aos investidores, reforçando que a crise da Ambipar gera riscos elevados e que novos entrantes devem permanecer de fora.
De case ESG a crise reputacional
O contraste é evidente. Em 2024, a Ambipar era considerada referência no setor de economia verde, com suas ações apresentadas como um case de ambiental, social e governança (ESG) de valorização. Atualmente, porém, a crise da Ambipar transformou essa percepção em forte desgaste reputacional, marcado por questionamentos sobre transparência, práticas financeiras e falhas de governança. Para especialistas, o impacto vai além da própria companhia, pois também enfraquece a confiança do mercado em projetos rotulados como sustentáveis e coloca em dúvida a credibilidade de empresas que se posicionam como líderes em serviços ambientais.
Futuro da Crise da Ambipar e impactos no setor
O desfecho da crise da Ambipar dependerá diretamente das medidas adotadas com o fim da tutela cautelar. Sem um aporte robusto de capital ou sem acordo com os credores, a recuperação judicial (RJ) aparece como caminho provável. Essa instabilidade não atinge apenas investidores e instituições financeiras, mas também fragiliza a narrativa de companhias brasileiras que se apresentam como líderes em sustentabilidade. Nesse sentido, o caso deve servir de alerta para todo o setor ESG, pressionando por maior transparência, rigor regulatório e governança efetiva no mercado de capitais.tam como líderes em sustentabilidade. Nesse sentido, o caso deve servir de alerta para todo o setor ESG, pressionando por maior transparência, rigor regulatório e governança efetiva no mercado de capitais.