O superávit da balança comercial em setembro, diferença entre o que o Brasil exporta e o que importa, foi o menor em dez anos, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). O saldo ficou em US$ 2,99 bilhões, 41,1% menor que em setembro de 2024 (US$ 5,08 bilhões). A principal razão foi a importação de uma plataforma de petróleo vinda de Singapura, uma operação isolada que elevou as compras externas e reduziu o resultado final do mês.
Mesmo com exportações recordes de US$ 30,53 bilhões, o aumento das importações (US$ 27,54 bilhões) acabou reduzindo o saldo positivo. No acumulado do ano, entre janeiro e setembro, o superávit chegou a US$ 45,47 bilhões, queda de 22,5% em relação ao mesmo período de 2024. Segundo o Mdic, esse foi o pior resultado para o mês desde 2015, ano marcado por recessão econômica no país.
Exportações crescem, mas balança comercial em setembro recua
A balança comercial em setembro manteve bom desempenho nas exportações, puxadas pelo agronegócio e pela indústria.
Principais destaques:
- Volume total exportado: +10,2%
- Agropecuária: +18%
- Milho: +22,5%
- Soja: +20,2%
- Café: +11%
- Indústria extrativa: +9,2%
- Petróleo bruto: +16,6%
- Pedra, areia e cascalho: +50,3%
- Indústria de transformação: +2,5%
- Ouro não monetário: +94,4%
- Veículos de passageiros: +50%
Esses números mostram que o Brasil continua competitivo em commodities e produtos industrializados, mesmo num cenário global instável.
Por outro lado, os preços médios das mercadorias caíram 2,5%, o que reduziu o ganho em dólar das exportações. Segundo técnicos do Mdic, o recuo dos preços internacionais do minério e da soja impediu um resultado mais forte.
Importações disparam e distorcem a balança comercial em setembro
As importações cresceram com força, impulsionadas pela entrada da plataforma de petróleo e pelo maior consumo no mercado interno.
Principais variações nas importações:
- Crescimento total: +17,7% em relação a setembro de 2024
- Bens de capital: +73,2% (impacto da plataforma de petróleo de Singapura)
- Bens de consumo: +20,1%
- Bens intermediários: +10,5%
- Combustíveis: –15,2%
O aumento das compras externas mostra aquecimento da economia, com empresas e consumidores comprando mais, mas também pressiona o saldo comercial, já que o país gastou mais com importações industriais e bens duráveis.
Entre os produtos específicos:
- Soja importada: +564,7%
- Fertilizantes brutos: +63,5%
- Motores e máquinas não elétricos: +63,1%
Esses dados refletem a retomada da atividade industrial, mas também indicam maior dependência de insumos importados.
Projeções e expectativas para o fim do ano
O Mdic revisou suas estimativas e agora prevê superávit de US$ 60,9 bilhões em 2025, acima da previsão anterior de US$ 50,4 bilhões. As exportações devem somar US$ 344,9 bilhões, e as importações, US$ 284 bilhões. A revisão já considera os efeitos do tarifaço dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
O governo vê o resultado da balança comercial em setembro com preocupação, por mostrar um ritmo menor de saldo positivo.
Segundo o Boletim Focus do Banco Central, o mercado financeiro é um pouco mais otimista e projeta superávit de US$ 64,4 bilhões até o fim do ano. Ainda assim, o número fica distante do recorde de US$ 98,9 bilhões alcançado em 2023.
Tendências e riscos para a balança comercial em setembro
O desempenho da balança comercial em setembro revela um cenário misto. De um lado, as exportações continuam firmes; de outro, o avanço das importações indica aquecimento interno, mas também maior vulnerabilidade externa.
Se os preços internacionais de energia e alimentos voltarem a cair, o Brasil pode ter novos meses de superávit menor.
O Mdic aposta na diversificação das exportações e na modernização dos portos para manter o saldo positivo em 2025, em meio à valorização do dólar e às incertezas do comércio global.