As delações premiadas na Americanas (AMER3) trouxeram novos elementos à investigação do Ministério Público Federal (MPF). O caso envolve fraudes contábeis que abalaram a companhia e o mercado financeiro. O ex-diretor estatutário Márcio Cruz Meirelles firmou acordo com o MPF nesta terça-feira (07/09). Ele se tornou o quarto delator da Americanas a colaborar na apuração do escândalo, que soma cerca de R$ 25 bilhões em irregularidades.
Segundo informações da Folha de S.Paulo, Meirelles descreveu uma cultura de pressão por resultados e relatou o início das manobras contábeis fraudulentas que sustentaram o falso desempenho da empresa por anos. Ele se junta a Marcelo Nunes, Flávia Carneiro e Fábio Abrate, também delatores, cujos depoimentos ajudam a reconstruir a engrenagem de manipulação financeira dentro da varejista.
Confira no vídeo a reportagem sobre os primeiros ex-diretores da Americanas que firmaram acordo de delação premiada:
MPF reforça denúncias contra ex-CEO Miguel Gutierrez
A fraude na Americanas levou o Ministério Público Federal (MPF) a denunciar 13 ex-executivos e ex-funcionários da companhia. A denúncia foi apresentada em abril de 2024, após a Operação Disclosure Americanas, conduzida pela Polícia Federal (PF). Segundo o MPF, os crimes investigados incluem organização criminosa, falsidade ideológica, manipulação de mercado e uso de informações privilegiadas.
O MPF confirmou que quatro desses executivos — Marcelo Nunes, Flávia Carneiro, Fábio Abrate e Márcio Cruz Meirelles — firmaram acordos de delação premiada. Assim, nove denunciados seguem sem colaboração formal com as autoridades. A denúncia foi recebida pela Justiça Federal e tramita em segredo de justiça, o que impede a divulgação pública de detalhes processuais.
Denunciados tentam enganar a imprensa e ocultar o caso dos delatores da Americanas
Paralelamente às investigações, um dos executivos denunciados pelo MPF têm adotado uma estratégia de má-fé jurídica e midiática. Por meio de um “suposto advogado“, esse ex-gestor envia e-mails a redações de veículos de comunicação, pedindo a remoção de matérias que mencionam seu nome. Nos pedidos, costumam anexar certidões negativas de prisão e prints de consultas ao site do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) que exibem o termo “nada consta”.
A manobra, segundo fontes ligadas ao caso, explora um vazio técnico: os processos contra esses denunciados correm em segredo de justiça, e por isso não aparecem em consultas públicas. O “nada consta”, portanto, não indica absolvição, mas apenas que a ação está sob sigilo judicial.
Com as novas delações, a tentativa de manipular a narrativa pública se torna ainda mais evidente. O expediente de alguns denunciados mostra o nível de distorção usado para enganar até a imprensa. O fato de forjarem uma imagem de inocência reforça o contraste com os delatores da Americanas, que optaram por colaborar e detalhar a fraude contábil.
Consequências jurídicas e avanço das investigações sobre os delatores da Americanas
O caso remonta a 11 de janeiro de 2023, quando a Americanas revelou inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões. No dia seguinte, as ações despencaram 77%, e os executivos recém-nomeados Sergio Rial (CEO) e André Covre (CFO) renunciaram. Poucos dias depois, a empresa entrou com pedido de recuperação judicial, sendo retirada de 14 índices da B3.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também abriu processos contra ex-gestores e acusou quatro deles de uso de informação privilegiada. Em paralelo, a Americanas iniciou arbitragem contra os ex-diretores para tentar reaver parte dos prejuízos financeiros.
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Novas delações ampliam o cerco aos delatores da Americanas e reforçam o papel do MPF
Com quatro delatores da Americanas colaborando, o MPF entra na fase mais sensível do caso. As informações fornecidas por Márcio Meirelles e os demais executivos permitem aprofundar a linha do tempo das fraudes e confirmar a estrutura interna de manipulação contábil. A expectativa é que o Ministério Público apresente denúncias complementares e novas medidas cautelares nas próximas semanas.
As delações reforçam que o esquema nasceu de metas financeiras inatingíveis, sustentadas por relatórios artificiais e ausência de fiscalização interna efetiva. O escândalo já é tratado como um marco jurídico para o mercado brasileiro, reabrindo debates sobre governança corporativa, compliance e responsabilidade penal de administradores.
A repercussão também expõe um dilema ético que o caso simboliza. Os delatores da Americanas ajudam a esclarecer o enredo das fraudes e colaboram com a Justiça. Já outros denunciados tentam manipular a narrativa pública, desafiando a credibilidade do sistema de informação e transparência.