A crise no Banco Master com o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) entrou em mais uma fase após a instituição decidir rolar por mais 45 dias a linha emergencial de R$ 4 bilhões. O fundo, criado para preservar a estabilidade do sistema financeiro, havia sido renovado em maio e estava prestes a vencer, em meio à incerteza sobre o futuro do banco.
A decisão foi revelada inicialmente por Lauro Jardim, em O Globo, e confirmada pelo Valor Econômico. Segundo o jornal, a medida amplia o prazo de reestruturação e reforça o esforço para evitar impactos sistêmicos.
O FGC tem atuado como “colchão de liquidez” para garantir a continuidade das operações do banco e proteger correntistas e investidores.
Uma fonte do Banco Central ouvida pelo Economic News Brasil afirmou que o “FGC estendeu o prazo por falta de alternativas para conter um problema maior. O Banco Master corre contra o tempo para levantar novas fontes de capitalização antes do fim da janela de pouco mais de um mês”
Leia Também: Família Rezende Barbosa cobra R$ 470 milhões do Banco Master na Justiça
Reestruturação em meio à crise no Banco Master
No mesmo período em que obteve o novo apoio, o Master liquidou R$ 200 milhões em certificados de depósito bancário (CDBs) e manteve o plano de venda de ativos. Entre as medidas já concluídas estão a alienação da seguradora Kovr e a contratação da consultoria Laplace para conduzir a reorganização do grupo, que inclui a negociação da venda do Will Bank.
O momento é de alta vigilância por parte do Banco Central (BC) e de agentes do setor.
Confira no vídeo como a crise do Banco Master colocou o FGC em risco:
Linha do tempo da crise no Banco Master
- Fevereiro/2024: Banco Master adquire o Will Bank, ampliando atuação no crédito digital;
- Abril/2024: Banco da Amazônia (BASA) compra R$ 25 milhões em títulos do Master, sem cobertura do FGC.
- Julho/2024: BASA adquire mais R$ 15 milhões em títulos do Master, também fora da proteção do FGC;
- Setembro/2024: Banco Master passa por mudança acionária com a saída de Maurício Quadrado que vendeu sua participação de 20% à Daniel Vorcaro;
- Março/2025: Banco de Brasília (BRB) anuncia acordo para comprar ativos do Banco Master; operação gera questionamentos no mercado’
- Abril/2025: Ministério Público Federal (MPF) abre notícia de fato e inicia apurações sobre créditos consignados.
- 02/05/2025: Joesley Batista, via J&F, anuncia compra de ativos do Master;
- 06/05/2025: Justiça do DF suspende operação de compra do BRB, após questionamentos do MPDFT;
- 27/05/2025: BTG adquire ativos de Daniel Vorcaro por R$ 1,5 bilhão;
- 30/06/2025: BC identifica falhas na venda de ativos ao BRB;
- 03/09/2025: Banco Central veta a operação, citando risco de sucessão e sobrepreço de ativos;
- 26/09/2025: Venda da seguradora Kovr à J&F é concluída.
- 29/09/2025: Metalfrio nega relação comercial ou societária com o Banco Master;
- 30/09/2025: Polícia Federal (PF) abre inquérito sigiloso sobre a gestão do Master; revelação feita pela Folha de S. Paulo e confirmada por O Globo;
- 08/10/2025: Prorrogado por 45 dias o empréstimo emergencial do FGC de R$ 4 bilhões.
Investigações agravam a crise no Banco Master
O ambiente ficou mais sensível desde que a Polícia Federal abriu, no fim de setembro, um inquérito sigiloso para investigar suspeitas relacionadas à gestão do Banco Master e à tentativa de aquisição pelo Banco de Brasília (BRB). A apuração, revelada pela Folha de S. Paulo e confirmada por O Globo, baseia-se em documentos enviados pelo BC ao Ministério Público Federal (MPF). O órgão regulador rejeitou o negócio após cinco meses de análise, ao detectar inconsistências nos registros de parte da carteira de crédito consignado cedida ao BRB.
Segundo os documentos, houve indícios de que parte dessas carteiras pode ter sido registrada por valores acima do real, além de operações de venda realizadas antes do anúncio público da transação, em março.
Credibilidade e vigilância no sistema financeiro com risco dominó
Especialistas consultados pelo Economic News Brasil afirmam que, em situações semelhantes, o Banco Central já decretou intervenção para preservar a confiança do sistema.
“Banco para operar precisa é de credibilidade”, resumiu uma fonte do mercado.
O desfecho da crise no Banco Master dependerá da conclusão da operação para venda de mais ativos e da capacidade da instituição de recompor liquidez antes do fim do novo prazo. Até lá, o FGC e o BC seguem atentos à evolução do quadro, conscientes de que o episódio serve de alerta para o risco dominó e para a importância de mecanismos de supervisão mais transparentes no sistema financeiro brasileiro.