A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (17/10), apontou um crescimento de 25,4% no número de pessoas que realizam trabalho por aplicativos no Brasil entre 2022 e 2024. Ao todo, 1,7 milhão de pessoas estavam ocupadas por meio de plataformas digitais, o equivalente a 1,9% da força de trabalho do setor privado.
O levantamento da PNAD Contínua também indica que o avanço foi impulsionado principalmente por motoristas e entregadores. O estudo, desenvolvido em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Ministério Público do Trabalho (MPT), integra o módulo experimental sobre trabalho digital e economia de plataformas.
Perfil dos trabalhadores por aplicativos segundo a PNAD Contínua
De acordo com a PNAD Contínua, 86,1% dos plataformizados atuam por conta própria, enquanto apenas 6,1% são empregadores privados. Além disso, o estudo também revela que o grupo é formado majoritariamente por homens (83,9%), com faixa etária entre 25 e 39 anos (47,3%) e nível médio completo ou superior incompleto (59,3%).
Distribuição regional e por tipo de aplicativo:
- Sudeste: 53,7% dos trabalhadores.
- Nordeste: maior proporção no transporte de passageiros (69,4%).
- Sul: destaque em serviços profissionais (23,2%).
- Norte: menor participação em serviços gerais (8,3%).
Categorias de atuação:
- 58,3% em transporte de passageiros (964 mil pessoas).
- 29,3% em entregas (485 mil).
- 7,8% em serviços gerais ou profissionais (294 mil).
“Esse crescimento pode sinalizar maior diversificação de ocupações exercidas e de serviços prestados por meio de plataformas digitais”, destacou Gustavo Geaquinto, analista do IBGE.
Rendimento e condições de trabalho
Além disso, a PNAD Contínua mostra que o rendimento médio mensal dos plataformizados foi de R$ 2.996, ligeiramente superior ao dos não plataformizados (R$ 2.875). Entretanto, a jornada média semanal foi de 44,8 horas, frente a 39,3 horas dos demais, o que reduziu o rendimento-hora para R$ 15,4, 8,3% menor que o dos outros trabalhadores.
Rendimento médio por categoria:
- Motoristas de aplicativo: R$ 2.766 e 45,9 horas semanais.
- Motociclistas plataformizados: R$ 2.119, acima dos R$ 1.653 dos não plataformizados.
- Entregadores: 46,4 horas semanais e renda média de R$ 2.340.
“Os condutores de automóveis plataformizados alcançam maiores rendimentos, mas registram jornadas mais extensas e alto grau de informalidade”, explicou Gustavo Geaquinto.
Previdência e informalidade no recorte da PNAD Contínua
A PNAD Contínua evidencia uma baixa cobertura previdenciária entre os trabalhadores por aplicativos. Apenas 35,9% contribuem para a previdência, ante 61,9% dos não plataformizados.
A informalidade alcança 71,1% dos plataformizados, cerca de 30 pontos percentuais acima da média nacional. Dado esse fato, entre motoristas e motociclistas, as taxas ultrapassam 80%, reforçando a falta de vínculos formais.
Por ocupação:
- Motoristas plataformizados: 83,6% informais.
- Motociclistas plataformizados: 84,3% informais.
Esse cenário reforça a dependência dos trabalhadores de aplicativos em relação às plataformas, além de revelar a necessidade de políticas públicas que ampliem a proteção social e previdenciária.
Controle das plataformas digitais e impactos sociais
Além disso, Os dados da PNAD Contínua também mostram que as empresas exercem forte controle sobre a remuneração e a rotina desses trabalhadores:
- 91,2% dos motoristas afirmaram que o valor recebido é definido pela plataforma.
- 76,8% dos entregadores disseram que a forma e o prazo de pagamento são determinados pelo aplicativo.
- 55,8% dos motoristas e 50,1% dos entregadores relataram alterações nos preços por meio de bônus e promoções.
- 30% mencionaram ameaças de bloqueio ou punições.
“As empresas de plataformas digitais detêm importante controle sobre a organização e a remuneração dos trabalhadores”, analisou Leonardo Quesada, do IBGE.
PNAD Contínua e as novas dinâmicas do trabalho digital
A PNAD Contínua aponta que o avanço das plataformas redefine o mercado urbano de trabalho, ao combinar autonomia aparente com dependência tecnológica. Apesar de expandir o acesso a ocupações, o modelo ainda carrega desafios de formalização, renda sustentável e cobertura previdenciária.
Conforme o IBGE, o fenômeno tende a consolidar um modelo híbrido de ocupação, marcado pelo controle algorítmico e pela flexibilidade. Além disso, a pesquisa reforça a importância de novos marcos regulatórios capazes de equilibrar inovação e proteção social em um cenário de rápido avanço digital.