A bolha da Inteligência Artificial (IA) pode ser a maior já registrada, segundo o analista britânico Julien Garran, sócio da consultoria MacroStrategy Partnership.
Em relatório divulgado no início de outubro (10/10), Garran afirma que o ciclo especulativo atual é 17 vezes maior que a bolha da internet que impactou o mercado no fim dos anos 1990 / começo dos anos 2000. Além disso, a bolha pode ser quatro vezes mais ampla do que a crise imobiliária de 2008. Isso porque é impulsionada por expectativas “descoladas da realidade econômica” quanto à Inteligência Artificial.
Ao contrário do entusiasmo predominante em Wall Street e da previsão da Organização Mundial do Comércio (OMC) que relata crescimento do comércio global impulsionado pela IA, o pesquisador vê um mercado dependente de capital contínuo e sem fundamentos de rentabilidade.
“Estamos diante da maior e mais perigosa bolha que o mundo já viu”, declarou Garran à CNN americana.
Estrutura financeira desequilibrada gera bolha da Inteligência Artificial
O estudo cita dados do Financial Times mostrando que dez startups de IA acumularam US$ 1 trilhão em valor de mercado nos últimos 12 meses, mesmo sem gerar lucro. A única grande vencedora do ciclo, afirma Garran, é a Nvidia, cujos ganhos com chips para data centers sustentam parte da euforia.
Já os desenvolvedores de modelos de linguagem, as operadoras de infraestrutura e as empresas de software de Inteligência Artificial seguem com prejuízos recorrentes, resultando na bolha.
Para o analista, a distorção de preços revela um desequilíbrio na alocação de capital global. O fluxo de venture capital estaria diminuindo, pressionado pelas avaliações elevadas e pela falta de resultados tangíveis. Ele aponta ainda o endividamento crescente de fundos como o SoftBank, que precisou levantar recursos para cumprir compromissos de investimento na OpenAI.
Limites tecnológicos e retorno duvidoso
Além dos fatores financeiros, Garran questiona a capacidade técnica dos grandes modelos de linguagem (LLMs) de gerar produtos comercialmente viáveis. “Se você usa IA de modelo de linguagem para criar um produto, ele jamais será comercial”, afirmou.
Para ele, a tecnologia atingiu um “limite de escala”: quanto mais se investe em aprimoramento, menores são os ganhos de performance. Por isso, o mercado já discute amplamente a ideia de uma bolha da Inteligência Artificial ao longo do último ano.
A ausência de avanços desde o lançamento do ChatGPT-4, em março de 2023, reforça sua visão de que o mercado se apoia mais em narrativas do que em inovação real.
Perspectiva futura do mercado de IA
Apesar das críticas, a valorização das ações de IA ainda atinge máximas históricas. Analistas do Deutsche Bank já apontaram que a bolha “pode ter estourado”, embora o mercado continue aquecido. Por isso, Garran alerta que, ao desviar recursos de setores produtivos, a euforia atual pode reduzir o crescimento global futuro. “A IA é esperança sobre expectativa realista”, resume.
Se a bolha da Inteligência Artificial persistir, o risco é de uma correção abrupta semelhante à da internet em 2000, com destruição de valor e retração do crédito. Enquanto isso, portanto, o mercado financeiro segue dividido entre o entusiasmo tecnológico e o temor de uma nova onda especulativa global.