A ação do Grupo Mateus voltou a recuar cerca de 15% após a varejista reconhecer, na última quinta-feira (13/11) um erro de R$ 1,1 bilhão na avaliação dos estoques, em um ajuste que também reduziu o patrimônio líquido em R$ 695 milhões.
A correção, que revisou o estoque divulgado de R$ 6 bilhões para R$ 4,9 bilhões, ampliou a pressão do mercado sobre a governança da empresa, que enfrenta questionamentos desde a divulgação do balanço reapresentado. A queda acumulada do papel reflete a perda de confiança de investidores.
Os comunicados recentes geraram dúvidas sobre a origem das distorções contábeis e sobre por que o tema só foi detalhado agora. Embora a administração tenha reiterado que o ajuste não altera o caixa atual, gestores afirmam que o impacto futuro pode ser maior, já que a companhia acreditava ter um volume de produtos que, na prática, não existia. Esse debate se intensificou nos últimos dias e mantém a ação do Grupo Mateus sob intenso monitoramento no mercado.
Ação do Grupo Mateus e o histórico dos controles internos
A rede já havia sido alertada sobre fraquezas nos controles internos em anos anteriores. Em 2020, a Grant Thornton identificou 42 deficiências moderadas relacionadas a estoques e sugeriu a implantação de um sistema mais robusto de acompanhamento.
Nos formulários de referência seguintes, porém, a empresa deixou de mencionar essas fragilidades, sem apresentar explicações claras sobre como as resolveu. A troca de auditoria em 2025, com a entrada da Forvis Mazars, trouxe novas discussões sobre a qualidade das revisões contábeis, embora a firma não tenha feito ressalvas nos pareceres deste ano.
A expansão acelerada nos últimos anos elevou a complexidade operacional da companhia e agravou a necessidade de controles mais estruturados. Analistas afirmam que a supervisão de inventários não acompanhou a abertura de lojas e a diversidade de formatos comerciais, criando lacunas que agora emergem em escala mais ampla, provocando a queda da ação do Grupo Mateus.
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Falhas de inventário na operação levaram a atual crise
Além do ajuste contábil, o Grupo Mateus reconheceu falhas operacionais que contribuíram para distorções internas e crise. Entre erros apontados, temos:
- Lojas passaram até dois anos sem inventário completo;
- A equipe fez checagem de produtos por amostragem;
- Em alguns casos, equipes desviavam itens no descarregamento ou registravam os produtos com códigos mais baratos.
Além disso, a diretoria afirmou que a rede precisou reforçar controles e tecnologia para inibir perdas internas e aumentar a frequência das verificações físicas, que passaram a ser mensais.
Segundo executivos do setor, erros no cálculo do custo médio podem estar ligados a tributos de entrada ou ao tratamento de bonificações. Temas, inclusive, que historicamente geraram dificuldades para grandes varejistas. Essa combinação de fatores reforçou a leitura de que o sistema contábil e operacional do Mateus não acompanhou seu crescimento.
Trajetória da ação do Grupo Mateus e seus efeitos para o investidor
A atual crise do Grupo Mateus tem ampliado a atenção sobre o papel e reforça expectativas de ajustes adicionais caso novos dados revelem inconsistências. Embora a companhia tenha iniciado a adoção de sistemas como o Kardex e reforçado equipes de inventário, o mercado mantém cautela em relação ao desempenho futuro.
A continuidade da correção de processos internos e a transparência nas próximas divulgações serão determinantes para reduzir a volatilidade da ação do Grupo Mateus. Tudo isso enquanto o setor varejista segue sob escrutínio após diversos ruídos contábeis nos últimos anos.











