A usina nuclear de Kashiwazaki-Kariwa recebeu na segunda-feira (22/12) a autorização política final para retomar operações no Japão, após aprovação da assembleia da província de Niigata. A decisão encerra um processo iniciado há mais de uma década, desde o desligamento do parque nuclear japonês após o desastre de Fukushima, em 2011.
Localizada a cerca de 220 quilômetros de Tóquio, Kashiwazaki-Kariwa é considerada a maior usina nuclear do mundo em capacidade instalada. O complexo reúne sete reatores e soma 8,2 gigawatts, volume capaz de atender aproximadamente sete milhões de residências, segundo dados do setor energético japonês.
De acordo com a emissora pública NHK, a Tokyo Electric Power Company (Tepco) planeja religar o reator número 6 por volta de 20 de janeiro de 2026. A expectativa inicial é que uma unidade de 1,36 gigawatt entre em operação no próximo ano, enquanto outro reator de mesma capacidade seja reativado até 2030.
Estrutura da usina nuclear e cronograma de retomada
A retomada da central ocorre após mudanças no ambiente regulatório. Em dezembro de 2023, a Autoridade de Regulação Nuclear do Japão suspendeu a proibição que impedia a Tepco de operar a instalação. A decisão veio após a agência concluir que a empresa implementou melhorias em sistemas de controle, governança interna e protocolos de segurança, embora a liberação tenha permanecido condicionada ao aval das autoridades locais.
Para Leonam Guimarães, diretor técnico da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan) e ex-presidente da Eletronuclear, o atual arcabouço oferece bases mais sólidas para a operação. Segundo ele, apesar da desconfiança social persistente, o setor hoje atua sob exigências técnicas mais rigorosas e supervisão independente.
Estratégia energética
A planta nuclear se insere em uma estratégia mais ampla do governo japonês para reduzir custos e reforçar a segurança energética. Antes de 2011, a energia nuclear respondia por cerca de 30% da eletricidade do país. Após o desligamento dos reatores, a dependência de combustíveis fósseis importados elevou a participação de gás natural e carvão para até 70% da geração.
Dados oficiais indicam que, no último ano, o Japão gastou aproximadamente 10,7 trilhões de ienes com a importação desses combustíveis. Esse aumento pressionou tarifas, inflação e a balança comercial, levando o governo a reposicionar a energia atômica como ferramenta de equilíbrio econômico e ambiental.
O plano energético mais recente prevê dobrar a participação da usina nuclear na matriz elétrica, para cerca de 20%, até 2040. Além disso, a primeira-ministra Sanae Takaichi tem defendido a reativação gradual das centrais como parte da política de controle de custos e garantia de oferta, especialmente diante do avanço de data centers e da infraestrutura de inteligência artificial, que exigem fornecimento contínuo e em grande escala.











