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Aumento da Taxa Selic: Especialistas analisam os impactos na economia brasileira

Geldo Machado e Pedro Brandão
Geldo Machado e Pedro Brandão

A recente elevação da Taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) provocou discussões entre especialistas do mercado financeiro sobre os impactos da Selic no Brasil. A decisão de aumentar a Selic em 0,25%, de 10,5% para 10,75% ao ano, tem como objetivo conter a inflação. O ex-banqueiro Geldo Machado, presidente do Sinfac (CE-PI-MA-RN), e o empresário Pedro Brandão, especialista em finanças e CEO da CredÁGIL, analisaram, com exclusividade para o Economic News Brasil, os impactos dessa decisão.

Entendendo o Aumento da Selic

O Copom justificou a elevação da Taxa Selic citando os riscos inflacionários internos, como o crescimento acima do esperado na atividade econômica e no mercado de trabalho. O comunicado oficial ressaltou que a inflação medida pelo IPCA e as demais medidas subjacentes estão acima da meta.

Pedro Brandão, CEO da CredÁGIL, comenta: “Esse aumento da Selic eleva o custo de captação de recursos, o que afeta diretamente o crédito, as antecipações de recebíveis e os custos para o consumidor final”.

ENB: Geldo Machado, o que está pressionando a inflação no Brasil?

GM: Diversos fatores contribuem para a pressão inflacionária, como a desvalorização do real frente ao dólar, que encarece as importações. Além disso, o aumento dos gastos públicos tem um papel significativo, além de uma economia aquecida com o PIB e o mercado de trabalho superando as expectativas.

ENB: Pedro Brandão, qual o impacto imediato da alta da Selic para os consumidores?

PB: A alta da Selic aumenta o custo do crédito, encarecendo empréstimos, financiamentos imobiliários e compras a prazo. Isso afeta diretamente o consumo e os investimentos, pois as condições de crédito ficam menos acessíveis, dificultando o acesso a linhas de crédito mais baratas.

Influência Externa e o Papel do Federal Reserve

A decisão do Federal Reserve, nos Estados Unidos, de reduzir sua taxa de juros também impacta o Brasil. A diferença entre as taxas de juros nos dois países pode atrair mais investimentos para cá, afirma Pedro Brandão: “Com juros menores nos EUA e maiores aqui, o diferencial de taxas torna o Brasil mais atrativo para investidores estrangeiros”.

Geldo Machado observa que a queda nos preços de commodities e possíveis reduções no preço da gasolina podem ajudar a mitigar os efeitos da alta da Selic no Brasil.

ENB: Pedro Brandão, como a queda dos juros nos EUA impacta o Brasil?

PB: Com o Federal Reserve reduzindo as taxas, o diferencial de juros em relação ao Brasil aumenta, atraindo mais investidores estrangeiros para nossa renda fixa. Isso pode conter a desvalorização do real, o que seria benéfico para nossa economia.

ENB: Geldo Machado, qual o impacto da alta da Selic no crédito para empresas e consumidores?

GM: O crédito fica mais caro, tanto para empresas quanto para consumidores. Para as empresas, o custo dos financiamentos aumenta, freando investimentos. Para os consumidores, os financiamentos imobiliários, de veículos e o crédito pessoal se tornam mais onerosos.

Setores Impactados: Imobiliário e de Serviços

A alta da Selic afeta diretamente setores como o imobiliário e o de serviços, ambos dependentes de crédito. Com os juros elevados, o custo dos financiamentos aumenta, desestimulando consumidores e empresas a realizarem aquisições ou expansões.

Pedro Brandão destaca: “No setor imobiliário, por exemplo, os compradores tendem a adiar a aquisição de imóveis financiados, aguardando melhores condições de juros”.

No setor de serviços, a Selic mais alta faz com que as empresas que dependem de crédito para expandir suas operações se tornem mais conservadoras, reduzindo investimentos e crescimento.

ENB: Pedro Brandão, de que maneira a Selic alta afeta pequenos e médios empreendedores?

PB: Pequenos e médios empreendedores são fortemente impactados, pois muitos dependem de financiamentos para expandir ou manter suas operações. Com o crédito mais caro, eles são forçados a reavaliar seus planos de crescimento e, muitas vezes, adotar uma postura mais cautelosa.

Políticas Fiscais e o Papel do Governo

Além da política monetária, a condução da política fiscal pelo governo é um ponto central nas discussões econômicas. O Banco Central já alertou para os riscos de uma expansão fiscal sem controle, o que pode agravar a inflação. Geldo Machado ressalta que um controle fiscal mais rigoroso permitiria uma política monetária mais flexível.

ENB: Geldo Machado, como o controle dos gastos públicos afeta a política monetária?

GM: Quando o governo gasta mais do que arrecada, isso pressiona a inflação, levando o Banco Central a aumentar os juros, como estamos vendo com a alta da Selic. Se o governo controlar seus gastos, o Banco Central poderia adotar uma postura mais flexível.

Impacto no Cotidiano dos Consumidores

A alta da Selic tem reflexos diretos no dia a dia dos consumidores. Compras financiadas, como automóveis e eletrodomésticos, ficam mais caras. “As parcelas de financiamentos sobem, o que desestimula o consumo de bens de maior valor”, comentou Pedro Brandão.

ENB: Pedro Brandão, qual é o impacto da Selic alta no financiamento de automóveis e imóveis?

PB: Com o aumento da Selic, as parcelas dos financiamentos sobem, desestimulando as famílias a adquirirem imóveis e veículos. Muitas acabam postergando essas aquisições até que os juros voltem a cair.

Desafios com os Impactos da Taxa Selic no Brasil

A decisão do Copom de aumentar a Selic reflete a tentativa de controlar a inflação em meio a um cenário de incertezas fiscais e pressões econômicas. Geldo Machado e Pedro Brandão concordam que o futuro da Selic dependerá da evolução das expectativas de inflação e das medidas fiscais adotadas pelo governo. Apesar do cenário externo favorável com a queda dos juros nos EUA, o Brasil enfrenta desafios internos significativos na condução de sua política monetária.

Os impactos da Taxa Selic no Brasil incluem crédito mais caro, desaceleração no consumo e investimentos reduzidos, especialmente para pequenas e médias empresas. O Banco Central terá que monitorar constantemente os fatores internos e externos que influenciam a inflação e a economia do país, buscando o equilíbrio necessário para estabilizar a economia.