O empreendedorismo feminino no Brasil ganhou reconhecimento internacional com a criação do Dia do Empreendedorismo Feminino, celebrado em 19 de novembro. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014, por meio da ONU Mulheres, reunindo mais de 150 países, empresas e instituições em apoio à igualdade de gênero e contra a desigualdade salarial no meio empresarial.
Empreendedorismo feminino no Brasil em números
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), cerca de 10 milhões de brasileiras são empreendedoras atualmente. O levantamento revelou que a maioria iniciou um negócio por impulso. Hoje, elas representam 34% do total de empreendedores no país, evidenciando a força do empreendedorismo feminino no Brasil.
A pesquisa do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME) mostrou que 46% das mulheres empreendem por necessidade e outros 46% por oportunidade, mas os perfis são distintos:
Empreendedoras por oportunidade (classes A e B):
- 64% têm ensino superior.
- 55% atuam no mercado há mais de cinco anos.
- 54% são mulheres negras.
Empreendedoras por necessidade (classes D e E):
- 71% pertencem às classes D e E.
- 56% têm apenas ensino fundamental.
- 52% são mulheres negras.
- 51% possuem negócios com até dois anos de existência.
O IRME também revelou a percepção sobre o ambiente profissional: três em cada quatro mulheres o veem como hostil. Para 78%, a desigualdade salarial persiste, mesmo em funções equivalentes às dos homens. A maioria reconhece ter a mesma capacidade empreendedora, mas enfrenta obstáculos adicionais para se afirmar no mercado.
Desafios e oportunidades do empreendedorismo feminino no Brasil
Exemplos de trajetórias de destaque reforçam esse cenário. Márcia Sena, ex-executiva, criou a Senior Concierge a partir da própria experiência de cuidar dos pais idosos. A empresa oferece soluções para mobilidade, bem-estar e autonomia na terceira idade.
“Já tivemos cuidadoras que trabalharam conosco na Senior Concierge e a independência financeira as ajudou a saírem da situação de agressão. Então, quando criamos o Instituto, resolvi fazer uma parceria com a Defensoria Pública e oferecer bolsas de estudo para mulheres vítimas de violência doméstica”, explica Márcia, especialista em longevidade ativa.
Na tecnologia, Cláudia Galvão, fundadora e CEO da startup Noar, enfrentou preconceito para viabilizar o “cheiro digital”, inovação que simboliza como o empreendedorismo feminino no Brasil também avança em áreas de alta tecnologia.
“Esse acontecimento foi bastante chocante, mas eu consegui superar com o meu trabalho para mostrar que, sim, era possível”, afirma Cláudia.
A Noar acabou recebendo investimento da Wheaton, uma das maiores fabricantes de embalagens de vidro do mundo.
Trajetórias que inspiram novas gerações
Outro nome de referência é Sylvia Bellio, fundadora da itl.tech, maior canal de vendas da Dell EMC no Brasil, já premiada diversas vezes pela fabricante. Ativista pelo empoderamento feminino na tecnologia, ela é autora de livros como Simplificando TI e Mulheres Além do Óbvio, além da coletânea TI de Salto, que reúne histórias de mulheres de destaque na área.
“São muitas as narrativas inspiradoras. Desde o lançamento do primeiro livro eu sabia que a proposta não deveria terminar ali”, afirma Sylvia.
No mercado de luxo e intermediação de negócios, Jennifer Chen também se destaca. Com carreira iniciada aos 13 anos como modelo, ela se tornou empresária da moda, do setor imobiliário e fundadora da JC Capital, especializada em captação de recursos no exterior.
“Na maioria das vezes, sou a única mulher na mesa de reunião”, comenta Jennifer.
Hoje, atua ainda como sócia de empresas como Wanaka Capital, Unidroid e Gaya Food.
“É uma dádiva eu poder trabalhar com tantas empresas e aprender todos os dias. Me realiza sentar com a pessoa que começou um negócio e ajudar a crescer e conectar as pontas”, diz Chen.
O empreendedorismo feminino no Brasil segue em ascensão, mas a desigualdade de oportunidades ainda impõe barreiras. Ao mesmo tempo, as histórias de superação de Márcia Sena, Cláudia Galvão, Sylvia Bellio e Jennifer Chen mostram que há espaço para inspirar novas gerações e consolidar a presença das mulheres em diferentes setores da economia.