Economista Flavio Ataliba é pesquisador associado do FGV IBRE e ex-secretário executivo do Planejamento e Orçamento do Ceará.
Na última quarta-feira (15/02), o FGV IBRE divulgou dados regionais da nova Sondagem do Mercado de Trabalho, destacando a situação da região Nordeste. Durante um evento híbrido realizado em Fortaleza (CE), o coordenador do estudo, Rodolpho Tobler, ressaltou que os dados da Sondagem reforçam os sinais de maior fragilidade presentes na economia nordestina quando se trata de geração de emprego e renda.
A seguir, destacamos alguns dos principais dados levantados pela pesquisa:
- A região Nordeste concentra a segunda maior população em idade para trabalhar do país, perdendo apenas para o Sudeste;
- A taxa de ocupação na região é a menor entre as regiões brasileiras;
- A taxa de desemprego no Nordeste foi de 12% no terceiro trimestre de 2022, contra 8,7% na média nacional;
- A região nordestina possui a segunda maior taxa de informalidade do país, com 52,2% do total dos ocupados, quase 13 pontos percentuais acima da média nacional;
- A proporção de desalentados na região é mais de quatro vezes maior do que a encontrada no Sudeste;
- O rendimento médio recebido pelos trabalhadores no Nordeste é 33% abaixo da média nacional das ocupações, em qualquer categoria;
- Entre as pessoas ocupadas em atividades sem qualquer registro, 90,2% gostariam de ter um emprego com carteira assinada;
- Entre os trabalhadores por conta própria, uma fatia maior que a média regional afirmou que antes dessa ocupação era informal ou estava desempregada;
- A pesquisa destaca a referência de busca por maior independência na região, acima da média nacional, só perdendo para a região Centro-Oeste.
Além disso, a Sondagem do Mercado de Trabalho do FGV IBRE também mostrou que:
- Na região Nordeste, 49,8% dos respondentes consideram improvável perder o emprego nos próximos 12 meses, contra 58,7% na média nacional;
- Os nordestinos têm o segundo pior resultado quando o tema é ter um colchão financeiro para suportar as adversidades, com 73,4% afirmando que, caso perdessem o emprego, poderiam sustentar a família por no máximo três meses;
- Apesar de tantos resultados jogando contra a situação da população em idade ativa no Nordeste, a pesquisa mostrou que os trabalhadores da região registram o segundo maior índice de satisfação com o seu trabalho (77,5%), perdendo apenas para a região Sul.
O economista Flavio Ataliba (foto), que atualmente é pesquisador associado do FGV IBRE e ex-secretário executivo do Planejamento e Orçamento do Ceará, participou do evento e ressaltou a importância de se aprimorar a compreensão da dinâmica regional do trabalho e da renda. Ele afirmou que os reflexos da economia nacional variam de acordo com as peculiaridades e estruturas produtivas de cada região do país. Para Ataliba, os estudos divulgados “reabrem a discussão sobre essas questões regionais brasileiras” e trouxe à memória o debate ocorrido em 1950, época em que a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e o Banco do Brasil foram criados. O pesquisador enfatizou a importância de analisar o desequilíbrio de renda interpessoal e espacial como pontos cruciais para entender a realidade das regiões do país.
O ex-secretário destacou alguns pontos importantes sobre o desenvolvimento econômico do Nordeste, como:
- A região representa apenas 14% do PIB, apesar de concentrar 27% da população brasileira.
- As possibilidades de desenvolvimento econômico do Nordeste são grandes, principalmente em áreas como as energias renováveis.
- É fundamental estimular o empreendedorismo na região, a fim de evitar que o crescimento do trabalho por conta própria seja apenas de empreendedores por necessidade.
- Embora o trabalho com carteira assinada seja importante, empreender e prosperar um negócio também é relevante para dinamizar a economia.
Ataliba enfatizou a importância de olhar para o Nordeste como um todo, identificar suas potencialidades e entender suas particularidades para promover um desenvolvimento econômico mais equilibrado e justo para toda a população.
Além disso, a pesquisa também apresentou os seguintes percentuais em relação aos itens considerados de maior risco para os entrevistados e suas famílias nos próximos 3 anos:
- Saúde: 52,6%
- Desemprego: 46,4%
- Inflação: 38,2%
- Endividamento: 34,3%
- Mudanças nas leis trabalhistas: 27,8%
- Crise política: 20,4%









