O presidente do Banco do Nordeste do Brasil – BNB, Paulo Câmara, traz uma visão aprofundada sobre os resultados da instituição e a evolução da economia do Nordeste, detalha como a instituição conseguiu alcançar um crescimento recorde e apresenta sua visão sobre as oportunidades e desafios futuros para a região. Além disso, na entrevista ao Jornal Economic News Brasil, ele explora o papel do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) na promoção de projetos de infraestrutura, a ascensão do setor industrial, a sustentabilidade na agricultura e pecuária, a melhoria de processos dentro do BNB e a importância da pesquisa e inovação. Confira:
ENB – O BNB apresentou um crescimento expressivo em suas contratações no primeiro semestre, sendo o maior da história. A que você atribui e como foi possível, mesmo em meio à pandemia?
PC – De fato, estamos muito satisfeitos em informar que o Banco do Nordeste registrou um volume recorde de contratações no primeiro semestre deste ano. Foram mais de R$ 21 bilhões em recursos injetados na economia nordestina nos seis primeiros meses do ano, volume 34% superior ao do mesmo período do ano passado.
Esse crescimento significativo pode ser atribuído a uma série de fatores importantes. Em primeiro lugar, percebemos uma ambiência favorável para a retomada econômica com o novo governo do presidente Lula, o que trouxe um cenário mais propício para investimentos e desenvolvimento econômico na região Nordeste. E o BNB, por operar com exclusividade o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), apresenta-se como a melhor opção para quem quer investir na região.
Também temos adotado uma postura mais proativa em relação às grandes contratações, buscando identificar oportunidades estratégicas e investindo em projetos que tenham alto impacto na economia regional. Dessa forma, estamos impulsionando o desenvolvimento de setores-chave da nossa região e gerando mais oportunidades de emprego e renda para a população.
ENB – Como o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) tem sido decisivo para o avanço dos projetos de infraestrutura na região? Pode nos dar alguns exemplos práticos?
PC – O FNE desempenha um papel estratégico na promoção do desenvolvimento econômico e social do Nordeste brasileiro. É o nosso principal funding. Por meio do FNE, o BNB disponibiliza recursos financeiros, com as melhores taxas de juros e prazos de pagamento, para viabilizar projetos que atendam aos critérios estabelecidos, tanto para empreendimentos públicos quanto privados. Com uma abordagem abrangente e estratégica, o fundo tem apoiado diversas áreas da infraestrutura na região Nordeste.
Projetos de construção e modernização de rodovias e estradas têm sido financiados com o FNE, contribuindo para melhorar a logística de transporte de cargas e passageiros, bem como o acesso a regiões mais remotas. Além disso, o fundo tem desempenhado um papel fundamental no fomento das energias renováveis, como parques eólicos e usinas solares, impulsionando a diversificação da matriz energética regional e aproveitando o potencial natural da região.
Outra área estratégica beneficiada pelo FNE é o saneamento básico. Com financiamentos do fundo, projetos de abastecimento de água e tratamento de esgoto têm sido viabilizados, melhorando a qualidade de vida da população e contribuindo para a saúde pública. O fundo também tem apoiado a modernização e expansão de portos e aeroportos, fortalecendo a infraestrutura logística e facilitando o comércio regional e internacional.
ENB – Observamos um aumento notável na contratação de recursos para o setor industrial. A que se deve a alta e qual a importância do setor para a recuperação econômica da região?
PC – Por meio de uma abordagem mais célere e um atendimento personalizado, conseguimos atender às demandas dos empresários e empreendedores, proporcionando-lhes as condições necessárias para investir em suas atividades industriais. Essa modernização tem sido um diferencial para atrair novos investidores e impulsionar o crescimento industrial na região.
Outro aspecto importante é o foco no destravamento de grandes operações, especialmente aquelas voltadas para infraestrutura industrial. Ao viabilizarmos projetos de maior escala, somos capazes de alavancar setores estratégicos e promover a diversificação econômica, impactando positivamente o desenvolvimento regional.
Quanto à importância do setor industrial para a recuperação econômica da região, ela é inegável. A indústria é um dos pilares fundamentais para o crescimento econômico sustentável, uma vez que gera empregos de qualidade, agrega valor aos produtos e serviços, estimula a inovação tecnológica e contribui para a balança comercial, tanto regional quanto nacional.
Ao impulsionar o setor industrial, estamos promovendo uma cadeia de valor que envolve não apenas as empresas diretamente envolvidas, mas também diversos fornecedores, prestadores de serviços e trabalhadores, gerando um efeito multiplicador na economia local. Além disso, o crescimento da indústria contribui para atração de novos investimentos, fortalece a competitividade regional e possibilita a diversificação da matriz econômica, reduzindo a dependência de determinados setores e estimulando a criação de novas oportunidades de negócios.Parte superior do formulário
ENC – O BNB tem papel fundamental na agricultura e pecuária. Como o banco está apoiando esses setores para garantir a produção de alimentos e o desenvolvimento rural?
PC – O Banco do Nordeste oferece linhas de financiamento específicas para investimentos, como o FNE Rural, o FNE Irrigação, e produtos como o FNE Custeio Pecuário, permitindo que produtores rurais e agropecuários modernizem suas operações com maquinários, equipamentos e tecnologias. Valorizamos também a agricultura familiar, oferecendo linhas de crédito especiais e assistência técnica para fortalecer esse importante segmento na produção de alimentos e geração de renda no campo. Como maior financiador do agronegócio regional, recebemos um valor recorde a ser aplicado no Plano Safra 2023/2024, lançado recentemente. São R$ 20 bilhões em recursos, contemplando agricultura familiar e empresarial, o que representa um crescimento da ordem de 33% em relação ao disponibilizado pelo governo anterior.
Além das ações de crédito, o Banco do Nordeste desempenha um papel significativo na promoção da sustentabilidade no campo. Incentivamos a adoção de energias renováveis, como a energia solar para o bombeamento de água, reduzindo o impacto ambiental e aumentando a eficiência das atividades agropecuárias. Temos uma linha de crédito específica para isso, chamada FNE Sol. Além disso, oferecemos assistência técnica e capacitação para aprimorar as atividades agrícolas e pecuárias, fomentando a adoção de boas práticas e promovendo a sustentabilidade no campo, inclusive para os agricultores familiares enquadrados no Pronaf, do qual o BNB é o maior repassador de recursos na Região. Esse público, tão importante para a produção de alimentos, é atendido in loco por um agente de microcrédito por meio do programa Agroamigo, maior experiência em microfinanças rurais da América do Sul. Parte superior do formulário
ENB – O BNB divulgou que houve um esforço coletivo para melhoria de processos e avaliação de propostas. Pode detalhar quais foram os impactos?
PC – O Banco tem se empenhado em ser mais célere e ágil em suas operações, buscando aprimorar processos internos e adotando melhorias tecnológicas para agilizar as análises e aprovações de projetos. O Banco do Nordeste adotou o modelo de centrais de análise, que o torna mais eficiente nesse aspecto. Temos procurado tornar o processo de crédito menos burocrático, investido em produtos digitais, como o Cartão BNB, que proporciona agilidade e comodidade aos clientes, sendo uma espécie de cheque especial para empresários de todos os segmentos. Melhoramos ainda a experiência do cliente em nossos aplicativos, com o propósito de atender prontamente, com muita responsabilidade, as demandas de quem deseja investir na região.
ENB – Sendo o BNB a maior instituição financeira de desenvolvimento regional da América Latina, quais são os principais desafios e oportunidades que você identifica para o banco no cenário atual?
PC – Um dos principais desafios é continuarmos aprimorando nossos processos internos, tornando o banco ainda mais ágil e eficiente no atendimento às demandas da região. Além disso, buscamos fortalecer nossa atuação no suporte ao desenvolvimento sustentável e inclusivo, fomentando projetos que contribuam para a preservação ambiental e a geração de emprego e renda na região. Como oportunidades, temos a possibilidade de ampliar nossas parcerias com empresas, governos e instituições para diversificar nossas fontes de recursos e alavancar investimentos estratégicos que impulsionem a economia nordestina.
ENB – Pode compartilhar alguns exemplos de como o BNB tem apoiado empreendimentos de energia renovável, seja solar ou eólica?
Nos últimos cinco anos, o Banco do Nordeste investiu mais de R$ 30 bilhões em projetos de energia elétrica fotovoltaica e eólica. Por meio de linhas de crédito específicas, com recursos do FNE e outras fontes, temos financiado projetos de parques eólicos, usinas solares e outras fontes de energia limpa na região. Esses investimentos contribuem para a redução da emissão de gases de efeito estufa e o aproveitamento dos recursos naturais disponíveis no Nordeste. Com esse apoio, temos impulsionado a expansão do setor de energia renovável na região, que tem todas as condições de ser protagonista na transformação da matriz energética do país. Atuamos também no segmento de pessoa física, financiando projetos para quem deseja instalar energia solar em suas residências, além de agricultores familiares que procuram reduzir custos e utilizar energia sustentável em suas propriedades.
PC – Como o BNB planeja intensificar seu apoio à inovação, pesquisas e startups? Existe algum plano específico para isso?
Reconhecemos a importância desses setores para impulsionar o desenvolvimento econômico e a competitividade regional. Nesse sentido, temos iniciativas para fomentar a inovação e apoiar empreendedores, que incluem o Fundo de Desenvolvimento Econômico, Científico, Tecnológico e de Inovação (Fundeci) e o Hubine (Hub de Inovação do Nordeste).
O Fundeci é uma importante ferramenta de incentivo à inovação e pesquisa no Nordeste. Com esse fundo, o Banco do Nordeste tem apoiado, com recursos não reembolsáveis, por meio de editais, projetos inovadores e pesquisas científicas que contribuam para o desenvolvimento tecnológico e o aumento da competitividade das empresas da região. No último edital do Fundeci, o BNB destinou R$ 14 milhões a 17 projetos voltados para aceleração da agricultura familiar.
Já o Hubine representa um espaço fundamental para a conexão e promoção da inovação na região. Como um ambiente de colaboração e networking, busca estimular o empreendedorismo e a cultura da inovação no Nordeste brasileiro. Além disso, planejamos fortalecer nossas parcerias com universidades, incubadoras, aceleradoras e outras instituições ligadas à inovação e ao empreendedorismo. Acreditamos que o trabalho conjunto com esses atores é essencial para impulsionar o ecossistema de inovação no Nordeste, estimulando a criação de startups, o desenvolvimento de tecnologias e a geração de negócios inovadores.
