A estabilidade no endividamento de famílias é uma realidade atual no Brasil, conforme dados revelados pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O percentual de famílias endividadas se manteve em 77,4% em setembro, marcando o menor índice de endividados desde junho de 2022 e indicando uma possível tendência de estabilidade no cenário econômico.
A pesquisa revelou que o nível de endividamento se manteve estável em diversas modalidades de dívida, como cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, entre outros. Contudo, uma análise mais aprofundada revela nuances no cenário, especialmente quando se observa as faixas de renda dos consumidores. Apesar da estabilidade geral, um aumento de 0,3 ponto percentual foi identificado entre os consumidores de renda mais baixa, especificamente naquelas famílias que recebem até três salários mínimos. A CNC ressalta que isso indica “desafios persistentes” neste segmento, enfatizando a necessidade de estratégias direcionadas para apoiar estes consumidores.
O governo federal, através do programa Desenrola, tem uma iniciativa em curso que visa desnegativar os CPFs dessas famílias a partir deste mês. A CNC lembra que “o endividamento, por si só, não é sinônimo de problema financeiro”, mas se torna preocupante quando está associado à inadimplência, que também se encontra elevada nessa faixa de renda, atingindo 38,6%.
Um olhar sobre os tipos de dívida revela que 86,2% dos endividados têm contas pendentes no cartão de crédito, sendo esta a modalidade predominante de dívida. Além disso, os juros do rotativo do cartão alcançaram níveis preocupantes, com a média anual chegando a 445,7%, evidenciando uma alta expressiva e levantando alertas sobre a gestão de dívidas neste formato.
Ao analisar o perfil de gênero no uso de diferentes modalidades de pagamento, percebe-se que, ao longo do ano, o uso do cartão de crédito entre os homens aumentou 1,5 p.p., enquanto entre as mulheres houve uma redução de 0,5 p.p. As mulheres têm optado por dívidas no crédito consignado, que apresenta taxas de juros mais amenas, e explorado alternativas fora das linhas de crédito tradicionais. Embora tenha sido observada uma diminuição no endividamento anual tanto para homens (2,3 p.p.) quanto para mulheres (1,8 p.p.), a proporção de homens endividados recuou levemente (0,1 p.p.) no mês, enquanto a das mulheres permaneceu estável em 79,1%. A CNC conclui que, em termos de dificuldades para quitar dívidas, 30,6% das mulheres relatam enfrentar problemas, comparado a 29,6% dos homens.