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O impacto da alta do cacau nos preços do chocolate

Desafios e estratégias para o contexto atual da alta no preço do cacau

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Alta do cacau e impacto na indústria do chocolate/(Foto: Polina Tankilevitch/Pexels).
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Alta do cacau e impacto na indústria do chocolate/(Foto: Polina Tankilevitch/Pexels).

Em agosto de 2024, o preço do cacau registrou um aumento de 110% na Bolsa de Valores de Nova York, comparado ao mesmo período do ano anterior. Este aumento é consequência direta das adversidades climáticas enfrentadas pelos principais países produtores na África, responsável por 70% do fornecimento mundial. Especificamente, a Costa do Marfim, que sozinha representa 45% da produção global, sofreu severas perdas devido às condições climáticas desfavoráveis, agravadas pelo fenômeno El Niño e pelo envelhecimento das plantações. 

Estratégias da indústria do chocolate  

Apesar da alta no preço do cacau, os consumidores de chocolate ainda não estão sentindo um impacto significativo nos preços. Os fabricantes de chocolate têm adotado diversas estratégias para contornar a situação: 

  • Redução do lucro por unidade: empresas têm diminuído a margem de lucro para evitar repassar o aumento aos consumidores. Segundo Marcos Silveira Bernardes, professor da Esalq/USP, essa estratégia ajuda a manter os preços estáveis. 
  • Diminuição do tamanho dos produtos: fabricantes têm reduzido o tamanho das barras de chocolate, mantendo o preço estável para os consumidores. Esta prática, conforme Matheus Dias da FGV IBRE, permite economizar no uso do cacau. 
  • Diversificação de produtos: há um investimento crescente em produtos que utilizam menos cacau, como biscoitos e frutas cobertas de chocolate. Bruno Lasevicius, presidente da Associação Bean to Bar Brasil, aponta que essa diversificação ajuda a controlar os custos. 
  • Uso de estoques de matérias-primas: a indústria trabalha com estoques de cacau e seus derivados comprados antes do aumento de preços, permitindo um amortecimento temporário do impacto.
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A situação do cacau no Brasil 

O Brasil contribui com cerca de 4% da produção mundial de cacau, mas ainda não consegue suprir sua demanda interna de 300 mil toneladas anuais, colhendo apenas 220 mil toneladas. As adversidades climáticas, semelhantes às enfrentadas na África, também afetam as plantações brasileiras, atrasando colheitas e reduzindo a produção. 

O setor de cacau caminha para o terceiro ano consecutivo de déficit na produção mundial. Atualmente em 450 mil toneladas, conforme a Organização Internacional do Cacau (ICCO). A previsão de especialistas, como Anna Paula Losi da AIPC, é que a estabilização do setor pode levar até 10 anos, período necessário para que novos cacaueiros atinjam o pico de produção. 

Os estoques preenchidos e a negociação do cacau por contratos futuros ajudam a indústria a mitigar aumentos imediatos nos preços. Empresas como Mondelez Brasil e Nestlé têm buscado ajustar-se às condições de mercado sem repassar totalmente os custos aos consumidores. 

Desafios e oportunidades para a produção brasileira 

O Brasil, apesar de suas dificuldades, possui o clima ideal e espaço para expandir a produção de cacau. A superação de desafios como a doença vassoura-de-bruxa e a podridão parda, além de investimentos em renovação das lavouras, são cruciais para aumentar a produção e atender à demanda interna.