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Arte de cobrar e de ser cobrado: reflexão sobre a gestão no Brasil – Por Mario Feitoza

Reflexões sobre a arte de gerir em um ambiente empresarial complexo

Os desafios da gestão empresarial no Brasil
Os desafios da gestão empresarial no Brasil

No cenário empresarial brasileiro, a eficiência na gestão é o alicerce que sustenta o sucesso de qualquer empreendimento. O lucro, que é o principal objetivo de qualquer negócio, está intrinsecamente ligado à capacidade de comprar e vender com precisão, prestar serviços de forma eficaz e produzir com eficiência. Essas práticas de gestão exigem mais do que apenas habilidades técnicas. Elas requerem uma compreensão profunda das regras que regem o mercado. Além disso, é essencial ter a capacidade de navegar pelas exceções dessas regras.

Ao longo de minha trajetória, tanto na vida pública quanto no setor privado, testemunhei como a falta de uma gestão adequada pode levar empresas à ruína. Como presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara Federal, denunciei o que chamei de “Bolha Contábil” em 2014, muito antes do mercado financeiro começar a entender a gravidade de casos como o das Americanas. Essa bolha, que muitos ignoravam ou não compreendiam, era o resultado de uma contabilidade criativa. Essa prática distorcia a realidade financeira das empresas. Os problemas, mascarados temporariamente, inevitavelmente viriam à tona.

A realidade é que nem todos têm a oportunidade ou a capacidade de frequentar a “faculdade” da meritocracia e da qualificação técnica. Isso cria uma perigosa mistura que frequentemente confunde e penaliza gestores competentes junto com aqueles que cometem o que eu chamo de “Crime de Competência”. Esses gestores competentes, ao lado dos ineficientes e até dos fraudulentos, acabam sendo igualmente onerados por um sistema tributário que não faz distinção entre aqueles que geram valor e aqueles que o destroem.

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O sistema tributário brasileiro, complexo e ineficiente, é outro obstáculo para a gestão empresarial. E o que dizer do governo, que, ironicamente, é o maior exemplo de “Devedor Contumaz”? Como podemos esperar que as empresas cumpram suas obrigações fiscais quando o próprio Estado falha em honrar seus compromissos? Esse mau exemplo cria um ciclo vicioso, onde a sonegação e a inadimplência se tornam estratégias de sobrevivência, corroendo ainda mais a já frágil base econômica do país.

Esse cenário me faz lembrar do ditado “roubar de ladrão tem 100 anos de perdão”. Quando o próprio governo, que deveria ser o guardião da lei e da ordem, é o maior infrator, que tipo de mensagem estamos enviando à sociedade? Que exemplo estamos dando às empresas, aos trabalhadores e às futuras gerações? Uma sociedade que vive sob regras impostas por uma gestão fraudulenta e corrupta está condenada a perpetuar a desordem e a ineficiência.

Assim como uma família desestruturada dificilmente conseguirá criar filhos que se tornem cidadãos exemplares, uma economia desorganizada e sem regras claras dificilmente poderá gerar empresas saudáveis e prósperas. E é essa falta de regras e marcos regulatórios que impede o Brasil de alcançar seu pleno potencial. Precisamos urgentemente de reformas que estabeleçam um ambiente de negócios mais justo, transparente e eficiente.

Em resumo, o Brasil vive uma realidade empresarial doente, onde as regras são frequentemente ignoradas ou manipuladas em benefício de poucos. Se quisermos reverter esse quadro, precisamos de uma mudança profunda, que comece pelo governo e se estenda a todos os setores da sociedade. Somente assim podemos criar um ambiente onde a arte de cobrar e ser cobrado seja justa e eficaz, promovendo o crescimento e o desenvolvimento que o Brasil tanto necessita.

*Artigo de Opinião por Mário Feitoza, Engenheiro de Pesca, Administrador de Empresas, Agropecuarista, Empresário e ex-Deputado Federal.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal.