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Risco Sacado: Oportunidades e Desafios nos FIDCs brasileiros – Por Pedro Brandão

O impacto da fraude da Americanas e o crescimento acelerado dos FIDCs no Brasil

Risco Sacado e FIDCs no Brasil
Empresário Pedro Brandão, CEO da CredÁgil.
Risco Sacado e FIDCs no Brasil
Empresário Pedro Brandão, CEO da CredÁgil.

A crise recente envolvendo a Americanas destacou o impacto do risco sacado dos FIDCs no mercado financeiro, especialmente no setor varejista. Com a retração dos grandes bancos em relação a esse tipo de crédito, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) passaram a desempenhar um papel importante na absorção desses riscos. O crescimento dos FIDCs no Brasil tem sido expressivo, evidenciando uma adaptação do mercado de capitais à nova realidade.

O patrimônio líquido dos FIDCs cresceu rapidamente nos últimos 15 meses, alcançando R$ 490 bilhões até junho deste ano. Desse montante, entre R$ 60 bilhões e R$ 75 bilhões estão ligados ao risco sacado, que se tornou uma parte essencial da estrutura desses fundos. Essa migração do risco dos bancos para os FIDCs indica uma mudança na postura das instituições financeiras. Também representa uma oportunidade de diversificação para investidores. Aqueles que buscam exposição ao crédito privado com retornos ajustados ao risco podem se beneficiar dessa estratégia.

A Reabilitação do Risco Sacado nos FIDCs

Historicamente, o risco sacado era visto com cautela devido à sua complexidade e à potencial vulnerabilidade das empresas envolvidas. No entanto, a recente integração desse risco nos FIDCs proporcionou novas oportunidades para investidores que procuram diversificação. A evolução do risco sacado, anteriormente um fator de preocupação, agora se posiciona como uma estratégia viável dentro dos FIDCs. Isso se deve, em grande parte, à maior profissionalização e à sofisticação dos gestores de fundos, que têm se mostrado aptos a gerenciar essa modalidade de crédito com rigor.

Um estudo da Liberum Ratings, realizado em maio deste ano, examinou 110 FIDCs focados em recebíveis comerciais, envolvendo tanto cedentes quanto sacados, e identificou um volume total de R$ 47,9 bilhões nesse segmento. Considerando que existem cerca de 2,5 mil FIDCs no Brasil, é evidente que o impacto do risco sacado é substancial e continua crescendo. Essa evolução destaca a capacidade dos FIDCs de absorver e gerenciar riscos complexos, uma função que os bancos tradicionais têm evitado após a crise da Americanas.

O Crescimento dos FIDCs Pós-Crise Americanas

A crise da Americanas atuou como um catalisador para a transformação do mercado de FIDCs no Brasil. O crescimento dos FIDCs no Brasil pós-crise indica claramente que o mercado de capitais está se adaptando para absorver o risco que grandes bancos geriam anteriormente. A redução da exposição dos bancos ao risco sacado impulsionou essa adaptação, transferindo-o para os FIDCs. Essa modalidade de crédito já representa uma parte expressiva do mercado, proporcionando novos desafios e oportunidades para os investidores.

Entretanto, essa transição também traz desafios. A gestão do risco sacado dentro dos FIDCs exige um monitoramento rigoroso e constante, especialmente devido à possibilidade de inadimplência dos sacados. Portanto, os gestores de FIDCs devem ser extremamente criteriosos ao selecionar os ativos e diversificar as carteiras, garantindo uma distribuição equilibrada dos riscos e uma mitigação adequada.

Desafios e Oportunidades na Gestão do Risco Sacado

Embora o risco sacado ofereça oportunidades de retorno, ele também impõe uma série de desafios que exigem uma gestão eficaz. A diversificação da carteira e o monitoramento contínuo dos créditos adquiridos são essenciais para mitigar os riscos associados. Além disso, a nova regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) exige maior transparência nas operações. Isso promete trazer mais segurança para os investidores e fortalecer a confiança no mercado de FIDCs.

As novas regras da CVM exigem que as empresas forneçam informações mais detalhadas sobre suas operações de risco sacado em suas demonstrações financeiras, o que deve reduzir as distorções nas análises financeiras e garantir que os investidores estejam plenamente cientes dos riscos envolvidos. Em um mercado que movimenta quase meio trilhão de reais, é essencial uma gestão eficiente e transparente para manter a confiança dos investidores. A estabilidade do sistema financeiro também depende dessa gestão.

Em resumo, o crescimento dos FIDCs no Brasil representa uma nova era para o mercado financeiro, onde adaptação e inovação são cruciais para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades emergentes. A gestão cuidadosa do risco sacado será um diferencial importante para o sucesso e a longevidade desses fundos no cenário brasileiro. Conforme o mercado evolui, portanto, gestores e investidores precisam estar atentos a fim de garantir o equilíbrio constante entre risco e retorno em todas as operações.

*Opinião – Artigo de Pedro Brandão, ex-diretor do Banco Bozano Simonsen e atual CEO da CredÁGIL, com almpla experiência no mercado financeiro e uma visão ampla sobre os desafios e oportunidades dos FIDCs no Brasil.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal.