Na última quinta-feira (19), o real brasileiro alcançou uma valorização importante no cenário econômico mundial, sendo a moeda com o maior ganho frente ao dólar em setembro, registrando uma alta de 4,4%.
A Austin Rating, empresa especializada em classificação de risco, comparou essa valorização de 118 países em seu levantamento. No entanto, essa conquista durou pouco: em apenas dois dias úteis, a moeda brasileira caiu para o 7º lugar nesse mesmo ranking, ofuscada pelos ruídos fiscais que abalaram o mercado.
Segundo Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, o que motivou essa rápida mudança foi o aumento da incerteza em torno da sustentabilidade fiscal do Brasil. O tema, que lida diretamente com a relação entre receitas e despesas do governo, é sempre um ponto sensível para o mercado, que reage de forma imediata a qualquer sinal de descontrole fiscal.
Otimismo temporário
Na semana anterior à queda, o mercado demonstrava um certo otimismo. Havia uma expectativa de que os Estados Unidos cortariam suas taxas de juros, enquanto o Brasil as elevaria. Ambas as previsões se confirmaram na quarta-feira (18), com a redução dos juros americanos sendo maior do que o esperado, chegando ao limite máximo das projeções, uma queda de 0,50 ponto percentual.
O movimento global tranquilizou os mercados, fazendo o dólar cair pela sétima vez consecutiva no Brasil, até ser cotado a R$ 5,42 no dia 19 de setembro. A queda foi importante, considerando que, apenas nove dias antes, no dia 10/9, o dólar havia atingido R$ 5,65.
Contudo, essa trajetória positiva foi interrompida bruscamente na sexta-feira (20/9). O real perdeu fôlego, e o dólar voltou a subir 1,72%, encerrando a semana cotado a R$ 5,58. Na segunda-feira (23/9), o dólar continuou sua escalada, subindo mais 0,25%, atingindo R$ 5,53. A movimentação indicou que a incerteza voltava a predominar no mercado financeiro.
O impacto dos “boatos” fiscais na valorização do real
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atribuiu a reversão na trajetória do real ao surgimento de “boatos” fiscais no mercado. Segundo ele, esses rumores surgiram após o adiamento de uma coletiva de imprensa que estava prevista para divulgar o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do quarto bimestre de 2024. O Ministério do Planejamento adiou o evento, inicialmente programado para sexta-feira, o que gerou especulações sobre a situação fiscal do país.
A decisão de adiar a divulgação, apesar de ser uma medida técnica, acabou sendo interpretada como um possível indício de problemas fiscais. Como resultado, o mercado se voltou para o dólar, uma reação típica em momentos de incerteza, e o real perdeu o status de moeda mais valorizada em setembro.
É desafiador o desempenho do real
Contudo, Alex Agostini observa que o comportamento recente do real apenas reflete o caminho que a moeda já vinha trilhando ao longo de 2024. Embora o real tenha conseguido uma posição de destaque em setembro, ele também está entre as moedas que mais perderam valor no acumulado do ano. No ranking de desvalorização de 2024, o Brasil aparece entre as oito piores moedas, ficando à frente apenas de países:
- Sudão do Sul
- Etiópia
- Nigéria
- Egito
- Gana
- Argentina
- Turquia