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Déficit fiscal alto não tem fim, desemprego baixo sim?

O Brasil enfrenta um paradoxo: com desemprego em 6,4% e PIB crescendo, a inflação pressiona a economia. O Banco Central pode aumentar a taxa de juros, impactando investimentos. Economistas buscam equilibrar crescimento e desemprego e estudam suas dinâmicas para o futuro econômico do país.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma queda na taxa de desemprego, que atingiu 6,4% no terceiro trimestre de 2024, uma redução de 0,5% em relação ao ano anterior, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Esse avanço no mercado de trabalho veio acompanhado de um aumento de 3,7% no rendimento médio, sugerindo um momento positivo para a economia. No entanto, surge a questão: essa trajetória de crescimento é sustentável?

Ao lado da queda no desemprego, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil tem superado expectativas, crescendo aproximadamente 3% ao ano, enquanto muitos economistas projetam um crescimento potencial em torno de 2%. Esse crescimento acima do potencial estimado pressiona a inflação, que atualmente está acima da meta e pode ultrapassar o teto, evidenciando uma sobrecarga na economia.

Dado que o Banco Central (BC) tem o objetivo de controlar a inflação dentro da meta de 3%, com uma banda entre 1,5% e 4,5%, o principal recurso para desacelerar a demanda agregada é a taxa de juros Selic. O aumento dessa taxa visa reduzir a demanda para um nível sustentável pela oferta agregada, mantendo a inflação sob controle. Essa medida impacta apenas o consumo e o investimento privado. Os gastos públicos, majoritariamente obrigatórios, não reagem diretamente ao aumento dos juros.

No Brasil, mais de 90% dos gastos públicos são vinculados a áreas como previdência e folha de pagamento. Além disso, os gastos com educação e saúde precisam aumentar automaticamente com a elevação da receita (arrecadação), tornando muito difícil um ajuste fiscal sem grandes reformas e alto custo político. A pequena parte discricionária, em que se pode decidir politicamente onde gastar, é objeto de uma ferrenha briga política entre visões ideológicas e brigas político-partidárias.

Ao aumentar a Selic, o que deve acontecer nesta semana, o Banco Central irá inibir o investimento, pois aplicar em títulos da dívida pública sem risco ficam mais atraentes do que investir em atividades produtivas arriscadas. Mas o investimento é o responsável pelo crescimento da oferta, ou seja, do PIB potencial. Assim, o BC, para segurar a inflação no curto prazo, fará uma espécie de “gol contra” em médio e longo prazos, diminuindo a capacidade do Brasil de crescer. Mas se deixar a inflação sem controle, teríamos uma “goleada contra”, pois seria muito mais difícil fazer negócios e manter-se empregado neste tipo de cenário. Quem tiver dúvida sobre isso, basta ver o que aconteceu com o Brasil e a Argentina neste século, sendo que ambos os países tiveram problemas fiscais, mas nós implementamos uma política de metas de inflação e a Argentina não.

Por isso que muitos economistas defendem que é melhor mudar o “mix” de política econômica. Hoje, temos uma política fiscal expansionista, acelerando o crescimento da demanda agregada, e uma política monetária restritiva, com juros alto para frear essa mesma demanda, criando um cenário de uma taxa de juros persistentemente alta, baixo investimento, baixo crescimento e alto desemprego. Seria mais sensato inverter, ter uma política fiscal mais restritiva, que garantisse pelo menos a estabilidade da dívida pública como proporção do PIB, permitindo ter uma política monetária menos restritiva. Assim, a taxa de juros poderia ser estruturalmente menor, teríamos mais investimento, o crescimento do PIB potencial seria maior e o desemprego sistematicamente menor. Entrando em um círculo virtuoso.

A taxa de desemprego anunciada em 31 de outubro é a segunda menor desde 2013. Essa baixa histórica traz à tona lembranças da recessão de 2014-2016. Na época, uma política de estímulo ao consumo impulsionou a economia rapidamente, mas causou um colapso logo depois.

O mercado enxerga semelhanças entre as políticas econômicas do governo Lula III e do governo Dilma I, especialmente na visão de que os gastos públicos e o crédito direcionado pelo BNDES são motores essenciais para o crescimento e a distribuição de renda. A desconfiança crescente intensifica a tensão atual, com o dólar perto de alcançar R$ 6,00. O ministro Haddad cancelou uma viagem devido à expectativa do anúncio de cortes de gastos.

O governo, a classe política e a sociedade devem superar as limitações econômicas e as barreiras mentais de curto prazo. Precisamos ajustar o rumo e melhorar o tom da economia brasileira para evitar que perca o ritmo.

*OpiniãoArtigo Por Josilmar Cordenonssi Cia, professor de Ciências Econômicas do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal.

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