No Dia da Consciência Negra (20 de novembro), dados revelam que, mesmo com avanços na escolaridade e na inserção no mercado de trabalho, a população negra ainda enfrenta salários menores e alta concentração em ocupações vulneráveis. Estudos recentes do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre) e do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) destacam os desafios e conquistas da população negra no Brasil.
Avanços e desafios na escolaridade e ocupação
Entre 2012 e 2024, a população negra ocupada cresceu 23,5%, passando de 45,6 milhões para 56,3 milhões, de acordo com o FGV Ibre. Esse aumento é acompanhado por um salto significativo no nível educacional: o número de negros com ensino superior completo mais que dobrou, de 2,7% para 6,4%. Apesar disso, a renda média habitual dessa população permanece 40,9% abaixo da recebida por brancos e amarelos.
A economista Janaína Feijó, do FGV Ibre, ressalta que o acesso ao ensino superior é essencial para a melhoria de oportunidades. “Em 12 anos, a PIA [população em idade ativa] negra com ensino superior mais que duplicou, importante para aumentar as chances de a população negra ser absorvida pelo mercado”, afirma.
No entanto, mesmo com esses avanços, pretos e pardos ainda são maioria em ocupações como operários, vendedores e trabalhadores da construção civil, enquanto têm menor representatividade em cargos de liderança e setores como ciências e ensino superior.
Realidade no Distrito Federal: concentração em trabalhos vulneráveis
No Distrito Federal, dados da PED-DF mostram que 60,8% das pessoas ocupadas em 2023 se autodeclararam pretas ou pardas, evidenciando seu protagonismo na força de trabalho local. Apesar disso, 80% dos empregos domésticos e 66,8% dos trabalhos autônomos são ocupados por negros, setores conhecidos pela alta vulnerabilidade econômica.
Em relação aos rendimentos, negros no DF ganham, em média, R$ 3.569, enquanto os não negros recebem R$ 6.221. Essa disparidade reforça a urgência de políticas públicas que promovam maior inclusão e equidade no mercado de trabalho. Para Francisca Lucena, diretora de Estatística e Pesquisas Socioeconômicas do IPEDF, a solução passa por fortalecer a trajetória educacional e a qualificação profissional da população negra.
Inserção em regimes como a escala 6×1
Outro ponto relevante é a inserção de negros em regimes de trabalho intensivos, como a escala 6×1, que limita o tempo para estudos ou qualificação. Essa realidade dificulta ainda mais o acesso a ocupações com maiores salários e estabilidade. O cientista social Ronaldo Tadeu observa que a desigualdade se reflete em todos os espaços: “Nas instituições públicas de ensino superior, 99% dos professores são brancos. Nos bancos, a maioria dos pretos está no setor de limpeza.”
Avanços reais, mas insuficientes
Embora os estudos indiquem melhorias na escolaridade e na ocupação de negros, a disparidade salarial e a concentração em setores vulneráveis mostram que a desigualdade continua longe de ser resolvida. No Dia da Consciência Negra, a reflexão sobre essas questões é essencial para a construção de um mercado de trabalho mais equitativo e inclusivo.