O impacto da irrigação e a gestão das outorgas de água foram os principais temas abordados no 2º Workshop Setor Agropecuário e a Gestão da Água – Polos de Agricultura Irrigada, realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) na última terça-feira (19). O evento reuniu especialistas do setor agrícola e da Agência Nacional de Águas (ANA) para discutir como a ampliação da irrigação pode impulsionar a economia e melhorar o consumo das famílias no Brasil.
Impactos da ampliação da irrigação na economia
Durante o workshop, o coordenador de Análises Econômicas do Grupo de Pesquisa de Políticas Públicas da Esalq/USP, Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho, apresentou um estudo que simula cenários para a expansão da irrigação até 2040. A pesquisa, encomendada pelo Ministério da Agricultura, indicou que a irrigação de 4,2 milhões de hectares poderia gerar um impacto de R$ 71 bilhões na economia brasileira. Esse cenário também traria um aumento de 0,23% no consumo das famílias e uma redução no preço dos alimentos.
Em outro cenário, com a irrigação de 6,2 milhões de hectares, a economia poderia crescer em R$ 102,8 bilhões. Além disso, o preço dos alimentos reduziria em 0,45% e o consumo das famílias aumentaria em R$ 23,4 bilhões. Segundo o estudo, as culturas de arroz, trigo e outros cereais seriam as mais beneficiadas, com aumento nas exportações desses produtos.
“Para cada R$ 1 real investido na agricultura irrigada, haveria um retorno social de R$ 0,36 na economia. Um retorno muito maior do que de alguns programas sociais, inclusive“, destacou Joaquim Bento. O estudo também enfatiza a importância de expandir a irrigação sem desmatar novas áreas, apresentando um cenário otimista e viável.
Outorgas e gestão da água: soluções para o setor
A gestão das outorgas de água foi outro tema central discutido no evento da CNA. Marco Neves, superintendente de Regulação de Usos de Recursos Hídricos da ANA, apresentou a plataforma digital “Águas Brasil”, que visa agilizar o processo de emissão das outorgas.
“A ANA emite cerca de 80 outorgas por semana, por isso essa plataforma que é moderna, disjuntiva e integrada vai agilizar a emissão do documento e entregar inclusive outorgas instantâneas, onde tiver disponibilidade hídrica”, explicou Neves.
Embora a adesão à plataforma seja voluntária, a expectativa é que mais estados se envolvam à medida que o sistema prove sua eficácia. Durante o workshop, também foram discutidas modalidades de gestão de outorgas, como a gestão de garantias de prioridade (OGP) e gestão compartilhada (OGC), que estão sendo testadas em duas bacias hidrográficas como projetos pilotos.
Desafios e expectativas dos produtores rurais
O workshop da CNA também foi uma oportunidade para os produtores rurais compartilharem suas experiências com o uso das outorgas. Bruno Brunner, produtor na bacia do Rio Bezerra, entre Tocantins e Goiás, destacou as vantagens da irrigação na região.
“Eu quero crer que vai dar certo, a gente está fazendo de tudo para dar certo, porque é uma oportunidade única dentro do Brasil, estamos tendo a possibilidade de colocar os equipamentos de irrigação, e garantindo nem que seja uma safra bem-feita com o uso da água. Não é só uma questão socioeconômica do produtor rural, mas sim de toda uma região”“, afirmou Brunner.
Lessivan Pacheco, produtor na bacia do Médio Pardo, também compartilhou sua experiência positiva. “É uma expectativa fundada em um diálogo que nós temos com a ANA desde 2017, quando tivemos uma crise hídrica. Inclusive tivemos várias reuniões na associação para discutirmos a iniciativa e para nós é muito positivo a agência estar conversando com o usuário“, destacou Pacheco.
A importância da união do setor agropecuário
David Schmidt, presidente da Comissão Nacional de Irrigação da CNA, ressaltou a importância de unir os esforços do setor agropecuário para o sucesso de iniciativas como essas. “Esses dois projetos vão ser um alívio para diversas outras bacias que demandam soluções alternativas na parte de regulação“, afirmou Schmidt. Ele também destacou que a expansão da irrigação será essencial para o Brasil alcançar a meta de aumentar em 60% a produção de alimentos para atender à crescente demanda global.
O evento também proporcionou uma reflexão sobre o futuro da irrigação e da gestão dos recursos hídricos no Brasil, questões essenciais para garantir a sustentabilidade da produção agrícola e a segurança alimentar no país.