Com a recente elevação da taxa Selic para 11,25% ao ano, anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na última quarta-feira (6), gerando impactos na economia brasileira, assim como novos desafios. O aumento de 0,5 ponto percentual visa conter a inflação, mas também gera um efeito cascata que freia o consumo e reduz os investimentos empresariais.
Segundo especialistas, os juros altos desestimulam o crescimento econômico ao encarecer o crédito, dificultando tanto as compras parceladas quanto os investimentos em expansão e modernização. A indústria, com sua cadeia produtiva longa e complexa, é especialmente afetada, como aponta Lauro Chaves Neto, economista da FIEC: “No setor industrial, isso é mais grave ainda, porque temos várias fases no processo produtivo. Isso atinge todas as etapas da cadeia“.
Efeitos no consumo e nas empresas
A alta da taxa Selic reflete diretamente no poder de compra das famílias, gerando impactos no mercado. Juros mais elevados tornam o crédito mais caro, restringindo a capacidade de consumo e afetando setores como comércio e serviços. Além disso, empresas optam por aplicações financeiras seguras em vez de reinvestirem na operação, como destaca Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine: “Apesar do aperto nas condições financeiras, o impacto no lado real deve ser suavizado pela taxa de desemprego baixa, que ainda mantém boas perspectivas para o consumo das famílias”.
Por outro lado, as empresas enfrentam dificuldades para crescer. Os custos elevados de capital de giro e investimentos em infraestrutura geram um efeito cumulativo: menos contratações, menor compra de insumos e estoques reduzidos. Esse cenário impacta a geração de empregos e o dinamismo econômico.
Impacto inflacionário e a resposta do Banco Central
A decisão do Banco Central visa controlar uma inflação ainda acima das metas. Conforme o Boletim Focus, a projeção para 2024 é de 4,6%, enquanto a meta é de 3,5%. O Copom avalia que o aperto monetário é necessário para estabilizar os preços no longo prazo, ainda que represente um “remédio amargo” para a economia brasileira.
O economista Lauro Chaves Neto ressalta a importância de políticas integradas para equilibrar os impactos da Selic: “A política econômica deve ser tratada conjuntamente, integrando a monetária, fiscal e cambial para estimular a atividade econômica e trazer bem-estar à sociedade“.
Perspectivas e possíveis estratégias
Apesar dos desafios atuais, há sinais de uma possível desaceleração dos juros em 2025, caso a inflação seja contida. Cristiano Oliveira projeta que o Banco Central possa iniciar um ciclo limitado de cortes na Selic no segundo semestre do próximo ano, com base na desaceleração esperada da inflação.
Enquanto isso, setores voltados para o mercado externo têm encontrado alternativas para driblar os impactos dos juros elevados. A variação cambial tem gerado rendimentos acima do esperado, beneficiando exportadores. No mercado interno, no entanto, a desigualdade e a renda média reduzida comprimem ainda mais o consumo.
Equilíbrio entre inflação e crescimento
A alta da taxa Selic evidencia a difícil tarefa de equilibrar o controle da inflação com a manutenção do crescimento econômico. Enquanto o aperto monetário busca estabilizar os preços, ele também desacelera a economia e afeta diretamente empresas e consumidores. O desafio do Banco Central e do governo é encontrar estratégias que minimizem os danos, promovendo um ambiente econômico mais favorável sem abdicar da responsabilidade fiscal.









