Os eleitores alemães vão às urnas neste domingo (23) em meio a um cenário de incerteza. A economia da Alemanha desacelera, a influência da extrema-direita cresce e as relações internacionais entram em um novo ciclo de instabilidade. O partido União Democrata-Cristã (CDU), liderado por Friedrich Merz, aparece como favorito nas pesquisas, enquanto a Alternativa para a Alemanha (AfD) pode alcançar o melhor desempenho de sua história.
Já o Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler Olaf Scholz, deve sofrer uma queda, reflexo das dificuldades de sua coalizão com liberais e ambientalistas. A grande incógnita é se Friedrich Merz terá força política suficiente para formar um governo estável e reverter os desafios econômicos que travam o país.
Como a economia e a política externa dos EUA afetam a Alemanha?
O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos transformou as relações internacionais, impondo novos desafios para a economia da Alemanha. O republicano voltou a pressionar os aliados europeus da Otan a aumentarem seus investimentos em defesa e indicou que os EUA não garantirão proteção automática em caso de conflito.
Recentemente, Trump iniciou negociações diretas com a Rússia sobre a guerra na Ucrânia, excluindo os aliados europeus das conversas. O gesto elevou a insegurança no continente e gerou forte reação do governo alemão.
O ministro da Defesa, Boris Pistorius, classificou o discurso do vice-presidente americano, J. D. Vance, em Munique, como “inaceitável”. A incerteza sobre o futuro da aliança militar coloca a Alemanha diante de uma encruzilhada: reforçar seu orçamento militar ou manter os investimentos nos serviços públicos, tradicionalmente prioritários no país.
Qual é o problema da economia da Alemanha?
Por muitos anos, a Alemanha foi considerada a principal economia da Europa, impulsionada por sua forte indústria e pelo fornecimento de energia a preços acessíveis da Rússia. No entanto, a guerra na Ucrânia mudou esse cenário.
O crescimento econômico desacelerou e o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 0,3% em 2023. Para 2024, a projeção indica um avanço modesto de 0,1%. A indústria automotiva, um dos pilares da economia da Alemanha, enfrenta dificuldades diante da concorrência da China na produção de veículos elétricos.
A alta dos preços da energia e a inflação preocupam a população. Ao mesmo tempo, a burocracia e a carga tributária são apontadas como entraves para a recuperação do país.
Durante a campanha, Friedrich Merz prometeu reduzir impostos e simplificar processos para incentivar o crescimento. No entanto, a viabilidade dessas propostas dependerá da formação de um governo estável, algo que ainda está em aberto.
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A imigração pode mudar o cenário político?
A política migratória também está no centro do debate eleitoral. Desde 2015, quando Angela Merkel decidiu abrir as fronteiras para refugiados sírios, a Alemanha recebeu milhões de imigrantes. Embora essa medida tenha ajudado a reduzir o impacto do envelhecimento da população, a integração dessas pessoas gerou desafios.
A percepção pública sobre a imigração mudou nos últimos anos. De acordo com o instituto Gallup, o índice de aceitação da imigração na Alemanha caiu de 7,1 em 2016 para 6,4 em 2023. O aumento da preocupação com a segurança e a sobrecarga dos serviços públicos alimentaram o crescimento da AfD, partido de extrema-direita que se fortaleceu ao adotar um discurso anti-imigração.
Mesmo assim, os principais partidos políticos do país mantêm um veto a alianças com a AfD, para evitar que a sigla tenha influência no governo federal. No entanto, o crescimento da extrema-direita nas eleições regionais mostra que seu discurso tem ganhado força, especialmente no leste da Alemanha.
O que esperar da economia e do novo governo?
O país enfrenta um momento decisivo. O novo governo da Alemanha terá que lidar com os obstáculos da economia, rever sua posição na geopolítica global e equilibrar as demandas internas por segurança e bem-estar social.
Friedrich Merz desponta como o nome mais forte para assumir o comando do país, mas precisará costurar alianças para garantir governabilidade. A necessidade de uma coalizão pode impor limites às reformas que ele propõe.
O resultado das eleições não apenas definirá o futuro da Alemanha, mas também terá impacto na União Europeia e nas relações internacionais. O grande desafio será encontrar um caminho que combine crescimento econômico, estabilidade política e um posicionamento estratégico diante das mudanças globais.
