O governo brasileiro reagiu com preocupação às tarifas recíprocas de Trump, classificando a medida como uma possível violação dos compromissos internacionais assumidos pelos Estados Unidos junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). A decisão, anunciada nesta quarta-feira (2), faz parte de um decreto que impõe tarifas mínimas de 10% a todas as importações do Brasil e de outros países que aplicam barreiras a produtos norte-americanos.
Segundo Trump, o objetivo é reequilibrar o fluxo de comércio bilateral. “Os números são tão desproporcionais, tão injustos. Vamos implementar uma tarifa mínima de 10% para ajudar a reconstruir nossa economia e evitar a trapaça”, declarou. A medida faz parte de uma política de protecionismo comercial que tem como base a cobrança proporcional de tarifas de importação sobre países que impõem barreiras às exportações dos EUA.
Ainda em fevereiro, o governo dos Estados Unidos já havia elevado as tarifas sobre aço e alumínio em 25%, afetando diretamente o Brasil. Essa medida se soma agora às tarifas recíprocas de Trump, ampliando a pressão sobre as exportações brasileiras. Segundo o Departamento de Comércio norte-americano, em 2024, o Brasil enviou cerca de 4,1 milhões de toneladas de aço ao mercado americano — um volume agora impactado por custos adicionais.
Governo brasileiro critica nova política tarifária dos EUA
Após o anúncio das tarifas recíprocas de Trump, os ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e das Relações Exteriores emitiram nota lamentando a nova retaliação comercial. Segundo o governo, a medida afeta diretamente setores como o setor agroexportador brasileiro, a indústria automobilística e demais segmentos voltados à exportação de manufaturados.
A nota oficial afirma que essa ação amplia o clima de guerra comercial e ameaça o equilíbrio da balança comercial Brasil-EUA. Além disso, viola os acordos comerciais internacionais firmados dentro das regras da OMC, enfraquecendo a previsibilidade do comércio global e prejudicando a competitividade internacional das empresas brasileiras.
Alckmin diz que tarifas recíprocas de Trump são injustificadas
O vice-presidente Geraldo Alckmin também se posicionou contra as tarifas recíprocas de Trump. Segundo ele, os Estados Unidos mantêm um déficit comercial em bens e serviços com o Brasil, e a imposição dessas tarifas é incoerente com os dados reais do comércio bilateral. Ele também apontou que, entre os dez principais produtos exportados pelos EUA ao Brasil, oito já têm tarifa de importação zero.
Para Alckmin, a nova medida tarifária fragiliza a relação entre os dois países e afeta diretamente a competitividade internacional de produtos brasileiros. Ele reforçou que o Brasil continuará defendendo seus interesses em fóruns multilaterais.
Tabela: tarifas recíprocas de Trump para principais países
Confira abaixo os países mais afetados pelas tarifas recíprocas de Trump:
País | Tarifas cobradas dos EUA | Tarifas que os EUA vão cobrar |
---|---|---|
Saint-Pierre | 99% | 50% |
Camboja | 97% | 49% |
Vietnã | 90% | 46% |
China | 67% | 34% |
Índia | 52% | 26% |
Japão | 46% | 24% |
União Europeia | 39% | 20% |
Israel | 33% | 17% |
Reino Unido | 10% | 10% |
Brasil | 10% | 10% |
(Lista parcial. Dados completos disponíveis no documento oficial norte-americano.)
Durante o anúncio das tarifas recíprocas, Trump declarou que os Estados Unidos estão entrando em “uma era de ouro” para a economia americana. Confira no vídeo:
Mercado reage às tarifas recíprocas com cautela
As tarifas recíprocas de Trump também geraram impacto nos mercados. O dólar comercial subiu 0,27%, fechando em R$ 5,699. O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, oscilou e terminou com leve alta de 0,07%, aos 131.245 pontos.
Apesar da retaliação, a taxa de câmbio teve variação moderada. Economistas apontam que o real pode sofrer mais caso a medida gere incertezas prolongadas ou amplie o déficit comercial entre os países.
Especialistas projetam desdobramentos econômicos
Pedro Brandão, CEO da CredÁgil, analisou que os efeitos das tarifas recíprocas de Trump vão depender da resposta da economia americana.
“Se os impactos das tarifas forem limitados e a economia dos EUA continuar estável, o dólar pode se fortalecer. Mas, se houver sinais de desaceleração econômica, a moeda americana tende a se desvalorizar diante da incerteza nos mercados”, afirmou Brandão.
Ele destacou ainda que, apesar da pressão sobre setores específicos, o volume das importações dos EUA provenientes do Brasil não é o mais relevante da balança norte-americana. Ainda assim, medidas como essa colocam em risco a estabilidade do comércio exterior e a confiança de investidores internacionais.