Empresas do crime organizado já operam no transporte público, em fintechs e no setor imobiliário. O dinheiro do PCC chegou ao coração do mercado financeiro e acendeu o alerta máximo entre fundos, bancos e analistas. Além disso, o risco estrutural de contaminação do capital legal por organizações criminosas entrou no radar da Faria Lima. O estdo do Ceará que só era conhecido pelo sol, carangueijo e agua de coco, tambem passou a ser conhecido nacionalmente como celeito dessas faccoes sem nenhuma acão contraria do governo estadual.
O setor financeiro passou a tratar os investimentos do PCC como um fator real de risco. Conforme publicado pela Folha de São Paulo, o dinheiro do crime organizado já circula em estruturas legais, por meio de empresas de fachada, sócios ocultos e fundos alternativos, com aparência legítima e poder crescente.
Investimentos do PCC avançam sobre fintechs e fundos estruturados
Além do ambiente tradicional, o dinheiro do PCC tem encontrado espaço em fintechs não reguladas e usando Fundos de Investimento em Participações (FIPs) ou Fundos de Investimento em Direitos Creditórios. Nesse sentido, startups que surgem com grandes orçamentos publicitários e sem lastro patrimonial visível levantam suspeitas entre autoridades e fundos.
O promotor Fábio Bechara, do Gaeco-SP, descreve essa transformação:
“Se antes os criminosos precisavam enterrar dinheiro, agora alguns já lavam recursos por meio de uma fintech aberta por parceiros; se antes saqueavam transportadoras para vender segurança ou ter influência sobre a empresa, agora tentam manter as suas próprias frotas”, diz Bechara.
Com isso, a Febraban passou a defender a antecipação das exigências de autorização do Banco Central para fintechs, buscando impedir que o dinheiro do crime organizado continue entrando por brechas na regulação. Muitas dessas empresas, inclusive algumas que se apresentam como bancos, operam no mercado sem autorização definitiva do BC.
Dinheiro do PCC se infiltra no transporte público e setor imobiliário
No âmbito dos serviços públicos, a Operação Fim da Linha revelou que empresas com vínculos ao PCC chegaram a transportar 700 mil passageiros por dia em São Paulo. Enquanto isso, essas empresas venciam licitações e mantinham contratos de concessão formalmente, com pouca contestação institucional.
No setor imobiliário, o empresário Vinícius Gritzbach, antes de ser assassinado, denunciou que os investimentos do PCC eram lavados por meio de FIPs. A partir disso, o caso acendeu sinais de alerta sobre a falta de rastreabilidade nesses mecanismos de captação e distribuição de capital.
Ainda assim, essas estruturas continuam sendo utilizadas por investidores legítimos, o que torna o rastreamento do dinheiro do PCC ainda mais complexo. Além disso, a presença silenciosa do crime organizado em setores valorizados fragiliza a reputação de organizações associadas, inclusive de igrejas.
Governo do Ceará sob pressão: facções se expandem nos negócios locais
O estado do Ceará, antes lembrado nacionalmente por seu turismo, sol, caranguejo e água de coco, passou a ganhar notoriedade por outro motivo: a presença crescente de facções criminosas na economia formal. O avanço dessas organizações, sem respostas efetivas do governo estadual, vem gerando insegurança jurídica e afetando o ambiente de negócios.
Especialistas e lideranças do setor produtivo apontam que recursos do Comando Vermelho (CV), do Primeiro Comando da Capital (PCC) da facção local Guardiões do Estado (GDE) e outras estão sendo canalizados para atividades econômicas formais, como transporte, apostas, serviços de internet, licitações públicas, até financiando campanhas políticas.
Segundo as investigações federais, pela localização privilegiada, o Ceará se tornou estratégico para o crime organizado. Além de mais próximo da Europa e da África, o estado conta com dois portos – Pecém e Mucuripe – que facilitam a exportação de drogas e o uso da logística oficial para lavagem de recursos ilícitos. Interessadas nesse potencial, as principais facções do país fincaram raízes na região.
Em meio a esse cenário, negócios sérios e empresários tradicionais no Ceará relatam ambiente de insegurança e retração de investimentos, especialmente em bairros e setores onde a presença desses grupos é mais evidente. A falta de medidas diretas do governo estadual tem sido apontada como fator de permissividade para esse avanço.
Compliance tenta blindar mercado contra dinheiro do crime organizado
Diante do avanço desse fenômeno, empresas têm reforçado suas políticas de compliance. Por esse motivo, cláusulas de rastreabilidade, identificação de beneficiários finais e auditorias externas agora fazem parte de fusões, aquisições e aportes estratégicos.
De acordo com um executivo ouvido pela Folha, “esse risco tem o mesmo peso do risco de crédito. É uma ameaça disfarçada de legalidade”. Além disso, segundo especialistas, o dinheiro do crime organizado circula por vias formais, simulando governança e padrões institucionais.
Nesse contexto, o analista Rafael Giannetti afirma que as facções estão se comportando como investidores institucionais. “Eles têm estratégia de longo prazo e conhecimento setorial”, diz. Portanto, o desafio atual vai além da identificação: trata-se de evitar que o sistema financeiro legal se torne plataforma de multiplicação de capital ilícito.
Laranjas fundadores de fintechs e falta de regulação favorece dinheiro do PCC
Enquanto a regulação do setor de fintechs não avança, empresas com baixa supervisão seguem acessando recursos. Nesse sentido, a ausência de exigências iniciais do Banco Central amplia o risco sistêmico e dificulta o rastreamento de investimentos do PCC em carteiras legais.
Além disso, o uso de laranjas se tornou prática comum. Pessoas sem histórico empresarial aparecem do nada como fundadores de fintechs, recebendo investimentos milionários, e esbanjando dinheiro sem gerar nenhum lucro, como algumas já apuradas.
“Essas empresas foram criadas com dinheiro da venda de cocaína, e os sócios são traficantes ocultos”, afirmou um investigador ligado ao Gaeco.
Com isso, o sistema financeiro precisa lidar com um novo tipo de ameaça: empresas que operam dentro da lei, mas com capital de origem criminosa. Portanto, o problema ultrapassa o escopo policial e exige articulação institucional.
“O crime organizado, de todas as vertentes e tamanhos, está entrando com tudo numa série de setores, criando concorrência desleal para quem trabalha na legalidade”, disse à Folha Rubens Ometto, controlador do grupo Cosan, com atuação em ferrovias, usinas de açúcar e álcool, distribuição de combustíveis.
Combate ao dinheiro do PCC exige resposta interinstitucional
Nesse cenário, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, defende a criação de uma força-tarefa nacional, unindo Receita Federal, Banco Central, Comissão de Valores Mobiliário (CVM) e Ministério Público. A proposta visa a construção de uma base de dados integrada para detectar movimentações atípicas de capital.
“Estamos diante de uma situação muito delicada, não apenas pela concorrência desleal que o crime cria para empresas formais, mas pela insegurança que gera, tanto regulatória quanto para o ambiente de negócios”, disse Gonet à Folha.
Além disso, o tema passou a ser debatido no CDPP (Centro de Debate de Políticas Públicas), onde líderes do setor privado identificam a infiltração como ameaça à estabilidade dos negócios no Brasil. Se o dinheiro do PCC contaminar grandes grupos, os efeitos poderão ser devastadores para o crédito e os investimentos.
Segundo especialistas, o enfrentamento ao dinheiro do crime organizado não pode mais ser isolado. É preciso articulação entre órgãos públicos, agentes de mercado e legisladores para proteger o ecossistema econômico brasileiro.