A nova edição do novo Relatório Focus, divulgada nesta segunda-feira (28/07) pelo Banco Central (BC), reforça o cenário de juros elevados e inflação ainda acima da meta. O boletim, que compila previsões de mais de 100 instituições financeiras, ajustou levemente as projeções para o IPCA, Selic, câmbio e crescimento do PIB nos próximos quatro anos.
Inflação dá sinais de recuo, mas não converge à meta
A estimativa do IPCA para 2025 caiu de 5,10% para 5,09%, segundo o novo Relatório Focus. Para 2026, a previsão passou de 4,45% para 4,44%. Apesar da desaceleração, ambas continuam fora do intervalo de tolerância da meta contínua de inflação, que varia de 1,5% a 4,5%. Para os anos seguintes, as expectativas foram mantidas: 4,00% (2027) e 3,80% (2028).
Selic elevada e inibe cortes no curto prazo novo relatório Focus
O novo Relatório Focus manteve a projeção da taxa Selic em 15% para o fim de 2025, refletindo um cenário de juros elevados, nível já praticado desde a última reunião do Copom. O novo boletim prevê recuo gradual para os anos seguintes: 12,50% em 2026, 10,50% em 2027 e 10,00% em 2028. O próprio Comitê de Política Monetária indicou que a taxa será mantida nesse patamar por um período “bastante prolongado”.
Projeções econômicas do Banco Central para PIB, câmbio e comércio exterior
A estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025 foi mantida em 2,23%, enquanto a previsão de 2026 subiu de 1,88% para 1,89%. Já os números para 2027 e 2028 seguem fixados em 2,00%.
No câmbio, o real ganhou força frente ao dólar, com a projeção da taxa de 2025 passando de R$ 5,65 para R$ 5,60. Para os anos seguintes, a estimativa se manteve em R$ 5,70.
Outro destaque do novo Relatório Focus é a revisão do saldo da balança comercial: de US$ 69,3 bilhões para US$ 66,7 bilhões em 2025, e de US$ 75,2 bilhões para US$ 70 bilhões em 2026.
Panorama resumido das previsões do novo relatório Focus
Confira a seguir os principais números atualizados no boletim de 28/07, com base nas previsões econômicas do Banco Central:
📉 Inflação (IPCA)
- 2025: recuo de 5,10% para 5,09%
- 2026: ligeira queda, de 4,45% para 4,44%
- 2027: projeção mantida em 4,00%
- 2028: estimativa continua em 3,80%
📈 Produto Interno Bruto (PIB)
- 2025: expectativa mantida em 2,23%
- 2026: leve alta, de 1,88% para 1,89%
- 2027: indicador estável em 2,00%
- 2028: sem alterações, fixado em 2,00%
💰 Taxa Selic
- 2025: mantida em 15,00%
- 2026: nível projetado segue em 12,50%
- 2027: estimativa aponta para 10,50%
- 2028: previsão indica 10,00%
💵 Câmbio (dólar/real)
- 2025: variação de R$ 5,65 para R$ 5,60
- 2026: expectativa continua em R$ 5,70
- 2027: cenário cambial mantido em R$ 5,70
- 2028: projeção repetida em R$ 5,70
Investimentos e sistema de metas contínuas no novo relatório Focus
Segundo o novo Relatório Focus, a estimativa de ingresso de investimento estrangeiro direto no Brasil segue em US$ 70 bilhões para 2025 e 2026. Os analistas seguem atentos à condução da política monetária, em especial sob o novo sistema de metas contínuas adotado neste ano, que exige mais precisão e transparência na atuação do BC.
Com meta central de 3% e margem de tolerância entre 1,5% e 4,5%, o modelo não depende mais do encerramento do ano-calendário para avaliação de cumprimento — o que torna os dados do Focus ainda mais estratégicos.
Super Quarta deve confirmar manutenção dos juros
Entre as 85 instituições que atualizaram suas previsões nos últimos cinco dias úteis, a mediana para a Selic no fim de 2025 também segue em 15%. Isso reforça a expectativa de que o Copom manterá os juros inalterados na reunião, marcada para esta quarta-feira (30), em mais uma “Super Quarta”.
Diante disso, o novo Relatório Focus consolida um ambiente de inflação resistente, câmbio pressionado e política monetária apertada. A janela para flexibilização ainda parece distante.
Análise de Pedro Brandão sobre o novo relatório Focus
Para o empresário Pedro Brandão, especialista em finanças e CEO da CredÁgil, o novo Relatório Focus reforça um cenário de juros persistentemente altos, com impactos diretos sobre o crédito, os investimentos e a confiança do mercado. Ele destaca que o patamar atual da Selic ainda deve ser mantido por mais tempo do que o desejável, o que exige cautela tanto de empresas quanto de investidores:
“A manutenção da Selic em 15% por mais tempo reforça o custo elevado do crédito, o que pressiona empresas e famílias no médio prazo. O que preocupa é que, mesmo com inflação em leve queda, o Banco Central ainda não vê espaço para corte de juros, o que trava a retomada da atividade e limita o crescimento. O novo Relatório Focus mostra que o cenário ainda é de vigilância máxima, especialmente em um ambiente de incerteza fiscal e câmbio volátil.”
“Para o setor financeiro, em especial o mercado de crédito, esse quadro exige ajustes rápidos na precificação e maior seletividade na concessão. Já do ponto de vista dos investidores, o foco tende a permanecer em ativos indexados à inflação e pré-fixados de curto prazo. A janela para um ciclo de flexibilização monetária só deve se abrir quando houver mais clareza sobre a convergência da inflação para o centro da meta.”