A manutenção dos juros nos EUA pelo Federal Reserve (Fed), anunciada nesta quarta-feira (30/07), confirma a postura conservadora da autoridade monetária diante de um cenário ainda incerto. Nesse contexto, pela quinta reunião consecutiva, a taxa básica americana foi mantida na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano, apesar da pressão explícita do presidente Donald Trump por cortes imediatos.
Conforme o comunicado oficial, o Fed reafirmou as preocupações com o impacto do “tarifaço” contra os produtos brasileiros previsto para 01/08, citando o risco de reaceleração inflacionária, especialmente diante do bom desempenho do mercado de trabalho e do crescimento econômico acima do esperado no segundo trimestre, que chegou a 3%. Embora tenha reconhecido avanços nos indicadores recentes, o Fed optou por aguardar maior clareza, mantendo o atual nível de juros.
Pressão política: Trump insiste em corte imediato
A manutenção dos juros nos EUA contraria a retórica adotada por Trump desde o início de seu novo mandato. Durante a tarde, em postagem nas redes sociais, o republicano celebrou o resultado do PIB do segundo trimestre e exigiu publicamente que o Fed reduzisse as taxas: “Sem inflação! Deixe as pessoas comprarem casas!”. Logo depois, voltou a criticar a instituição, acusando-a de travar o crescimento do setor imobiliário.
Por outro lado, economistas apontam que parte do crescimento do PIB foi artificialmente inflado por importações antecipadas — empresas buscaram evitar os efeitos das novas tarifas, elevando estoques e distorcendo os dados de consumo real.
Impactos da manutenção dos juros nos EUA sobre o Brasil
Para o Brasil, a manutenção dos juros nos EUA amplia os desafios da política monetária. Com isso, taxas elevadas aumentam a atratividade dos títulos norte-americanos (Treasuries), provocando fuga de capitais de mercados emergentes como o brasileiro. Consequentemente, o reflexo direto é a valorização do dólar frente ao real, o que pressiona a inflação doméstica.
Além disso, com o cenário externo mais restritivo, cresce a expectativa de que o Banco Central do Brasil mantenha a Selic em patamar elevado por mais tempo. Tal movimento trava decisões de investimento e aumenta o custo do crédito para famílias e empresas.
Inflação, emprego e tarifas: dilemas do Fed persistem
O Fed segue dividido entre o risco de afrouxar a política monetária cedo demais e a necessidade de evitar desaceleração futura. Ainda que a inflação esteja levemente controlada, a experiência inflacionária pós-pandemia pesa na memória do Comitê. Dessa forma, com o governo Trump ampliando o déficit fiscal e as pressões trabalhistas permanecendo elevadas, a autoridade monetária opta por prudência.
Para os investidores, a mensagem é clara: cortes de juros só virão com forte desaceleração ou queda robusta da inflação — cenário que, até o momento, ainda está distante.